Total de visualizações de página

quinta-feira, 9 de abril de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (21º dia)



Diário de uma quarentena (21º dia)
Do barbeiro amador ao isolado sim, sozinho jamais.
Por Arruda Bastos

Sempre quando possível, começo a escrever minhas crônicas no início da tarde, por volta das quinze horas. Hoje, como nos outros dias, depois do almoço, assisti o JH, telejornal apresentado pela Maju Coutinho. O Jornal já estava quase no fim quando uma reportagem que tratava das atividades desenvolvidas por muitas famílias nesse momento de isolamento social me chamou a atenção.

A matéria apresentava muitos idosos realizando atividades culturais e compartilhando as imagens com seus familiares e amigos. Achei muito interessante e a frase que fez com que eu me levantasse logo para escrever foi: “isolado sim, sozinho jamais”. Para não esquecer, corri para o computador e digitei a referida assertiva para ser parte do título da crônica de hoje.

Depois de alguns minutos, fiquei a matutar com meus botões que, se todos agissem da mesma forma, tiraríamos esse tempo de letra e ainda ganharíamos em admiração e, certamente, no psicológico. Digo que sigo religiosamente esse ensinamento e a cada dia incorporo outras atividades.

Na minha rotina, sempre dou uma pausa na escrita para, por alguns minutos, dar uma espiada de leve nos meus grupos de whatsapp e nas minhas redes sociais. Vá lá que alguém descobre a cura ou a vacina contra o coronavírus, que minha família esteja precisando de alguma coisa ou até se meu Coordenador da Unichristus marcou algum treinamento ou orientou uma nova forma de ministrar aulas virtuais.

Infelizmente, não encontrei nada de novo com relação ao tratamento da Covid-19, só mesmo a disputa infértil com relação a hidroxicloroquina. No que concerne à vacina, também nada de extraordinário. No grupo da família Cordeiro Bastos, intitulado “LelêLeviLuccaLaraLina”, nomes dos meus netos, deparei-me com um vídeo enviado por minha filha Lívia em que aparece seu esposo, Evalto, cortando o cabelo do meu netinho Lucca.

O vídeo me fez lembrar o tempo de criança, quando cortava o cabelo com o barbeiro Zé Gomes, próximo da minha casa. Na época, ele usava uma técnica sui generis e muito revolucionária que vou descrever passo a passo. Primeiro, ele quebrava no meio uma quenga de coco, depois colocava como um capacete na minha cabeça e, por fim, lascava a passar a máquina no que ficasse abaixo dela.

Minha querida mãe guardava de lembrança uma foto desse crime e aqui em casa, vasculhando um velho álbum, encontrei outra em uma carteira do meu primeiro ano primário de Colégio dos padres Salvatorianos. De tão assustadora que é a imagem, não tenho coragem de publicá-la no dia de hoje, mas, quem sabe, até o final da quarentena eu possa usar para espantar o mosquito da dengue.

Essa quarentena tem sido fértil na descoberta de novos talentos. Não é que o corte de cabelo do Lucca ficou uma gracinha? Acho que vou trocar o meu eterno cabeleireiro Juraci pelo Evalto, pois ele demonstrou muita destreza e uma técnica impecável. Posso também optar pela minha filha Lia, que no início do isolamento cortou o cabelo dos meus netinhos Levi e Letícia.

No caso da Lia, a única dificuldade foi necessitar de um segundo tempo para concluir o corte moderno que fez na cabeça do Levi. Ela justificou com o fato de ele ter dado muito trabalho e, só depois de vinte e quatro horas, cedeu aos apelos para um arremate final.

O importante mesmo é que todos estejam bem e que permaneçamos confiantes em Deus. Como na reportagem da TV, concluo dizendo: estamos isolados sim, mas sozinhos não.

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Este foi o dia nº 21. #FiquemEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES-CE)

quarta-feira, 8 de abril de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (20º dia)


Diário de uma quarentena (20º dia)
Há luz no fim do túnel?
Por Arruda Bastos

Passei a manhã de hoje formatando um novo projeto de comunicação para esse tempo de quarentena. Resolvi que todos os dias, às 10 horas, vou postar um vídeo tratando da evolução da Covid-19 em Fortaleza, no Ceará, no Brasil e até apresentar dados internacionais, tudo de forma simples, junto e misturado.

A primeira providência foi fazer o roteiro das atividades, para o êxito do meu projeto. Escolher a ferramenta para gravação, o local da casa para transformar em estúdio, a pauta do dia e, ainda, a forma de transmitir os vídeos para as minhas redes sociais:
• instagram.com/arrudabastos,
• facebook.com/arrudabastos,
• twitter.com/arrudabastos
• youtube.com/raimundoarrudabastos e
• meu www.portalarrudabastos.com.br.

