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quarta-feira, 23 de novembro de 2022

A POBREZA - Por: Dr. Ronald Teles

               Dr. Ronald Teles - Cardiologista

A POBREZA

De quatro em quatro anos, um sentimento uníssono se apodera do coração dos brasileiros. Desde nossos primeiros passos, quando crianças, que começamos a ter entendimento, somos capturados pela magia de uma camisa amarela, que é a única campeã do mundo 5 vezes, a única que participou de todas as copas do mundo, a única que teve em seu time Pelé e Garrincha, inclusive jogando os dois juntos, dois deuses do esporte bretão, que nos apoderamos magistralmente através de virtuoses da bola de pé em pé, suscitando uma paixão, uma magia, uma catarse de sentimentos ,manifestada em cada drible, gol e vitória, e chorada como se fora a perda de um ente querido nas nossas derrotas.

 Sabemos perfeitamente os anos que fomos campeões, ansiamos inebriadamente pelo hexa, e por mais estrelas no peito dos que vestem o manto sagrado amarelo, de nossa seleção brasileira. De quatro em quatro anos nossa vida avança e passa, nossos problemas se avolumam e carpimos nossos destinos que vêm implacavelmente, em resposta ao tempo e o galardão que merecemos e buscamos. Nesse ínterim também vem a Copa do mundo de futebol, essa solene guerra no campo, com cada país exibindo o que de melhor tem na arte do football. 

Nelson Rodrigues, fanático por futebol e cronista ácido desse esporte dizia que através dele nos despíamos do nosso " complexo de vira-latas”, e o Brasil assumia toda sua fortaleza e majestade de grande país, como um grande vencedor que foi e é nesse esporte desde sua criação. A arte da bola em campo e a riqueza e perfeição de nossos atletas, grandes especialistas em cada posição, suplantando todos os rivais passo a passo é a verdadeira catarse de um povo sofrido, que esquece por algumas horas a fome, a miséria, o abandono, a saúde precária, a falta de teto, a falta de qualquer consideração social que os façam cidadão dignos. 

Donos de sorrisos banguelos, desidratados e famintos se postam defronte de televisões contemplado seu circo, pois eles não têm o pão da dignidade. Os romanos ofereciam pão e circo aos seus cidadãos. O pão pelas facilidades, e benefícios distribuídos ao povo romano pelos Césares, que eram " deuses" vivos, e o circo era o espetáculo horrendo, dos cristãos trucidados por feras, crucificados e queimados vivos, além de batalhas de gladiadores finalizadas com a morte autorizada pelo imperador em um aceno final em um banho de sangue, que ensandecia a turba em um frenesi macabro. 

O palco principal dessas atrocidades está de pé em Roma, que é o Coliseu romano. Lá ecoam os gritos e a morte na paz de Cristo, daqueles que tiveram sua vida ceifada brutalmente por serem seguidores do mestre do amor, assim como dizem os evangelhos. Essa sina ainda é presente hoje e muitos ainda são mortos e perseguidos por seres cristãos, mas estes encontrarão a paz eterna ao lado do Pai, conforme a sagrada palavra bíblica. De forma surpreendente o imperador Teodósio, adotou o cristianismo como religião oficial do império romano, pois o grito dos que morreram massacrados nas arenas chegou aos ouvidos de Deus e Ele que tudo sabe, vê e ouve, fez o Espírito Santo converter o coração dos algozes em seguidores da justiça de Cristo. 

Assim veio nossa igreja católica apostólica romana. De novo, os novos gladiadores do século 21 estão nas arenas de um emirado árabe, em uma batalha que passo a passo comoverá a nação brasileira, quiçá com um desfecho glorioso que todos almejamos, que é mais um campeonato do mundo. Esse pensamento, essa atitude, esse campeonato que despende milhões de dólares em caprichos de estádios climatizados, em um copo de cerveja a 70 reais, à construção de uma infra- estrutura que mais matou operários no mundo, pelo calor e insalubridade, que trabalham, por esses mesmos 70 reais a diária. 

