Tragédia Urbana
Publicado em 04/03/16, no jornal O POVO.
De
acordo com estatística do Detran-CE, datada de dezembro de 2015, há no
Estado 1.226.722 motos, com predomínio do Interior. A frota cearense é a
terceira maior do País e a primeira do Nordeste. O relativo baixo
custo, as facilidades oferecidas para aquisição, a agilidade de
deslocamento, a utilização para fins profissionais além do lazer, a
insuficiência e inadequação de transporte público, a substituição de
veículos de tração animal por motorizados estão entre os motivos que
propiciaram o crescimento do número de motocicletas circulantes e, como
consequência, um expressivo aumento no número de vítimas no trânsito.
Este
lamentável fato não é decorrente apenas da maior vulnerabilidade do
motociclista ao contexto do trânsito, onde se observam o desrespeito, a
falta de educação e gentileza, a demonstração de poder, o desprezo à
direção defensiva etc. por parte dos motoristas. A negligência de
motociclistas às normas básicas de segurança, arriscando-se em manobras
bruscas, é nítida. Fazem ultrapassagens indevidas, circulam pelas
ciclofaixas, não obedecem aos sinais de trânsito, andam na contramão,
dirigem sob efeito de substâncias psicoativas…
Um
profundo desprezo à própria vida e às alheias. Sobretudo no Interior,
não é incomum vermos condutores sem capacete ou portando-o de forma
inadequada (solto na cabeça ou preso ao cotovelo), sandálias soltas nos
pés, dois ou mais passageiros na garupa. Muitos sequer possuem carteira
de habilitação.
De
janeiro a agosto de 2015, contabilizaram-se 1.674 vítimas fatais no
trânsito do Ceará. Dentre essas, 742 eram motociclistas (44,32%). Entre
as 7.737 vítimas não fatais, 4.366 eram motociclistas (56,43%). As
vítimas de acidentes com motos ocupam cerca de 70% dos leitos do
Instituto Dr. José Frota (IJF). Uma tragédia urbana, com vultosos
prejuízos pessoais, familiares e sociais, devendo ser encarada como mais
uma importante questão de saúde pública.
É
urgente dar-se um basta a esta realidade por meio de políticas públicas
sérias, voltadas à prevenção, educação, fiscalização e repressão.
Celina Côrte Pinheiro
Nenhum comentário:
Postar um comentário