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segunda-feira, 24 de junho de 2013

POR: JOSUÉ DE CASTRO - O ESTRESSE FAMILIAR

 
Dr. Josué de Castro - Médico e Membro da SOBRAMES-CE

O ESTRESSE FAMILIAR  

 Publicado no Jornal DN, em 23 de junho de 2013.
 
Célula mater, embasada nos princípios biológicos do gregarismo humano, da afetividade e da fraternidade, o Cristianismo consagra a família com suas sublimes

e fecundas vivências. A família é secular e universalmente distinta na sociedade, constituindo base emocional na formação da personalidade com o relacionamento psicodinâmico que se desenvolve entre pais e filhos. É um relacionamento complexo com sentimentos, tensões e conflitos, liberdade, dependência e liderança.

As razões do desalento são várias. Emocionais, econômicas, sociais, culturais e políticas, entre outras estresse conjugal. Quando as famílias estão constituídas regularmente com avós, pais, filhos e irmãos a assistência às crises conjugais torna a união mais sólida. Além disso, a religião exerce um papel importante na união familiar. Atualmente, lideres religiosos são procurados com frequência para aconselhamentos.

A crise familiar determina importantes repercussões na saúde das pessoas. No curso do conflito os membros da família são protagonistas desenvolvendo um variável estado de ansiedade refletindo na educação, no trabalho e na vida social. O desenlace gera um clima psicológico insuportável. Rompido o ciclo da educação pela ausência do pai ou da mãe, a criança ou o jovem fica desnorteado. Se auto-defende expressando um amadurecimento falso na solução dos seus problemas. Atitudes fictícias exibindo conhecimentos não apropriados. Com desordenação emocional. A palavra inglesa stress é empregada em física para designar a soma de forças utilizadas para quebrar uma resistência. Em Medicina o termo foi utilizado pelo médico austríaco Hans Selye como uma reação de adaptação do organismo mediante estímulos diversos como emoções, fadiga, frio e calor.

Os desvios do comportamento com a implementação pela drogas tornam-se incontroláveis, inclusive na área sexual. E angústia da solidão conduzindo ao estado de estresse, e em algumas oportunidades, ao suicídio. Violência, crimes, desvios e experiências sexuais impróprias. Nunca foi tão elevado o índice de morte entre os jovens. Orientamos aos pais observarem nos adolescentes queda brusca no rendimento escolar, comportamento anti-social levando o jovem a isolar-se intensamente. Amigos de procedência duvidosa e hábitos contraditórios aos da família. Sintomas clínicos: tonteiras e vertigens, alegria pueril, crises de choro, abstração e hipomnésia. A liberação das drogas ilícitas seria uma catástrofe com aumento incontrolável da drogadição. Qualquer comprovação, ou mesmo suspeita, do uso da droga pelo filho, os pais deverão agir firmemente, não se deixando envolver por conceitos, os quais subestimam a gravidade do problema.

Em princípio, todo o caso de dependência é extremamente grave, deve-se procurar um especialista experiente e capacitado para orientar e tratar, assim que apareça o sintoma da droga. A equipe clinica deverá ser constituída por psiquiatra, psicólogo e assistente social. Os países adiantados estão desenvolvendo a ideologia com Ministério da juventude em consonância com a família, agilizando uma educação saudável com a correção de distorções do comportamento e das emoções. A família é o cérebro de um povo, regendo seu desenvolvimento e consolidando a estabilidade das conquistas.

As ações do homem devem ser preparadas e encenadas na família, aspirando e desenhando o seu próprio futuro. Reunindo experiências, conhecimentos, afetividade, equilíbrio e felicidade. A família é o caminho da pátria e a luz de Deus quando sagrada. O economista britânico Garry Becker, prêmio Nobel, exalta o valor da família no capital humano com significativa importância no produto interno de uma nação. Devemos primeiro investir na família. Para educar preventivamente na infância e na adolescência modulando uma geração saudável, futuros líderes nas diversas áreas do conhecimento humano. No processo educativo se encontram as maiores falhas. Antes repressão, hoje permissão. Nada disso resolve. Na educação entre o conservadorismo e o modernismo, ficaremos com o primeiro por sua tradição e bases mais inexpugnáveis. Educação, saúde e disciplina. A Violência Urbana se inicia na família, atinge a Escola e se deflagra na comunidade. Estresse familiar, omissão na educação, estresse social com drogas, violência urbana e criminalidade.