Depois de tudo definido, gravei o primeiro vídeo, tendo como estúdio a sala do meu apartamento devido à boa iluminação e à decoração, que daria um ar de informalidade. Utilizei os recursos do meu notebook, já que minha amada Marcilia não poderia, nesse projeto, ser minha camerawoman devido suas orações matinais.

O vídeo ficou muito bom, modéstia à parte. O difícil mesmo foi, depois de editar, postar nas redes sociais com a qualidade que eu desejava e ainda tendo que enfrentar como inimigo uma redução inesperada de velocidade na internet. O tema que inaugurou o meu canal “Saúde em Dia com Arruda Bastos” foi: A Covid-19 em Fortaleza.

O tema não poderia ser mais atual. O Ministério da Saúde, no dia de ontem, divulgou que Fortaleza possui a maior incidência do novo coronavírus entre as capitais do país. Segundo os dados divulgados, na capital cearense há 34,7 casos a cada 100 mil habitantes. O número assusta, causa grande preocupação e foi o estopim para resolver tirar do papel o projeto de divulgar vídeos expondo o meu pensamento e a minha experiência de ex-secretário da Saúde do Ceará.

Espero que gostem, comentem e compartilhem com seus amigos e seguidores. O meu compromisso vai ser com as informações técnicas, pautadas pela ciência, em informes oficiais do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde. Não vou adotar do achismo como muitas autoridades no tempo atual.

Depois desse sutil merchandising, vou me deter ao titulo da crônica de hoje. A inspiração veio de uma ligação da minha querida filha caçula, Lilia, que como nós, encontra-se de home office no seu apartamento com seu esposo, Raul. 

Na chamada de vídeo, ela perguntou se eu vislumbrava alguma luz no fim do túnel. Antes de responder, observei suas feições e encontrei um rastro de preocupação diferente dos outros dias, quando deixava transparecer mais alegria e otimismo. Acredito que os vinte dias de isolamento social e as últimas notícias da pandemia sejam as causas do seu desânimo.

Depois de alguns segundos, respondi que sim, existe uma luz no fim do túnel e os seus raios brilharão mais cedo se todos se conscientizarem da importância de uma postura responsável e colaborativa. Se o isolamento social for mantido e respeitado e se o governo socorrer, o mais rápido possível, a população vulnerável e as empresas em dificuldade, logo veremos tal luz.

Eu vejo uma luz no fim do túnel. Ela pode ainda estar distante, ser muito tênue, mas com fé em Deus, coragem, com a mente alerta e o coração solidário superaremos juntos esses momentos de dificuldade.

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Este foi o dia nº 20. #FiquemEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES-CE)

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (19º dia)

                      A imagem pode conter: 2 pessoas, pessoas em pé

Diário de uma quarentena (19º dia)
A inspiração de Roberto Carlos na rotina de uma quarentena
Por Arruda Bastos

Durante o dia de hoje, lembrei-me da música de Roberto Carlos intitulada “Rotina”. Como não recordava da letra por completo, resolvi procurar no YouTube e no canal do Rei o vídeo do grande sucesso de 1973. Digo que assisti por várias vezes, o que me fez, fechando os olhos, retornar ao tempo de rapaz e das tertúlias.

Acredito que o tema surgiu devido aos dezenove dias de isolamento social e a rotina que sigo religiosamente desde o início. Só para relembrar: acordar cedo, realizar exercícios, tomar banho de sol na varanda, fazer manutenção em casa, ler um livro, ministrar aulas virtuais, escrever uma crônica e muito mais. A verdade é que nunca pensei que fosse sentir saudade da minha rotina antes da quarentena.

Na música, Roberto diz que “O sol ainda não chegou e o relógio há pouco despertou”, depois “A mesma condução, a mesma hora, os mesmos pensamentos chegam”, e mais adiante “Estou chegando para mais um dia de trabalho que começa”. Do meio para o fim encontramos: “O dia vai passando, a tarde vem e pela noite eu espero” e “Não posso controlar minha vontade de sair correndo agora”.

A letra descreve a rotina de um casal apaixonado. Tudo começa quando ele vai trabalhar bem cedinho e deixa sua amada ainda dormindo. Roberto fala da força de vontade para sair de casa e diz cantando “Eu olho outra vez seu corpo adormecido e mal coberto, quase não me deixa ir”; aí, em um impulso, “Fecho os olhos, viro as costas num esforço, eu tenho que sair”, e no caminho do trabalho sente que “Meu corpo está comigo, mas meu pensamento ainda está com ela”.

