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domingo, 30 de março de 2014

POR: CELINA CÔRTE PINHEIRO - CONVIVÊNCIA NO TRÂNSITO

Dra. Celina Côrte - Presidente da SOBRAMES-CE

 

Convivência no trânsito

Publicado no DN
23.03.2014

Andando-se a pé, mesmo em horário de pouco movimento no trânsito, observam-se infrações que identificam a falta de educação e o desprezo dos guiadores pela segurança dos pedestres.
Na travessia da rua, apesar do sinal verde para pedestres, quase fui colhida por um ciclista que trafegava na contramão na ciclovia.
Pouco antes, eu atravessara na faixa de pedestres desviando-me de uma motocicleta e um automóvel que ali se postavam de modo inadequado.
Demonstração cabal de comportamento ansioso e desrespeitoso!
Nas esquinas, motoristas afoitos dobram a esquina em alta velocidade, sem se dar conta de que um pedestre pode, naquele momento, estar atravessando a rua. Total indiferença aos princípios da direção defensiva. Os pedestres que se cuidem e sejam bastante ágeis para se defenderem de atropelamento.
O motorista nem notou quando optei prudentemente por interromper a travessia, já no meio da rua, para que ele pudesse passar. Se eu insistisse, seria fatalmente atropelada ou, no mínimo, xingada por não ter respeitado a autoridade do automóvel. Estes fatos, observados em alguns minutos de caminhada, denotam a insegurança dos pedestres nas ruas de Fortaleza.
Reconheço que alguns destes sequer sabem se portar diante da sinalização de trânsito. Acreditam que esta deva ser obedecida apenas pelos motorizados. Não é assim!
Os sinais de trânsito foram criados para regulamentar a movimentação de todos que se encontram nas ruas, motorizados ou não, de modo a assegurar uma saudável convivência. A questão do trânsito não permite exceções.
Todos têm responsabilidades. Contudo, nesta relação entre os diferentes personagens nas ruas, o pedestre é, sem dúvida, o mais vulnerável, devendo ser priorizado.
Infelizmente, ainda vige o sentimento de que o direito pessoal é soberano. Enquanto as pessoas não se dispuserem a respeitar os demais e a contribuir na redução da violência no trânsito, este será, a cada dia, mais agressivo.
O nível de conscientização de cada um tem ritmo próprio, todavia a educação continuada da população, no que se refere à mobilidade urbana, é imperativa, assim como a evolução dos meios de controle e punição dos faltosos.
Celina Côrte Pinheiro

quarta-feira, 26 de março de 2014

REUNIÃO DA ACADEMIA CEARENSE DE MEDICINA - PALESTRA DR. RONALDO MONT'ALVERNE


Hoje, 26 de março de 2014, às 15h30min, no Auditório  de Pró-Reitoria de Extensão da UFC, em Fortaleza-CE, aconteceu a palestra do acadêmico  Ronaldo Mont'Alverne cujo o tema foi: UNIDADES CORONARIANAS. Parabéns ao Dr. Ronaldo que nos encantou com sua maneira singular de transmitir seus amplos conhecimentos.


















segunda-feira, 24 de março de 2014

segunda-feira, 17 de março de 2014

POR: EDGARD STEFFEN - NÃO JOGUE A CRIANÇA FORA

Dr. Edgard Steffen

Não jogue a criança fora...

No Brasil, somos perdulários. Tomamos um ou mais banhos por dia. Cabral já notara que os primitivos habitantes de Pindorama banhavam-se muitas vezes nas águas dos rios e lagoas

"Don"t throw the baby out with the bath water"
(Não jogue fora o bebê junto com a água do banho)

* Edgard Steffen
A expressão idiomática inglesa serve para alertar apressadinhos: ações precipitadas podem resultar em besteira. Teria nascido com o costume medieval dos banhos familiares tomados em única tina. Ao chefe da família, o privilégio de ser o primeiro entrar na água quente. Depois, na mesma água, vinham os homens da casa, por ordem de idade; a seguir, também por ordem cronológica, as mulheres; por último, as crianças. A esta altura, a água estaria tão suja que se poderia "perder" um bebê dentro da tina.

Em alguns países da Europa, costume semelhante persiste até nossos dias. Jovem sorocabana foi para a Alemanha em programa de intercâmbio cultural. Na tarde em chegou ao lar hospedeiro, ofereceram-lhe banheira cheia de água tépida. Para combater o cansaço, consequente à longa viagem, tomou banho prolongado; como de hábito, retirou o tampão e esgotou a água. Ao sair sentiu certo ar de desaprovação; atribuiu as caras feias ao fato de haver demorado no banho. Somente entendeu o porquê no dia seguinte, quando o chefe da família iniciou a fila do banho, seguido pela esposa, pela filha; por último, sem esgotar a água, a banheira foi liberada para a hóspede..

