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sexta-feira, 28 de novembro de 2025

POR REBECA DIÓGENES: O OFÍCIO DE VER

 

Rebeca Diógenes  

O Ofício de Ver

      Há um requinte silencioso no exercício da medicina que não cabe nos livros, nem se alcança por decorebas de protocolos. É uma arte antiga, quase aristocrática, que exige do profissional algo raríssimo nos tempos de urgência: um olhar capaz de enxergar além da superfície.
      Porque, antes de ser ciência, a medicina é um trato fino com o humano.
    A cada consulta, desfilam histórias, medos, perdas e esperanças envoltas em queixas rápidas e exames impressos. E, entre uma pergunta e outra, existe uma delicadeza que separa o médico que apenas atende do médico que verdadeiramente percebe: o gesto atento.
     É ele que capta o tremor sutil de quem disfarça a angústia.É ele que distingue o silêncio carregado de quem não sabe como pedir ajuda.
       É ele que interpreta a ausência repetida do paciente não como descuido, mas como consequência de uma vida que não coube no relógio nem no transporte público. É ele que vê, na mãe apreensiva, mais do que um quadro febril — vê o fardo invisível de quem cuida de todos, menos dela mesma.
    A falta desse olhar é, talvez, a maior carência contemporânea.Não faltam tecnologias, cursos, telas e métricas. Faltam olhos que saibam pousar com suavidade sobre o outro.
     Em um mundo onde tudo é rápido, o verdadeiro luxo é a atenção plena. E, na medicina, esse luxo salva.
        Há uma nobreza discreta no médico que se inclina para escutar o que não foi dito; que percebe nuances, que interpreta gestos mínimos, que devolve ao paciente não apenas um diagnóstico, mas a dignidade de ser visto, reconhecido e respeitado.
     Nessa profissão, o olhar atento é mais que habilidade técnica — é patrimônio afetivo, instrumento de cura, lapidação da empatia. É ele que transforma consultas apressadas em encontros humanos; que converte ciência em arte; que resgata o sentido mais puro da palavra cuidado.
   Porque, no fim, a medicina que verdadeiramente ilumina não é a que domina máquinas, mas a que domina o olhar. E quem vê o invisível toca, com elegância, o que há de mais essencial em cada vida que lhe é confiada.
 

terça-feira, 18 de novembro de 2025

POR RONALD TELES: FILHOS


FILHOS

Fugiram de minhas mãos 
Encontrei- os novamente em meus braços,
Na nostalgia do espaço,
Que o tempo deixou,
Lastreando lágrimas de saudade,
Por cada minuto, hora e dia,
Que passaram junto a mim,
Quisera eu tê- los bem perto,
Mas sei que o destino se fez certo,
Caminhando para além de meus olhos,
Que sempre se perdem no firmamento,
Em um uníssono lamento,
Desta falta que me basta,
Do perfume oloroso de jasmim,
Que se mistura com minha lembrança,
De doces e pequenas crianças,
Que um dia afaguei,
Agora olho com saudades,
O tempo que se espalhou,
Mas que agora se juntou,
Bem dentro aqui,
Meus filhos nunca partiram,
Estão morando eternamente,
Em meu coração, que os sente e sempre os sentirá,
Como um sonho lindo,
Que termina dizendo,
Do nosso eterno amor.

terça-feira, 28 de outubro de 2025

POR RONALD TELES: PERFUME


Dr. Ronald Teles 

PERFUME

Te avistei sentada, em uma praça linda,
Com a natureza te cercando,
Beijando tua face com  a brisa da tarde,
O sol quase findo,
Com lampejos de tua sombra,
Que invade meus olhos,
Te percebendo longe e perto,
Certo que ainda me pertences,
Embora o sol partindo,
Cristalize uma prece,
Arremetida aos céus,
Retornando ao meu coração,
Que avidamente à recebe,
E espalha dentro do meu ser,
O sentimento cálido de estar contigo,
Avançando dia a dia com um sorriso,
Como se a noite beijasse o dia,
Em um fortuito encontro,
Nos invadindo de uma nova emoção,
Dizendo que não há dúvidas sobre nós,
Pois nosso amor é colhido pelo vento,
Arremessado como pétalas de rosas,
Que se desprendem e bailam ao infinito,
Mas caem lentamente aos nossos pés,
Colorindo o chão da vida,
Com o perfume da chegada e da partida,
Somente de nós dois.