Durante todo o dia, ele só pensa em voltar para casa e a música confirma: “Vou contando as horas que me separam de tudo aquilo que mais quero” e o momento mais feliz é quando toca o fim do expediente, “Meu rosto se ilumina num sorriso no momento de ir embora” e, chegando em casa, a letra descreve o reencontro dos amantes: “A porta se abre e de repente eu me envolvo inteiro nos seus braços”.

Nos parágrafos anteriores, embaralhei de propósito alguns trechos da música, pois a mensagem de hoje é para frisarmos a importância de mantermos o isolamento social e salientar a difícil rotina que nos é imposta pelo coronavírus.

Finalizando, digo que sou fã de Roberto Carlos e que a mensagem da letra de “Rotina” deve ser valorizada. Para quem entrou na quarentena com sua amada, como eu e muitos de vocês, a noite é sempre como sugere o Rei “E o nosso amor começa e só termina quando nasce mais um dia, um dia de rotina, um dia de rotina”. Que o amor seja a melhor forma de começar e terminar o nosso dia!

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Este foi o dia nº 19. #FiquemEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES-CE)

Rotina
Roberto Carlos

O sol ainda não chegou
E o relógio há pouco despertou
Da porta do quarto ainda na penumbra
Eu olho outra vez
Seu corpo adormecido e mal coberto
Quase não me deixa ir
Fecho os olhos, viro as costas
Num esforço eu tenho que sair
A mesma condução, a mesma hora
Os mesmos pensamentos chegam
Meu corpo está comigo mas meu pensamento
Ainda está com ela
Agora eu imagino suas mãos
Buscando em vão minha presença
Em nossa cama
Eu gostaria de saber o que ela pensa
Estou chegando para mais um dia
De trabalho que começa
Enquanto lá em casa ela desperta
Pra rotina do seu dia
Eu quase posso ver a água morna
A deslizar no corpo dela
Em gotas coloridas pela luz
Que vem do vidro da janela

Um jeito nos cabelos
Colocando seu perfume preferido
Diante do espelho aquilo tudo
Ela esconde num vestido
Depois de um café, o olhar distante
Ela se perde pensativa
Acende um cigarro
E olhando a fumaça pára e pensa em mim

O dia vai passando, a tarde vem
E pela noite eu espero
Vou contando as horas que me separam
De tudo aquilo que mais quero
Meu rosto se ilumina num sorriso
No momento de ir embora
Não posso controlar minha vontade
De sair correndo agora

O trânsito me faz perder a calma
E o pensamento continua
Pensando em minha volta muitas vezes
Ela vem olhar a rua
A porta se abre e de repente eu
Me envolvo inteiro nos seus braços
E o nosso amor começa
E só termina quando nasce mais um dia
Um dia de rotina, um dia de rotina

O sol ainda não chegou
Num dia de rotina
O nosso amor começa e termina
Quando nasce mais um dia
Um dia de rotina

terça-feira, 7 de abril de 2020

POR ALCINET ROCHA: DIAS SANTOS


DIAS SANTOS

Não existe maior desalento
Que o vazio do ninho desfeito
Aferrolha as portas por dentro
E abotoa saudades no peito

Como era alvissareira
A viagem em Santos Dias!
-Vai ser quinta ou sexta-feira?
Bradavam os filhos, com euforia

-Vai ser Quinta-feira Santa
E à noite, tem Visitação
Pois a Madre Igreja manda
Ao Santíssimo, adoração

Depois, era o cuidar das bagagens
Em arrumações sem cansaços
Pra desfrutar das vantagens
De tão aconchegantes abraços

Os lençóis, bem como as redes
Cheiravam a puro carinho
E o Crespo doce de leite
Já era marca do ninho

Café quente, nunca em falta
Pães, com nata fresquinha
No domingo – Ovos de Páscoa
Não são lembranças só minhas

Tudo na casa era afago
Das velhas fotos em família
Ao piso de verdes mosaicos
Com gasta e escura mobília

Solícitos, meus pais deslizavam
Num vaivém de passos falhos
Levando a crer que duvidavam
Da existência do assoalho

Eram sempre corriqueiras
Chuvas com raios, trovoada
Reativando as goteiras
E descartando a boa calçada

Mas não havia sobressaltos
Ou medos... Por nem um segundo!
Pois ali, se estava a salvo
De todos os riscos do mundo

Agora sofremos as dores
De tantas lembranças vividas
Perdidas nos corredores
Da casa, jamais esquecida.