No Brasil, somos perdulários. Tomamos um ou mais banhos por dia. Cabral já notara que os primitivos habitantes de Pindorama banhavam-se muitas vezes nas águas dos rios e lagoas. Cabral pode ter descoberto, mas, quem inventou o Brasil foi D. João VI. A ele devemos nossa identidade e existência como nação continental, sem a fragmentação da América Espanhola. Elevou-nos à condição de Reino (unido a Portugal e Algarves). Com a corte, trouxe artistas e naturalistas, criou o Banco do Brasil, a Imprensa Nacional, a Escola de Medicina, a Escola de Belas Artes, o Jardim Botânico e assinou o Alvará de Emancipação Industrial (antes desse documento, qualquer indústria era proibida na Colônia) e outras tantas coisas que a História registra. O que a História não registra é algum banho tomado pelo monarca, em toda sua estadia abaixo da linha do Equador. Consta que, em toda vida, nunca tomou um banho sequer de corpo inteiro.

No fim do século XIX e primeira metade do XX, com a imigração europeia, alguns hábitos dos países frios foram importados e absorvidos pela comunidade local. Quem veio para cá, substituir a mão de obra escrava ou fugir do desemprego europeu, era gente pobre oriunda de locais pouco favorecidos por saneamento e habitação. Essa deve ter sido a origem do banho semanal que vigorou até o fim dos anos 30. Sábado era dia de limpeza geral do corpo. Nos outros dias da semana, lavava-se o rosto pela manhã, e os pés antes de ir para a cama. Velho sanitarista estudou em badalado colégio interno privilégio dos ricos nos idos de 1923 a 27. No internato, o banho semanal era às quartas-feiras, às 6h30 da manhã, antes da missa obrigatória. A capital de São Paulo ainda era gélida e úmida terra da garoa. Não havia aquecimento central nem chuveiro elétrico. O banho era com água gelada. Alguns discípulos de "dãojoãovi" molhavam apenas os pés, os cabelos e saiam dos boxes enxugando-se para enganar os padres vigilantes.

Nas cortes europeias, no pós Idade Média, a higiene também não era lá essas coisas. O suntuoso Palácio de Versalhes com seus magníficos jardins, salões e salas não possuía coisa parecida com o que hoje chamamos toalete ou banheiro. Os dejetos, quando não depositados nos jardins, eram colhidos em vasos ou tinas e lançados em superfície nos arredores. As saias rodadas e sobrepostas das nobres damas não eram somente exigências da moda. Serviam para bloquear os odores das partes íntimas. A maioria dos casamentos era realizada em junho (início do verão) talvez para aproveitar o alívio proporcionado pelo primeiro banho do ano, tomado no mês de maio. O buquê das noivas teria nascido para disfarçar o odor.
Sempre pensei que lacaios abanando nobres, tal como se vê em filmes, fossem usados para espantar insetos. A razão maior da abanação era dissipar exalações de corpos que viam água muito de vez em quando.

* Edgard Steffen é médico pediatra e escreve semanalmente aos sábados neste espaço - edgard.steffen@gmail.com
Notícia publicada na edição de 28/09/13 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 2 do caderno A - o conteúdo da edição impressa na internet é atualizado diariamente após as 12h.

POR EDGARD STEFFEN - SUA MAJESTADE O SABIÁ



Dr. Edgar Steffen

Sua Majestade o Sabiá

É pássaro que canta a primavera, o amor e as coisas boas da vida. O canto dos sabiás costuma ocorrer durante a madrugada e antes do anoitecer

Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá
As aves que aqui gorjeiam
Não gorjeiam como lá.
(Canção do Exílio - Gonçalves Dias)

- Edgard Steffen
Em meio às notícias da semana, uma despertou minha atenção. Cidadãos protestam contra o canto dos sabiás nas madrugadas paulistas. Parece incrível que gente acostumada ao rumor do trânsito, ao ensurdecedor barulho dos bate-estacas e, talvez, aos decibéis dos festivais de rock e/ou música eletrônica, consiga perder o sono com o gorjeio de flauta da ave símbolo do Brasil. Outra estranheza esta alvissareira saber da existência de sabiás-laranjeira na selva de pedra que é São Paulo. Roubaram-lhes a mata, mas eles aprenderam a sobreviver no pouco verde que restou.

