Dr. Marcelo Gurgel - Médico e Membro da Sobrames-CE |
SOMOS OS PEQUENOS DA CRUZADA
Em 1914, por ocasião do Congresso Eucarístico
de Lourdes, na França, germinou a proposta da Cruzada Eucarística Internacional
para responder às aspirações do Papa Pio X (papado de 1903-1914) de estimular a
prática da comunhão nas crianças. O Papa Bento XV, sucessor de Pio X, na
cadeira de S. Pedro, criou, em 1916, a “Cruzada
Eucarística das Crianças” ou “Cruzada
Eucarística Infantil”.
Depois da I Grande Guerra, a “Cruzada Eucarística Infantil” disseminou-se
pelos países, inclusive o Brasil, aqui chegando na década de vinte do século XX.
Em torno de 1933, a Cruzada Eucarística acumulava quase três milhões de
associados, internacionalmente. Em 1968, durante o papado de Paulo VI, mas sob
a inspiração de João XXIII, papa de 1958-1963, a Cruzada ganhou a denominação de
Movimento Eucarístico Jovem - MEJ.
A Cruzada Eucarística Infantil começou na
Igreja Nossa Senhora das Dores, no bairro Otávio Bonfim, em Fortaleza-CE, nos
anos trinta, pouco tempo após a consagração dessa igreja, em 13 de junho de 1930.
Popularmente conhecida por “A Cruzadinha”, ela juntava meninos e meninas, entre
sete e doze anos de idade, com a intenção de acompanhar a formação dessas crianças
na vida cristã, no lar e na comunidade. Era organizada pelas catequistas, sob a
orientação de um frade franciscano, e contava com o suporte dos pais.
As crianças da Cruzada Infantil, quando ainda em
preparação para fazer a Primeira Comunhão, pertenciam à categoria de aspirantes,
que se distinguiam por usar uma pequena fita amarela com uma cruz azul anil ao
centro, presa na camisa por um broche, no lado esquerdo do peito, ao nível do
bolso. Após a Primeira Eucaristia, na Igreja Nossa Senhora das Dores, os neo-comungantes
transferiam-se para a categoria de perseverantes, integrantes da chamada Cruzada
Juvenil, notabilizados pela exibição de uma faixa, de um amarelo
bem vivo, que era disposta diagonalmente
no tórax, partindo do ombro esquerdo e seguindo até o quadril
direito, tendo, na face anterior, a mesma cruz azul, e concluindo por duas listras de fita azul, na junção das
pernas da faixa. Os membros de “A Cruzadinha”, com os seus garbosos símbolos,
participavam das missas e das procissões, e cantavam, com muito fervor, o Hino da
Cruzada Eucarística Infantil.
Integrei “A Cruzadinha” na Igreja Nossa
Senhora das Dores, como aspirante, de 1961, época em que iniciei a preparação à
Primeira Comunhão, ocorrida em 8 de dezembro desse ano, até 1963 ou 1964,
quando, infelizmente, da mesma forma que sucedeu em tantas paróquias,
essa harmoniosa prática religiosa, de grande resultado social e comunitário, findou
em meados dos anos sessenta.
Todavia, o fim desse movimento, como organização sócio-religiosa, foi em
parte substituído pelos grupos de jovens. Esses se reuniam no Salão Santo
Antônio, aos sábados pela manhã, quando, por volta das 8 horas, começavam por
sessão devotada a orações, preleções bíblicas e histórias sacras. Às 10 horas,
estávamos liberados para as atividades sócio-recreativas, programadas pelos
frades, que incluíam jogos de mesa: damas, xadrez, dominó, ping-pong etc., e mais
os jogos de futebol de salão e de areia, respectivamente, na quadra esportiva e
no campo do convento.
Eventualmente, éramos brindados com uma sessão de cinema no Cine
Familiar, de propriedade da Ordem dos Frades Menores, sendo, então, projetados
filmes. de censura livre, sem qualquer restrição etária; eram principalmente
comédias do tipo “O Gordo e o Magro”, “Os Três Patetas” e as encenadas por
Jerry Lewis; por vezes, em certas datas celebrativas, também eram exibidos
filmes de caráter religioso.
O Hino da Cruzada Eucarística Infantil, mais reconhecido por seus versos iniciais:
“Somos os Pequenos da Cruzada”, nos últimos tempos, acabou por me trazer à tona,
boas lembranças de uma meninice cada vez mais distante.