Josué de Castro
doutor e professor de Psiquiatria

POR: CELINA CÔRTE - UMA REFLEXÃO

 
Dra. Celina Côrte - Médica e Presidente da SOBRAMES-CE


UMA REFLEXÃO  

Violência passou de um termo ocasional, utilizado no passado, para algo que exprime com clareza o momento que vivemos em nosso País. Pipocam pelo Brasil diversos movimentos pela paz.

Recentemente, vimos milhares de pessoas nas ruas desta cidade clamando por segurança, através do Fortaleza Apavorada.

Infelizmente, medidas preventivas não foram suficientes ou adequadas, de modo a evitar que a população se sentisse acuada. Como resultado, a violência urbana tomou dimensões tão expressivas a ponto de gerar um movimento que choca pelo próprio nome, que não fala em medo, mas em pavor, uma palavra cuja sonoridade invoca situações vividas em pesadelos.

O movimento é legítimo e todos nós somos sensíveis a ele. Antes, a violência era pouco percebida nas áreas mais nobres da cidade. Mantinha-se presa nos guetos, onde chegava a ser banalizada, por fazer parte do cotidiano de pessoas que viviam em condição sub humana.

Agora, invadiu todas as áreas e passou a incomodar. Daí o grito estupefato diante de uma realidade que nos apavora.

Segurança pública, porém, não se faz apenas com polícia e isto deve estar claro na pauta de reivindicações e na mente das pessoas. A criminalidade que se vê não é o vetor, mas a resultante de pequenos focos de violência acumulada pela falta de políticas públicas sérias e consistentes que proporcionem vida com qualidade.
O saneamento básico, a educação, a saúde e o lazer são peças fundamentais na valorização das pessoas e na aquisição do nobre sentimento de pertença. Por outro lado, a falta desta valorização do ser humano e o sentimento de impunidade facilitam a disseminação do mal.

Movimentos exteriorizados são fundamentais nas mudanças sociais, contudo, o movimento interior, no sentido de percebermos nosso próprio eu e as violências cometidas em nosso cotidiano, também o é.

O ser violento não sai apenas dos guetos, das prisões, dos centros pouco desenvolvidos socialmente. Vive junto conosco nas ruas, no trânsito, no trabalho, na família...

Atentemos a isso e percebamos que o controle desta violência não cabe ao governo.

Está dentro de nós!

POR: VICENTE ALENCAR - ROSA DE CORDISBURGO

 
Vicente Alencar - Jornalista e Diretor de Cultura e Divulgação da SOBRAMES-CE
ROSA DE CORDISBURGO

Euclides é de Cantagalo, 
Alencar de Messejana,
Lobato de Taubaté,
Augusto de Engenho Pau D'Arco,
Alvarenga de Vila Rica,
Patativa de Assaré,
Alves de Curralinho,
Varela de Rio Claro,
Veríssimo de Cruz Alta,
Dias é de Caxias,
Amado de Itabuna,
Rubem de Cachoeiro,
Rosa de Cordisburgo.
Que me importa o tempo, o costume?
A era, o barroso, o arcadismo,
o romantismo, nem sei.
A Literatura é tudo isso, 
é poesia, é prosa, é fardo, é volume?
Simbolismo, realismo, modernismo,
tudo isso gira, escreve? É Literatura.
É aluno, é professor, é mestre?
Não doutor, tudo isso é Língua Portuguesa,
É Brasil.
Encontrei uma Rosa.
Em João, em Guimarães.
Nas verdade em Cordisburgo.
Foi alí em Minas.
E por la, Grande sertão: Veredas.
Com Riobaldo mostrando sua odisseia,
vida de jagunço, monólogo bem urdido,
na vingança junto a Joca Ramiro.
Há um pacto como Diabo,
Diadorim em cena, diadorina também.
Mas a vida não é só isso.
Temos "Sagarana",
medicina pelo meio, 
carreira diplomática, Cônsul na Europa,
retorno, muitos escritos, 
uma vida rica em detalhes.
O "corpo de Baile", Tutameia,
Primeiras Estórias; Ave, Palavra.
A Academia, o tempo, o medo do fardão,
o fim.
João Guimarães Rosa nasceu e viveu
no mesmo século.
Nós, vivemos a sua obra.
 
