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segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

POR REBECA DIÓGENES - A BUSCA PELO SUCESSO E O ECO DA MÍDIA: UM SORTILÉGIO MÉDICO

                                    

  Dizem que o sucesso tem um perfume irresistível. Ele seduz, cega e, muitas vezes, cria abismos entre o que somos e o que gostaríamos de ser. Para nós, médicos, o sucesso parece ainda mais sofisticado, como um quadro pintado a óleo, cheio de detalhes e nuances: a melhor residência, os títulos mais cobiçados, as publicações que brilham em revistas científicas. Mas, onde estará o coração nesse cenário? Onde habita a essência do verdadeiro médico? 

  Lembro-me de um professor de clínica que certa vez disse: “O melhor médico não é aquele que sabe tudo, mas aquele que sabe escutar tudo.” Ah, como a simplicidade dessa frase ecoa em tempos de mídia social, onde o médico ideal é aquele que exibe consultórios impecáveis, jalecos imaculados e um currículo tão extenso quanto inalcançável! 

  A mídia, essa musa traiçoeira, constrói um palco onde o médico não é mais um ser humano, mas um personagem. As redes sociais transformam diagnósticos complexos em postagens de 30 segundos, como se a cura fosse algo instantâneo, clicável, compartilhável. Tornamo-nos espectadores de nós mesmos, capturando a pose perfeita e esquecendo que o sucesso não está no aplauso do público, mas no olhar sereno de quem sente alívio após nossa consulta.

   Mas, e o médico real? Aquele que não é apenas o retrato da capa de uma revista, mas que sente o peso da vida que carrega em suas mãos? Ele vive no silêncio das madrugadas em plantões intermináveis, nos olhos cansados ao final do dia, nas lágrimas que caem escondidas diante de uma perda que não pôde evitar. Ele sabe que o verdadeiro sucesso não é exibido, mas sentido: é aquele suspiro de gratidão que vem do paciente, aquele instante em que a dor dá lugar à esperança. 

  Rubem Alves uma vez disse que “educar é semear com sabedoria e colher com paciência.” Não seria a prática médica algo semelhante? Semear cuidado, escuta, presença. Colher a confiança, a melhora, e, às vezes, a aceitação de que nem tudo está ao nosso alcance. Assim, nessa busca frenética pelo sucesso profissional, precisamos lembrar que o maior palco é o coração do paciente, e a verdadeira mídia é o eco da nossa dedicação no alívio da dor. O resto? É só ruído, que se dissipa como a brisa após uma tempestade

Um comentário:

  1. Este almejado " sucesso" , como vc tão bem coloca em seu belo texto, querida Rebeca Diógenes, é uma mescla de humanismo, experiência e muito estudo,aplicação e base científica sólida.Nossos tempos atuais são " pantanosos" e a carreira médica encontra- se realmente ameaçada por formação duvidosa e maus profissionais! Sempre prevalecerão os bons!Parabéns!

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