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Dr. Antero Coelho Neto - Médico e Membro da Sobrames-CE |
QUEM SOU EU? QUE
FIZ EU?
Publicado no Jornal O POVO, 30 de julho 2014.
Temos
comprovado que, grande parte da população brasileira, não guarda e não se
lembra mais, de muitos acontecimentos importantes e até de coisas que
realizaram durante a vida passada, principalmente a mais antiga.
As
dimensões fundamentais da Vida são a Quantidade, Qualidade, Consciência,
Valores, Crenças, Liberdade e Ética. Mas é o Amor que engrandece a Vida e a
Memória que permite que ela seja lembrada para sempre. Esta, nas suas duas
interpretações essenciais: capacidade anatomo-fisiológica de reter as idéias,
nomes, impressões e conhecimentos adquiridos e como lembrança, reminiscência e
recordação.
Nós,
brasileiros, não temos ainda o hábito do cultivo da Memória na guarda e
preservação do passado e na possibilidade de ser usada para não repetir erros,
mudar julgamentos e melhorar as nossas decisões.
Em
muitos países as pessoas desenvolvem a Memória como um elemento fundamental e
inteligente da Vida, numa verdadeira demonstração de que não é suficiente
apenas viver, é necessário que ela tenha valor para ficar na nossa lembrança, dos
familiares, amigos e da população importante para nós.
Sempre tenho dito que aquilo
que não pintamos, escrevemos, cantamos, esculpimos, fotografamos, gravamos,
filmamos, poetizamos, etc., não existiu. Existe no momento e depois passa, é
esquecido. O tempo passou e levou.
Temos comprovado um total
descaso pelo guardar e perpetuar o acontecido. Depois, na velhice, temos a
tristeza de não ter guardado nada ou quase nada. E o que fazer, então? Não
lembramos, muitas vezes, nem o nome dos nossos antepassados próximos. Vocês
podem imaginar como seria a nossa história sem os memorialistas? Agora, com o
uso crescente dos smart-phones, tablets, computadores, internet, e outras
tecnologias de vanguarda, o cenário está mudando. E aí a esperança de que os
jovens também aprendam a valorizar o passado.
A
informática nos possibilita guardar a nossa memória com muito maior facilidade,
como muitos estão fazendo. E aí temos já excepcionais exemplos para todos nós
na perpetuação dos dados e elementos de nossa vida. O Google, Orkut, Face-book,
Linkedin, etc.. constituem os sistemas da internet que nos ajudarão, cada vez
mais, nessa empreitada.
E
o melhor de tudo é o prazer que nos dá, ao rever no computador coisas boas e
queridas passadas de que não lembrava mais pela perda da memória cognitiva na
velhice,
Tenho
já escrito algumas vezes neste Jornal, sobre a memória e a sua grande
importância, mas vários leitores e ouvintes do nosso Programa “Novas
Idades” (agora denominado “Novas Dimensões”) perguntam: Que
fazer? Como fazer para guardá-la?
Desde
1994, ao regressar de 11 anos vivendo no exterior como membro da Organização
Mundial da Saúde e com o conhecimento adquirido, tenho arquivado tudo no que
chamo “Banco da Vida”. Até agora (2014), são cerca de 346 gigabytes
arquivados em HD e DVD’s, com fotos, documentos, vídeos, apresentações
em PowerPoint (aulas, conferências, palestras, projetos de organizações, etc.),
cartas e e-mails importantes, diário de viagens e todos os artigos e livros que
escrevi em todos esses anos. O material antigo, que não estava computadorizado,
foi todo escaneado e arquivado no computador. A minha idéia é atualizar este
material e equipamento técnico, na medida em que o progresso científico for se
transformando. Se, por acaso, não esteja mais aqui, que me ajudem os amigos e
familiares.
Conforta-me
saber que, mesmo que muito disto não seja nunca conhecido do público, as
palavras e os momentos que valeram a pena, estarão arquivados no meu
“Banco da Vida” e será parte do que estou enviando e que deixarei
como “lembrança” para meus familiares, bibliotecas e amigos, como
minha Memória. Se alguém, algum dia, quiser saber...
Guimarães
Rosa disse: “Se eu lembro, tenho”. Nada mais certo. Mas o lembrado,
precisa também ser materialmente preservado.
E
eu pensei, vamos criar o Movimento Nacional do Banco da Vida?
Antero Coelho Neto
Médico e Professor