Fonte:  35º Antologia LAPSO TEMPORAL 2018 SOBRAMES – CEARÁ.
Sobrames-CE/Expressão Gráfica, 2018. p.50/51.




POR MANOEL FONSECA: Porque manter o isolamento social ampliado no Ceará.


Porque manter o isolamento social ampliado no Ceará.

  A situação epidemiológica do Ceará, em relação à  COVID-19, até o dia 06/04, é ainda muito preocupante. Em termos de incidência (casos/100.000 hab.), nós temos a terceira maior do país (11/100.000), só superada por Brasilia (15,5) e Amazonas (12,6).   Em número de óbitos (29) somos o quarto do país, superados por S. Paulo (304), Rio de Janeiro (71) e Pernambuco (30), este com situação paradoxal de ter a maior letalidade  (13,45 óbitos/casos confirmados), com apenas 223 casos confirmados. A letalidade do Ceará de 2,9 está abaixo da média nacional (4,67).
  O isolamento social ampliado é uma medida correta, em situações de expansão da curva epidêmica de casos e óbitos, de uma doença infecciosa nova e visa reduzir a velocidade de crescimento desta curva, para dar um tempo mínimo de preparação do sistema de saúde para o enfrentamento do pico de casos moderados e graves desta epidemia. Isto significa disponibilizar leitos e respiradores suficientes, adquirir Equipamentos de Proteção Individual (EPI) em quantidade e qualidade, que protejam a saúde e a vida dos profissionais de saúde, contratação e capacitação de novas equipes para o manejo correto frente à COVID-19 e oferta de testes de laboratório suficientes, que permitam identificar, testar, isolar e tratar a maioria dos casos, além de investigar a rede de transmissão.  O Ceará ainda precisa de um tempo para alcançar este estágio. A requisição do Hospital Leonardo da Vinci foi correta, mas este é de acesso restrito e precisa de ajustes. O Hospital de Campanha da Prefeitura de Fortaleza só deverá estar em pleno funcionamento no final de abril. A suspensão de cirurgias eletivas, que deve causar incômodo aos pacientes cadastrados, foi uma medida justa, baseada no princípio da equidade, de ofertar leitos para quem está em maior risco. Há a necessidade de adquirir uma maior quantidade de EPIs, respiradores e testes de diagnósticos, pois estes, agora, só são ofertados para casos moderados e graves dos que acessam hospitais.
  Por estas razões e por mais boa vontade e determinação por parte das autoridades públicas de saúde e dos setores de saúde conveniados, o Ceará e, em particular, Fortaleza, precisam de um maior tempo de isolamento social ampliado, para expandir nossa capacidade de resposta, poupando vidas de nossa gente.
 A determinação de decretar o isolamento social ampliado, por parte do Governo do Estado, deve ampliar-se, no mínimo, até final de abril, quando nossa capacidade de resposta estiver mais equilibrada. Só assim poderemos salvar mais vida e iniciar, mais precocemente, o retorno às atividades produtivas, persistindo ainda o isolamento vertical de pessoas idosas e as mais vulneráveis, que têm doenças crônicas ou estão imunodeprimidas. 
 Destacamos, finalmente, a necessidade urgente do governo federal transferir uma renda minima para as populações vulneráveis, para que possam manter o isolamento social com dignidade. Devemos, portanto, ter uma mente aberta e o coração solidário neste tempo de tormenta.

Manoel Fonseca - médico
Especialista em Epidemiologia
Mestre em Saúde Pública

segunda-feira, 6 de abril de 2020

POR FRANCISCO PESSOA: HOJE É SÁBADO!!!!!!!!!!!!!!!!!!