Deveriam ser pensados e repensados. Será justo morrer de fome e sede!? Ser jogado na sarjeta invisível aos olhos daqueles que passam apressados em seus carros importados, rumo ao trabalho, já havendo tomado um bom café matinal? A negação aos que pedem é um ato de muitas repercussões; eles nas ruas, nas favelas, becos, aterros sanitários, em suas condições sub humanas, pedem socorro e são ignorados pela sociedade Esse 1% detêm todas as riquezas e as concentram, não importando os outros, pois seus maiores horizontes são seus próprios umbigos, são narcisistas e egocêntricos por natureza, suas fortunas são para ostentação, baluartes que alimentam suas almas mundanas, materialistas e mesquinhas. Só há um detalhe: Esse desprezo está se transformando em violência, e o que não é oferecido pelos mais ricos e pelo estado, está se travestindo de assaltos, sequestros, latrocínios, homicídios e delinquências mil. 

Vivemos uma convulsão social banhada de sangue e violência e há uma demência geral que faz indivíduo interrogar o que está acontecendo...? Está acontecendo uma concentração de renda estúpida e falência do poder público em alcançar aos cidadãos em seus anseios mais legítimos e dignos. Nosso Brasil é imenso e rico, assim como o são o continente africano, o asiático, o americano do norte e a velha Europa. No entanto a solidariedade e a justiça social não são infelizmente novos paradigmas para nenhum deles. Em todos os citados encontramos os seres humanos como se fossem de outra raça. 

No nosso gigante adormecido dispensamos comentários, na África subsaariana, falta da água, às vestes e comida, não há vacinas, e as novas variantes virais se albergam por lá em combinações explosivas, no continente asiático o desastre populacional desmonta qualquer política de bem estar aos cidadãos e a fome campeia, assim como uma economia escravagista, na América do Norte não existe saúde pública, e com toda a pompa e fleuma de " grande," os pobres morrem congelados em Manhattan e as " favelas" americanas se aglomeram em grandes centros como Detroit,  e outras cidades famosas como " comunidades desassistidas " e alternativas. 

Na Europa o fenômeno se repete, mas pelo menos no Reino Unido existe um sistema público de saúde, mas lá também a fome, o frio e a falta de teto vitimizam muitos. O Evangelho de Cristo Jesus diz que: " Não há um só justo entre nós " Mas também prega que o amor ao próximo é nossa cura, libertação e restauração. Devemos rever todas as estruturas vigentes, políticas, sociais, culturais, religiosas, no sentido da justiça e do bem comum. 

Não existe possibilidade de pacificação social com uma desigualdade avassaladora que ora vivemos e que se agravará se nada for feito. Isso passa pelos governos em todas as suas instâncias, mas também deve suscitar comoção aos ricos. Esses ricos e muito ricos, podem dispor de uma pequena parte de suas fortunas para promover o bem social. Será que o acúmulo de riqueza por si só, não configura uma estúpida e atávica mesquinhez? Essa pequena, mas plural contribuição em todo nosso país orquestrada como um amplo movimento, entrelaçada aos governos nos mais variados programas, iriam tornar nossa imensa e desigual nação, mais justa, mais alegre, mais segura, menos violenta. 

E assim então cada conquista de nossos cidadãos seria uma grande vitória, e não precisaríamos esperar a cada quatro anos para gozarmos de uma felicidade efêmera de um campeonato mundial, pois as vitórias em Cristo seriam diárias e nossas expectativas alicerçadas no rochedo, e não no solo arenoso e pantanoso de promessas vãs, feitas em de quando em quando, calcadas em frases de efeito e consciências sórdidas, que só buscam a perpetuação da dominação de nosso povo sem nunca oferecer-lhes o real e digno sentido de suas vidas.

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