Sabiás eram comuns nos sítios e quintais onde brinquei. Também em locais onde fui pescar. No arvoredo em torno do rancho de pesca do Coxim (MS) foram contados 40 casais da espécie. Gostoso ouvir o canto majestático longe da sinfonia dos pardais da cidade grande. Resolvi dar uma espiada no mestre Von Ihering (Dicionário dos Animais do Brasil). Existiriam 14 espécies brasileiras, a maioria pertencente ao gênero Turdus. O laranjeira ou sabiá-piranga Turdus rufiventris é nosso melhor cantor e se caracteriza pela plumagem vermelho-ferrugem no peito e barriga.

Adoro os versos de Chico para música de Jobim: "Vou voltar / sei que ainda vou voltar (...) Ouvir cantar uma sabiá...". Se você pensou que Chico Buarque e Tom Jobim erraram ao chamá-lo "uma sabiá", saiba que, em vários estados do nordeste, o povo o conhece pelo feminino. Vou para a internet e vejo que nosso passarinho herói foi nomeado ave símbolo do Brasil no Governo FHC e fará parte da simbologia na Copa das Confederações de 2014. É pássaro que canta a primavera, o amor e as coisas boas da vida. O canto dos sabiás costuma ocorrer durante a madrugada e antes do anoitecer. Demarca território, atrai fêmeas e ajuda a fêmea-companheira a preparar a prole para a vida. Canta também para ensinar seus filhotes machos.

Consulto a coletânea de música brasileira coligida por meu amigo Moreira Filho* e encontro quatro delas que se referem ao nosso pássaro. Sabiá (Sinhô), Sabiá na gaiola (Hervê Cordovil), Sabiá laranjeira (Max Bulhões) e Sua Majestade, o Sabiá (Roberta Miranda). Deve existir mais. A minha preferida continua sendo a de Chico Buarque e Tom Jobim que venceu a favorita "Prá não dizer que não falei de flores" (FIC, 1968). Por falar na "Caminhando e cantando.." dos protestos contra os anos de chumbo, comparo: O trabalho "Durma com um barulho desse"** , muito bem feito e ilustrado, ocupa quase a página inteira do jornal. Bem diferente de outro que, no mesmo periódico, ficou num cantinho.

Pode ter passado despercebido por muita gente. Depoimento de torturado, revela que, nos porões da ditadura, tocavam músicas de Roberto Carlos bem alto para que vizinhos não ouvissem os gritos dos torturados.Também no Chile de Pinochet usavam discos de Roberto e de Julio Iglesias para o mesmo fim.

Algum alienado, que goste de ouvir música em altos decibéis, fazendo carro e vizinhos estremecerem com o volume de sua potente máquina de som, pode até pensar que tortura maior seria ouvir o Rei RC e Iglesias. Que o trinado de nosso pássaro-cantor não perturbe o sono de seus tímpanos endurecidos.

(*) Silva F°, A. M. da As canções que nós gostamos de cantar Edição própria, 2003
(**) Oliveira, R.- FSP 16/09/2013 pag. C4

- Edgard Steffen é médico pediatra e escreve semanalmente, aos sábados, neste espaço - e-mail: edgard.steffen@gmail.com
Notícia publicada na edição de 21/09/13 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 2 do caderno A - o conteúdo da edição impressa na internet é atualizado diariamente após as 12h.

sábado, 15 de março de 2014

POR: SEBASTIÃO DIÓGENES - SALVO PELA CEARAMOR



 
Dr. Sebastião Diógenes - Médico e Tesoureiro da Sobrames-CE
                                 

                                   Salvo pela Cearamor

            Os dois amigos não se viam havia alguns tempos. Encontraram-se, casualmente, na livraria. São bibliófilos. Chagas estava acompanhado da esposa, uma bonita mulher do segundo casamento. Apresentou-a ao amigo Ferraz.
            - Há quanto tempo não o vejo nos jogos do Vozão! – lamentou Ferraz.
            A mulher de Chagas não escondeu a surpresa, encarou o marido com um olhar inquiridor e ameaçador. Imediatamente, Ferraz percebeu a mancada que cometera e se antecipou:
            - Talvez porque, ultimamente, só tenha assistido aos jogos atrás do gol, no meio da Cearamor  – procurou, Ferraz,  justificar o desencontro nos estádios.
            - Você é um doido, Ferraz! – completou Chagas, aliviado. – No meio de torcida organizada, realmente, você não vai me ver nunca!
            As faces da mulher de Chagas abrandaram-se. Matrimônio sem falta, claro está! O marido daquele jeito, de bermuda, com a camisa do Ceará e o radinho de pilha ligado na verdinha, ora, ora, só poderia ser ocasião de futebol. Uma glória, essa invenção dos ingleses! Esse Ferraz só pode ser doido mesmo!
Sebastião Diógenes.
15/03/2014.