Vicente Alencar
(Da Sociedade de Cultura
Latina do Brasil-Secção CE)

Fortaleza, 02 de maio de 2008.

domingo, 23 de junho de 2013

POR: JOSÉ WILSON DE SOUZA - I SÓ metria


Dr. José Wilson de Souza - Médico e Membro da SOBRAMES-CE
                   Imetria
                                       (Rio de Janeiro – 1986)
Saudades...
Solidão...
Sozinho...
Sentido...
Sacrifício...
Sedento...
Sequioso...
Séquito...
"Saco"
Sacudido
Sofrido
Saudades
Sofrido...
Sacudido...
"Saco"
Séquito...
Sequioso...
Sedento...
Sacrifício...
Sentido...
Sozinho...
Solidão...
Saudades...

quinta-feira, 20 de junho de 2013

POR: FÁTIMA AZEVEDO - ENGANO SEU

 
Fátima Azevedo - Médica e Membro da SOBRAMES-CE
 
ENGANO SEU
 
Tu dizes que me conheces,
mas sei estás enganado.
Nem eu mesma me conheço,
nem sei com quem me pareço.
 
Tu dizes que me conheces,
mas nem de ti tu o sabes.
Tu vives perdido e aflito,
no meio de tempestades.
 
Tu dizes que me conheces,
mas sou como a natureza,
que muda a cada instante,
sempre cheia de surpresa.
 
Eu sou o sol, sou a chuva,
sou o dia e sou a noite.
Eu sou o certo e o errado,
eu sou o sim e o não.
 
(1987)

terça-feira, 18 de junho de 2013

POR: RAYMUNDO SILVEIRA - AS ENTRANHAS DA ALMA



 
Dr. Raymundo Silveira - Médico e Membro da SOBRAMES-CE

AS ENTRANHAS DA ALMA[1]


“Mens immota manet, lacrimae volvuntur inanes”.



Virgílio, Eneida 4.449

Hospitais de Pronto Socorro são vitrines escancaradas das entranhas da alma. Diferem de qualquer outro ambiente de convivência humana. Lá, os contrastes são estruturais; nunca conjunturais. O Pronto Socorro é uma tristeza alegre, uma beleza feia, uma suavidade áspera, um desejo rejeitado, um aroma malcheiroso, uma resignação revoltada...

Coexistem lado a lado a dor e o prazer, o amor e o ódio, a bondade e a maldade, a esperança e o desengano, a vitória e a derrota, a felicidade e a desgraça. Guerra e Paz. Inferno e Paraíso. O Pronto Socorro é tudo. Inclusive – ou principalmente – incerteza. Só não é neutralidade e indiferença.  Nessa perspectiva ele é o reflexo perfeito da vida real.

O hospital difere ainda conforme as horas do dia e de acordo com o que se vai fazer lá. Para os funcionários recém-chegados é sempre cedo. Para estes é tranquilo ou caótico; cordial ou agressivo; ruidoso ou silencioso. Para os que saem é sempre tarde. Nada mais, porém importa. Você sai cansado, mas com aquela euforia típica de quem cumpriu o dever. Muito mais que isso. Você confortou o seu semelhante; aliviou-lhe a dor. O hospital para você é triunfo. Não raras vezes, triunfo com sabor de manjar do Céu, porquanto sobre a morte.  Para os pacientes internados, noite e dia não existem. Já os visitantes, nada enxergam; apenas veem. E interpretam tudo errado. Você e eu já estivemos lá em todas essas circunstâncias.



2

Naquele Dezembro do ano de sua formatura você se encontrava de plantão há trinta e seis horas. Um colega rico lhe pagara para emendar o turno dele com o seu. Quando você chegou, a silhueta do hospital dava adeus à claridade do dia exibindo contornos sombrios; sem estilo arquitetônico definido.  Suas linhas eram o oposto do que acontecia lá dentro - réplicas da mais fria indiferença.

Há pouco, prestes a sair, a improvisada sala de repouso era para você a ante-sala da esperança. À alegria do dever cumprido, somavam-se as expectativas da festa de formatura. Bastou um minuto de telefone para tudo virar desespero. De súbito, o quarto se deformou em delegacia cela calabouço cadafalso... E nesse corredor da morte a sua existência retrocedeu: Sala de aulas creche berço. Os braços da sua mãe. Útero... Ou, quem sabe, ante-sala do inferno. Para mim, que chegava, era manhã ensolarada de primavera. Para você, que saía, trevas e tempestade. Tenho de confessar, para ser sincero, que toda a sua cota de paz e de alegria se difundiu para dentro de mim. Não por ter acontecido com você, mas por não ter sido comigo.

3

O leito não me comporta; eu e ele temos quase a mesma envergadura. Feito sob medida para o meu corpo. Esta idéia me traz uma livre associação com um esquife. Meu peito imita a parede de uma central de computadores, tamanho o emaranhado de fios. Da parte traseira e de sobre a minha cabeça um som agudo, repetitivo, intermitente, irritante faz bip, bip, bip nos meus ouvidos, mas o cérebro interpreta como gotas de vida se escoando de uma torneira mal fechada.

