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sexta-feira, 18 de abril de 2014

POR: SEBASTIÃO DIÓGENES - CAUSO DE CONSULTÓRIO - 3



 
Dr. Sebastião Diógenes - Médico e Tesoureiro da Sobrames-CE
Causo de consultório – 3

                O menino contava dez anos de idade e sofria de atopia. Apresentava, na ocasião da consulta, inflamação e fissuras profundas no sulco retroauricular de cada orelha. Enquanto examinava-o, a mãe falava mal do Dr. Mesquita, meu amigo e com quem dividia o consultório na Clínica Dr. Batista de Queiroz (na época eu atendia aos sábados em Quixadá). A mãe falava, eu só escutava. Que o Dr. Mesquita não sabia de nada, que a pomada que ele passou era o mesmo que água do pote. Eu só escutava e vasculhava o cérebro à procura de uma boa tese para defender o nobre colega. Um médico notável, sobretudo, humano e de excelente formação profissional: cirurgião geral, clínico geral, obstetra e pediatra. E a mãe não parava de falar. Que em Quixadá não tinha médico que prestasse, os doentes precisavam passar uma semana esperando um otorrino para consulta e outros queixumes mais. Então, ocorreu-me o assunto infalível para punir pelo colega, enquanto pensava as feridas do menino.
            - Mãe, a senhora tem quantos filhos?
            - Quatro. – Respondeu a mãe, acrescentando que o pequeno paciente era o mais velho deles.
            - Onde eles nasceram?
            - Na maternidade do padre Luís.
            - A senhora lembra quem fez os partos?
            - Claro! Foi o Dr. Mesquita. Ele fez os quatro partos. O último foi cesáreo, a criança estava sentada. – Informou a mãe, com a fala mais branda, como que desconfiada com a falta de freio da própria língua.
Após esse diálogo a mãe permaneceu calada, pensativa. Voltamos à anamnese.
            - Mãe, qual a pomada que o filho está usando?
            - Esta aqui. – E entregou-me o tubo da pomada vazio. Olhei-o, consultei a composição do medicamento e comentei:
            - Pois, graças a esta pomada que o Dr. Mesquita passou as orelhas dele não caíram.
            - Valha-me Deus! – Exclamou a pobre mãe com visível expressão de aflição estampada na cara. E continuou. – Eu falo assim do Dr. Mesquita só por falar, não é por maldade. Ele é um santo! Ô doutor de mão boa! Abaixo de Deus, aqui em Quixadá, só o Dr. Mesquita!
            Claro que logo depois tranquilizei a angustiada senhora, que os pavilhões auriculares do filho jamais correram risco de cair.
            - Por favor, não conte nada pro Dr. Mesquita. Ele pode ficar zangado.  - Suplicou-me a mãe, visivelmente preocupada.
            - Fica nada! Pode ficar sossegada. – Dei como resposta.
 O melhor dessa história, à feição de um prêmio que não poderia perder, foi uma sonora gargalhada do Dr. Mesquita quando lhe contei o presente causo. Lá se vão 38 anos!
            Sebastião Diógenes.
            Em 13-04-2014.

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