sexta-feira, 24 de outubro de 2025

POR FÁTIMA AZEVÊDO: MEDITANDO HOJE APÓS O CAFÉ DA MANHÃ

Dra. Fátima Azevêdo - Médica Geneticista

 Meditando hoje após o Café da Manhã

A vida é uma dádiva e uma bênção. Merece ser celebrada todos os dias como forma de gratidão a Deus e ao Universo. Mesmo em dias cinzentos, devemos agradecer pela vida, porque sempre haverá luz no fim do túnel. Sempre haverá vida, e vida plena, porque somos seres espirituais, e o espírito vive eternamente.
Pensar na finitude da vida e, ainda assim, sentir gratidão, é algo que só bem nos fará. Alegria no coração é preciso ter, alimentar e perseguir até encontrá-la.
Se nosso foco se limitar aos acontecimentos do mundo, às guerras insanas, à inflação galopante em nosso país, às injustiças cometidas pelos homens da lei, à desordem político-social a que somos submetidos, às doenças em nossos familiares, à tristeza pela existência dos sem-teto, se pensarmos apenas em tudo aquilo que está além da nossa capacidade de resolver, entraremos em depressão profunda e não solucionaremos problema algum.
Portanto, fazer arte, escrever, dançar, cuidar das plantas, estar em contato com a natureza, cozinhar para si e para quem se ama, realizar um trabalho voluntário, aproximar-se de crianças e idosos, ambos têm tanto a nos ensinar , e cultivar a gratidão no coração, é roteiro certo para dar de cara com a alegria.
E tenha certeza: a vida sempre nos abraçará afirmativamente.


Fátima Azevêdo
23/10/2025

quinta-feira, 23 de outubro de 2025

POR RICARDO PESSOA: RESULTADO DO VESTIBULAR

 
Dr. Ricardo Pessoa  

Resultado do Vestibular 


  - Renato! Renato! Acorde, são 8:30 da manhã! Acabei de ouvir no radio que o resultado do vestibular será divulgado as 11:30. Vá se ajeitar, meu filho! - Comentou Sr Barbosa, pai do Renato. 
  Renato abriu os olhos, ficou pensativo na cama por cerca de 5 minutos e observou sua escrivaninha com seus objetos, local onde esteve sentado por cerca de 8 horas por dia, durante todo o ano do pré-vestibular. Levantou-se e ao abrir seu guarda roupa, pegou e folheou todos os rascunhos dos exercícios de matemática, física e química resolvidos durante os estudos, feitos de papéis de extratos bancários dados por sua tia que trabalhava no setor financeiro de um banco estatal; e pensou: como eu estudei! 
  Ao chegar na cozinha para tomar o café da manha, após tomar o banho e realizar higiene matinais, observou o senhor Barbosa colocando algumas cervejas no freezer. 
  - Papai, o que é isso? São 9 horas da manhã e não sabemos se irei passar ou não.. - perguntou Renato. 
  - Não tem problema meu filho, se não bebermos de alegria, beberemos de tristeza. - retrucou seu pai, sem parar de abastecer o congelador com sua bebida preferida, a Antarctica. 
  Após o desjejum e algumas conversas, foi para o deck organizar o local onde escutariam o resultado, que seria narrado na radio, nominalmente todos os aprovados em todos os cursos da universidade pública. 
  Renato pegou um sistema de som 3 em 1, Sony, e o colocou em uma pequena mesa com algumas cadeiras ao redor e uma fita cassete TKR para gravar toda divulgação do resultado. Testou gravando e escutando uma pequena leitura de seu nome. Estava tudo pronto. 
  A espera pelo início durou uma “eternidade”, quando o radialista avisou que começaria a ler os aprovados por ordem de classificação, deixando os cursos de medicina e direito para o final, porque eram muitas vagas. 
 Todos nervosos falando sobre as possibilidades de aprovação enquanto eram lidos os novos universitários dos outros cursos. Porém, ao chegar na Odontologia, ficaram todos atentos e iniciaram a gravação porque Renato tinha uma prima, Samanta, que estudaram juntos toda a vida escolar, e ela estava concorrendo a esse curso. 
  Após nome de Samanta ser lido pelo locutor, todos gritaram, já que não era um nome comum, porém não ouviram o sobrenome; dai, tiveram que confirmar a aprovação após rebobinarem a fita e escutarem o nome completo de Samanta. Imediatamente, o telefone tocou, era a mãe dela, perguntando se realmente era ela, porque também gritaram de alegria antes da escuta completa. Confirmaram e parabenizaram-na. 
  O nervosismo aumentou. Estava chegando a hora. A prima já comemorava a aprovação. 
  Cerca de 10 minutos depois, o radialista pediu um intervalo comercial para beber água porque iria iniciar os cursos mais longos… mais espera e a taquicardia aumentando. 
  Sentaram muito atentos, silêncio sepulcral, o nervosismo estampado nos rostos. Renato apertou a tecla de gravação e os nomes começaram a ser lidos. Alguns nomes conhecidos foram aparecendo, porém não tinham como contar o numero que faltava, o que tornava maior a apreensão. E lá pelo meio, saiu o nome: Renato ……….! Todos evitaram comemorar antes de ouvir o nome completo. Foi a maior gritaria, abraços e choros emocionados entre pais, irmãos e filhos. 
  Logo em seguida, Renato sentiu um ovo estralando em sua cabeça e uma tesoura começando a cortar seu cabelo, que deu lugar a um barbeador elétrico, para raspar no “zero”. Brindes com a cerveja que já se encontrava gelada. Uma festa!! 
  Seus amigos e primos começaram a aparecer, inclusive a Samanta, e todos comemoraram por mais 24 horas a aprovação na universidade ouvindo inúmeras vezes as gravações.

