POR REBECA DIÓGENES: HÁ UM TODO EM PEDAÇOS …

  

   Há pedaços de mim espalhados pelos caminhos que percorri. Alguns ficaram em abraços que nunca mais aconteceram, em palavras que se perderam no vento ou em silêncios que gritaram mais do que eu podia suportar. Há memórias que carrego como cicatrizes, e outras que abandonei porque pesavam demais.

  Hoje, sigo como se inteira fosse. Porque é isso que a vida pede de nós, não é? Um passo de cada vez, um sorriso no rosto, mesmo quando o coração carrega suas próprias faltas. Mas no fundo sei que a inteireza é uma ilusão que criamos para continuar. Porque, na verdade, somos feitos de pedaços – os que ficaram e os que partimos.

   A vida tem dessas coisas: leva algo de nós e, ao mesmo tempo, nos molda. Cada ausência, cada despedida, cada renúncia, constrói um novo eu. Não sou mais a mesma de ontem, e talvez nunca seja quem fui. Mas entre os pedaços que faltam, há também espaço para novos começos, para novos pedaços que, quem sabe, me completem de outra forma.

   E assim, mesmo incompleta, continuo. Porque há beleza em ser imperfeita, em saber que, mesmo com as perdas, sigo tentando. Não porque quero me refazer, mas porque aceito que ser inteira não é sobre ter todos os pedaços, mas sobre aprender a viver com os que ficaram.