HOJE É SÁBADO!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Levanto-me de um pulo e, mesmo sem agradecer a Deus por mais um dia, cantarolo Ednardo com sua Terral, mas, a esperança de esquartejar um caranguejo gordo, como que se esvaiu num piscar de olhos. Acordei todo, agora! Faz vinte e cinco dias que não vejo o “lá fora”, a não ser pelo olho mágico da porta de entrada do meu asilo. Todas as estações do ano, todas mudanças de maré, de calendários, quais sejam eles, Julianos, Gregorianos, Judaicos, Chineses ( Ave-Maria 03 x), interpenetram-se em sombras, tal as que, faz tempo, deram vida às paredes de certa caverna.
Volto para a realidade. Lembro-me que os caranguejos do Chico estão amotinados, porém, certos de que nenhuma retroescavadeira irá importuná-los.
A minha Fortaleza, de Paula Ney, dormita à sombra maléfica de um forasteiro chinês que estendeu suas palmas por todo o planeta. O tempo falará por mim que acredita em mais um ataque de materialismo, de egoísmo, de poder, de um povo que não crê Naquele, pois, comunista e ateu.
Por ser um “prato cheio” ( idoso, diabético, cardiopata, ...) para esse alienígena de olho repuxado, contenho meus passos e, na frente da tela do meu computador, corro o mundo.
Voltei aos prelúdios da minha vida conjugal, pois, minha mulher voltou a cozinhar pra mim, pondo em prática o que aprendeu, um dia desses, na Escola Doméstica São Rafael (é o novo!).
Faltam-me os netos, bem como os filhos, filhas e genros, falta-me impulsão para escrever, para rimar, e o que me resta é exclamar: “até quando?” que não pede rima, já que incerteza, afastando mais ainda dos meus olhos a linha de um horizonte enuviado.
E Deus está conosco nessa tragédia? Por que, meu Deus, por quê? Deixo para cada um de vocês a resposta. Converse consigo, com sua consciência, seu maior confessor, e se for necessário, penitencie-se, levando a Palavra de Deus àqueles que necessitam.
Quanto a mim, continuarei enclausurado, na certeza de, quem tem, tem medo, apesar de ser imortal.
Sintam-se beijados virtualmente. Pense num beijo sem graça!

Pessoa

Publicação feita em seu facebook no dia 4/04/2020.

POR ARRUDA BASTOS:Diário de uma quarentena (18º dia).


Diário de uma quarentena (18º dia).
Aniversário virtual e amor são formas de destronar o coronavírus
Por Arruda Bastos

Hoje, 06 de abril, é o aniversário do meu primogênito e, desde 1981, quando ele nasceu, é a primeira vez que vamos passar separados. O motivo é justo: a nossa responsabilidade com o isolamento social, única medida para diminuirmos a desenfreada disseminação do coronavírus.

Meu filho Bruno é um amor de pessoa, excelente filho, carinhoso irmão, esposo dedicado e amoroso pai. Sem falsa modéstia, acho que ele é um pouco parecido comigo, como inclusive já escrevi em uma crônica intitulada “Filho, só de olhar pra você estou me vendo outra vez”, que pode ser encontrada no meu portal na internet.

Cedinho, lembrei-me do seu nascimento. Foi em uma segunda-feira, às 9 horas e 15 minutos. Ele pesou 3 quilos e 400 gramas e tinha 50 centímetros de comprimento. Vou confessar que recordava do dia da semana, mas que minha memória não está isso tudo para o resto. Os dados, encontrei em um amarelado bloquinho que Marcilia guarda a sete chaves e que contém tudo sobre os nossos filhos.

A maternidade foi a Escola Assis Chateaubriand da UFC; o obstetra, Juarez Carvalho e o anestesista, o meu concunhado Ramon. O parto foi normal, como de todos os outros filhos. Bruno mamou logo depois que nasceu e durante vários meses, o que lhe confere até hoje muita saúde.

Se o coronavírus pensava que íamos ficar apáticos, sem festa de aniversário, enganou-se redondamente. Ela aconteceu de forma virtual com bolo, velinha dos seus trinta e nove anos, parabéns pra você, tudo organizado pela minha querida nora Lais. Larinha, filha do casal, nossa netinha de onze meses de idade, foi o destaque.

Os irmãos compareceram em massa, os sobrinhos e cunhados também. Foi uma linda festa em que o amor e o carinho se destacaram. Foram muitos beijos e mensagens virtuais. Digo que foi emocionante e, até tudo terminar, não vamos deixar de comemorar muitos outros. Só espero que, na comemoração dos meus quarenta e um anos de casados, em junho, nós possamos receber aqueles abraços e beijos de todos eles.

Se você, meu leitor, tem comemoração na família nesse período, não deixe ela passar em branco, muito pelo contrário. É nesses momentos que precisamos de mais união e carinho. O espírito e o amor são mais importantes e isso a pandemia não vai conseguir impedir.

Voltando para o Bruno, ele é merecedor de todas as mensagens de amor do mundo. Tudo que ele faz é com devoção e responsabilidade. É um ser iluminado, inteligente, um excelente médico e a sua maior aparência comigo é a seriedade com que leva sua vida, e até por isso, como eu, muitas vezes deixa transparecer uma certa antipatia, que é só de fachada.

Hoje, não teremos aquele jantar em família e nem abraços acochados e beijos molhados, mas, sem dúvida, vai ser o aniversário mais lembrado de todas as nossas vidas. Feliz aniversário!

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Este foi o dia nº 18. #FiquemEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES-CE)