Tenho as veias dos braços transfixadas por agulhas e borrachas. Uma espécie de prensa de colar madeira abarca parte da minha pelve entre a virilha e o quadril. De vez em quando vem um enfermeiro apertar mais. A dor é insuportável. A intenção é vedar um furo aberto na minha artéria femoral, por onde penetrou um cateter a caminho do coração. Tatuagens arroxeadas decoram-me o tronco e os membros inferiores. São hematomas - resultado da infusão de inúmeras drogas, ou da tentativa de. Enquanto isso, aguardo apavorado o resultado do cateterismo para saber se serei ou não operado a céu aberto.



4

Valeu a pena estar cansado, conquanto há algumas horas estivesse muito triste por não ter sido capaz de ressuscitar um morto... Frustrado por não ser o Homem da cruz. Criança atropelada. Ausência de reflexos pupilares. Coração, ruídos respiratórios, nada.  Mesmo assim, você fez massagens cardíacas, respiração boca a boca e examinou de novo. Reprimiu a emoção, comunicou aos pais e encaminhou o pequeno cadáver ao IML. Não apenas ossos, como também carne, sangue, suor e lágrimas do ofício.

Sacudindo a quietude do repouso médico, a invasão das estridentes e insistentes chamadas. Redemoinho às avessas. Você tateou um alô desprevenido.  Era (do Inferno) da diretoria. Você tinha de ir imediatamente. Impossível repor o fone. Tremor, suor gelado. Tonteira, cegueira, baticum. Sufocação. Desespero. Pavor... Ouvia sem escutar.  Repudiava o resto. Esperançava um trote... Isso: um trote.

Não podia ser verdade... Ódio acumulado. No espelho, você arregalou os olhos. Caminhou em círculos pelo quarto, sem perceber. E só caiu na realidade ao constatar o fone pendurado pendulando balançando feito um enforcado.

O pânico acrescentou um abatimento abissal. Há vinte e cinco minutos havia futuro. Vinte e cinco anos.  Decente, honrado, esperanças, sonhos, glórias. Comemorações. Colação de grau. Você se preparava para os festejos. Missa em Ação de Graças. A cerimônia. Baile. O terno financiado em dez parcelas mensais sem entrada. Dureza. Você tinha de aceitar a mesmice do exíguo cardápio. Aquele eterno cachorro quente com gosto de jornal amassado. Disfarçava o puído da camisa. Dormia em colchão no chão. Humilhações, descrédito. Visionário. Teimosia. Você aguentou firme. A vitória logo ali... A Vitória.



5

Quando você entrou, correndo risco de morte e sentindo muita dor, experimentou alívio imediato. Foi medicado operado bem cuidado e chegou o dia da bendita alta. Então, o hospital era belo. Contudo, a sua felicidade foi muito maior do que qualquer parente imagina. Ou imaginaria, pois ninguém ainda soube do que você passou. Você se encontrava sozinho, no exterior. Adoeceu de repente. A dor era tamanha que não houve sequer como se comunicar com a seguradora que, por sua vez, não segurava coisíssima alguma. A não ser o seu dinheiro. Agora tudo já passou. O hospital o socorreu tratou curou. Há uma conta enorme a quitar. Para sua sorte o governo estrangeiro bancou todas as despesas. Ainda que tivesse com que pagar, você não desembolsaria um centavo. Nem no seu próprio país você teria tamanha regalia. Você É eu. E eu É você. Estamos felizes. O Hospital é a felicidade.



6

Por que comigo, meu Deus? Trocar o plantão, vender o descanso. Por que não com o outro? Rico, pais influentes, parente de político importante. Maldita falta de dinheiro! Ânsias de voltar no tempo impossível. Falta coragem. Falta tudo. Como agir? Com quem contar? Socorro! Tio longe desde o vestibular. Mais por imposição daquela agitação, estudos, noites em claro, a puta lutalabuta. Desculpa racionalizada. Boa gente, o velho. Localizar pelo catálogo. Aquele só de endereços. Nem o nome da rua. Decerto se mudara. E pouco poderia fazer. Da polícia era, mas há anos encostado por invalidez.