No ano pretérito (2008), depois de uma infrutífera busca na Internet, fiz um esforço mental para
reconstruir a letra desse hino, conseguindo, salvo por algumas lacunas,
recompor a maior parte de seus versos. Algumas semanas após a dita anamnese, ao
mexer em meus velhos alfarrábios, deparei-me com um rascunho, de meu próprio
punho, com a letra do hino feito por mim, em momento de inspiração saudosista,
quando eu era acadêmico de Medicina, nos idos dos anos setenta. Na seqüência,
persegui contatando pessoas que pudessem lembrar, com exatidão, da letra, tendo
encontrado uma ex-catequista de Limoeiro do Norte, que o conhecia inteiramente.
Ao meu pleito, fi-la a cantar e pus-me, então, a copiar cada verso e o levei
para cotejar com a minha versão já digitada, tendo identificado que eu havia
cometido dois pequenos erros.
O Hino da “Cruzadinha”, de autoria ignorada por nós, era composto de apenas duas
estrofes, de quatro versos cada, com rimas simples, do tipo “abab”, seguidas de
um estribilho de nove pequenos versos, entoados sempre de forma vibrante pelos
“cruzadinhas”.
A simplicidade da
letra e a familiaridade melódica, fruto de um compositor também por nós desconhecido,
conferiam enorme facilidade para aprender a cantá-lo. A letra do hino é
mostrada a seguir:
“Somos os pequenos da Cruzada / Eterna esperança do Senhor / Somos nós a
geração formada / Na escola do Cristo Deus de Amor.
A Cruzada Infantil / Vem trazer ao Brasil / Um vigor novo e forte / Dos
pampas ao norte, / Dos campos às serranias, / Das praias ao sertão, / Nós
havemos de ouvir / O Brasil repetir / O seu nome cristão. (estribilho)
Nossa Cruzada de crianças / Vai conquistar nova energia / Nessa fonte
eterna de esperança / Que é Cristo Jesus na Eucaristia.
A Cruzada Infantil .... (estribilho)”
O Hino da Cruzada Eucarística Infantil, aqui exposto, com certeza, irá trazer incontidas
recordações a tantos quantos vivenciaram, em nossas paróquias, um tempo de
delicadeza e de afeto, justo quando o “ser” era bem mais importante que o “ter”.
Quiçá, ele será capaz de despertar, em alguns, a vontade de cantarolar novamente
o “Somos os Pequenos da Cruzada”, revivendo momentos de juvenil
felicidade.
Marcelo Gurgel Carlos
da Silva
Médico e economista em
Fortaleza
Para nós, Católicos Apostólicos Romanos, artigos como este do colega Marcelo Gurgel representam um tônico reestimulante para encontrar o caminho da fé purista, singela, honesta e sincera. Neste mundo conturbado onde se mata em nome de Deus, onde se perdeu totalmente o valor à vida e apenas o materialismo, o desprezo aos valores intelectuais, a ausência de humanismo, o desrespeito aos valores morais e a incredulidade na esperança do porvir vigem neste caldeirão de sentimentos e escalas de valor. Que outros bons cristãos imbuídos dos princípios que norteiam os ex-alunos maristas, salesianos, beneditinos e redentoristas, venham a, continuamente, contribuir com artigos neste naipe para a glória do Senhor. Meus cumprimentos ao colega Dr. Marcelo Gurgel, da Sobrames-CE.
ResponderExcluirWILLIAM MOFFITT HARRIS, sobramista "cearense de Campinas-SP"
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirQue lembrança maravilhosa!
ResponderExcluirFui presidente da “Cruzadinha Infantil” há pelo menos uns cinquenta e poucos anos atrás…
Bela recordação !!!
Amei tudo isso!! Eu fiz parte da cruzada eucarística aqui na minha cidade de São José dos Campos, SP, e eu adorava. Nós recebíamos a fitinha igual um broche para colocar na blusa branca, e mudava a cor a cada ano. A 1a era branca com simbolo verde, a 2a branca com simbolo azul e a 3a branca com simbolo vermelho. Ainda sei um pouco do hino que cantávamos nas reuniões de domingo, mas não me lembrava dele todo. Parabéns por reavivar essa memória tão linda dos meus tempos de infância.
ResponderExcluirMeu Deus enquanto assistia a rede vida tentei descobrir algo sobre a cruzadinha que fiz parte na minha infância , meu tio era o presidente eu e minhas duas irmãs participamos,
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