Dr. Sebastião Diógenes
A quarentena e alguns assombros
Por: Sebastião Diógenes
Faz nove meses que cumpro quarentena doméstica, acompanhado da mulher. Estamos no lucro! Graças à proteção de Deus, não contraímos a pavorosa doença coronada. O diabo do vírus é reimoso, quanto o sabemos, e muito chegado a uma coroa. Três batidas na madeira, que de flores eu nem gosto!
Concentramos nossos esforços na proteção contra o coronavírus, num isolamento impiedoso e nada sociável. Residimos em um apartamento antigo, mas é bom e seguro. Uma preocupação a menos nesse tempo difícil. Os síndicos têm sido rigorosos no quesito conservação e segurança do pequeno edifício. São cinco andares, três com coberturas, totalizando quinze unidades.
Quando fechei a compra do apartamento, chegou-me um veterano morador para desejar boas vindas. Felicitou-me pela compra, que havia feito um bom negócio. Como quem, sem necessidade, diz alguma coisa só para chocar, ele falou: Você sabia que moram neste edifício um viúvo e quatro viúvas? Respondi que não sabia, e que a informação chegara tarde demais.
Com o passar do tempo, o quadro dos viventes do condomínio se alterou. O viúvo e uma viúva faleceram. Mas, a escrita manteve o seu perverso ofício, pois, duas outras moradoras viuvaram. Confesso que não tenho sobrosso com essas coisas. Todavia, em tempo de pandemia, devemos redobrar os cuidados com o livro da vida.
Estou a escrever, este despretensioso texto, incentivado pela leitura da crônica do confrade Vladimir Távora (Sopro de Luz – Antologia Sobrames - 2020, pag. 336) que narra uma passagem muito interessante. Engraçada, até! Já casado com Ana Edite, certo dia, o cunhado Ary contou-lhe um segredo de família: a Iza, a babá que acompanhou o crescimento de todos os filhos de D. Sarah, certa vez disse para a mamãe que ela receberia todas as filhas de volta. E completou o cunhado mui amigo: Viúvas! Abra do olho... É importante frisar, que na época, havia duas irmãs de Ana Edite viúvas.
Mesmo assim, com esses assombros, continuamos vivendo, cada um a seu modo: o confrade Vladimir, de olho aberto, conforme prescrição do cunhado; eu, de porta fechada, por determinação da infectologia.
Sebastião Diógenes
11-12-2020
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