sexta-feira, 17 de outubro de 2025

POR RICARDO PESSOA: O CORPO E O CARTÃO DE CRÉDITO

 

Dr. Ricardo Pessoa - Endoscopista Digestivo 

   O corpo e o cartão de crédito

            Era uma sexta feira a tarde, quando Dr José viu seu celular com 3 ligações e uma mensagem de outro colega dizendo: “assim que puder, me liga”.

        José prontamente atende o pedido do amigo e o telefonou. Era uma solicitação de realização de um procedimento de urgência em um paciente de meia idade, Sr Walker, estrangeiro, que se encontrava com um quadro agudo que precisava ser submetido a um tratamento com brevidade para evitar complicações e diminuir o risco de morte.

        Dr José prontamente montou sua equipe e se encaminhou ao hospital para realizar o ato cirúrgico e aliviar o sofrimento daquele enfermo, sem mesmo perguntar como seria a forma de pagamento já que era um caso de urgência e um pedido aflito de um amigo seu.

        O procedimento foi realizado com sucesso na manhã do sábado, permanecendo o doente na uti por 24 horas, e, na segunda ja se encontrava no apartamento.

        Nesse momento, durante a visita hospitalar habitual, Dr José foi questionado pelo Sr Walker sobre como seria o pagamento, já que o mesmo era estrangeiro e não dispunha de plano de saúde.

        Então, Dr José acertou os valores dos honorários com o inglês sem dificuldade, porém havia uma impasse de como seria realizado esse pagamento.

        Pra surpresa do médico, o paciente pediu a sua esposa, Sra Walker, para pegar sua carteira de documentos no armário do quarto e entregá-lo; assim que a recebeu, sr Walker a abriu, retirou o cartão de credito e o entregou ao médico: “tome, leve para sua clínica, faça a cobrança do valor acertado e o traga quando vier pro hospital amanhã! A minha senha é 1918”

        Dr José ficou estupefato com essa atitude do Sr Walker e retrucou logo em seguida: “não, Sr Walker, não posso levar seu cartão com sua senha!”

        Para surpresa de todos que estavam no quarto do hospital, Sr Walker justificou sua atitude: “Dr, o senhor me operou, eu confiei no senhor e lhe entreguei o meu corpo! Leve-o”

       

       

       

quarta-feira, 8 de outubro de 2025

POR RONALD TELES: CICATRIZES

Ronald Teles: Cardiologista

Cicatrizes

Quero derramar minhas cicatrizes junto às tuas,
Para que o sangue que as lavou,
Marque nosso único momento,
Onde nos encontramos em júbilo e sofrimento,
Das dores que nos unem e também separam,
Das dúvidas que brilham em nossos olhos,
Como que dissessem outrora nada,
Mas com respostas claras,
A tudo que estremece nosso ser,
Que nossas cicatrizes se unam,
Para as batalhas do porvir,
Não abalando nossas dias,
Pois nós dois estamos aqui,
Defronte um  do outro,
Recolhidos em nosso tempo,
Talvez um pouco lento,
Mas sábio, em nos dizer,
Que venceremos o mundo,
Embora o amargor do tempo e das horas,
Diga muitas vezes: Não!
Mas nossas almas dançam em plagas calmas,
Em uma melodia suave,
Que invade nossos corações,
E mais uma vez nos lança,
Na eternidade de nossos desejos,
Que agora são um só,
No encontro de nosso beijo.