Colegas, nenhum confiável. Ajudar, prestar solidariedade, Samaritanos, Cirineus? Sim! Mas só para a mídia. A concorrência feroz não permite rasgos de generosidade. No íntimo gozavam. Telefonavam-se, espalhavam a sua infelicidade aos milhões de ventos. Uma peça a menos no tabuleiro de xadrez. Xadrez, xadrez. Conversas veladas escondem a satisfação. Príncipes, filhos de Asclépio, irmãos de Hígia e de Panacéia. Incapazes de tamanha mesquinharia! Só no subconsciente. Quase no inconsciente. Negar ajuda é repugnante. A idéia é repugnante. Imprensa em manchete, edição extra. Situação crítica, irreversível. Liquidado! Coitado, não tem mais futuro como médico. Nem como aplicador de injeções será de valia. Talvez nem como gente. Pena. Não é pra menos. Necessário amparar: companheiros de estudo, de trabalho... Amigos. Acima de tudo cristãos. Cristãos. Cristo. Ah, Jesus, não é possível! Não pode ser verdade... O hospital é desgraça. A desgraça.

7

  Gente trepada até nas marquises. Refletores, câmeras, unidades móveis dos principais jornais, das estações de rádio e de TV. Viaturas da polícia. Um camburão. Um rabecão. Exagero. Nada consola. Nenhum auxílio. Solidão absoluta. A entrada principal do hospital se torna um mar de cabeças. As pernas fraquejam. A síndrome do pânico volta. Dentro, um campo de batalha: fígado intestinos estômago pulmões. Diafragma contra o resto do mundo... Tudo se revira. Revolução. Você expele em golfadas o que tem, e até a alma que nem sabe se tem... Desiste. Não prossegue. Faltam meios para pagar sozinho o estipêndio de culpa que o clamor popular reivindica. Deus! Tio, me ajude! Mas venha logo pelo amor de Deus... A multidão.  Acendem-se as luzes. Câmeras. Ação. Um filme policial onde você é o bandido. Sim, lá está... Empurrões. Xingamentos. Tem mesmo cara de assassino. Vamos dar um jeito nele agora. Justiça! Seis soldados formam um cordão de isolamento. O populacho apupa: Solta Barrabás! Crucifica! Sim. Você se sente tão sem culpa que, no íntimo, se compara com o Homem da cruz. Mas a platéia não perdoa: Canalha Monstro Assassino!



8

 A voz implacável, reverberando, esganiçada, aos berros, maldita, saída daquele maldito telefone, julga sentencia executa. O diretor possesso: Ligaram do IML. Um auxiliar de necrópsias. O legista nem consegue falar. A notícia é arrasadora. O atropelamento que você enviou para lá...  Deu zebra. O menino estava vivo. O doutor fez o talho da autópsia e...



9

Nada no hospital sucede como num relato convencional: linear, ordenado, certinho. Sequência lógica, feito romance de Balzac ou conto de Poe. Não! Não há simetria nenhuma no dia a dia de uma clínica de emergência. As pessoas ignoram a maior parte do que está ocorrendo e do que vai ocorrer. Não raras vezes, até consigo próprias. E isto não incide apenas sobre os doentes e familiares... Com os médicos, estudantes e funcionários, o mesmo acontece. No Pronto Socorro, excetuando a morte, nada também é conclusivo. Nem existem começo meio e fim. É mais ou menos como nessa história...






[1] Capítulo do livro “Lagartas-de-Vidro”. Prêmio  Concurso Nacional de Contos e Poesias  “Correio das Artes” – Paraíba – 2010.

domingo, 16 de junho de 2013

POR: JOSÉ WILSON DE SOUZA - CANÇÃO PARA GORETTI


Dr. José Wilson de Souza - Médico e Membro da SOBRAMES-CE


CANÇÃO PARA GORETTI  
                           
             (Para a Enfermeira Goretti Brasil)

Gratos pelo que fizestes, dando tudo sem pedir nada .
Todos estamos tristes em busca de ti
porque  já não temos a tua presença
e nem ouvimos  tua oportuna gargalhada

Meu cavaquinho calou de saudades.
Já não se ouvem as românticas canções,
não existe ninguém naquela calçada.
Nas noites de luar  não existem serões

Ficou a tristeza sem a tua presença.
Com tua partida acabou-se  a alegria.
Brilhastes na tua passagem, qual meteoro,
deixando em cada um,  triste  nostalgia

Com tua partida  ficaram as  frias madrugadas.
Olhando o luar,  nos  conforma um  sentimento,
estes mesmos raios frios de saudades,
também são vistos por ti neste momento

Toda Jaguaretama ficará em festa
quando souber que vais voltar,
voltarão as  alegres noites de serestas,
novamente o cavaquinho irá tocar

Voltarão as  canções  nas madrugadas,
os  pássaros nos verdes campos irão cantar,
cachoeiras cheias em vez de lágrimas,
irão correr,  no dia em que puderes voltar

Iremos cantando, alegres pelas estradas,
serestas ao som de  violão  e  violino,
dançaremos nas noites  enluaradas
felizes, pelo pássaro que voltou ao ninho