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quarta-feira, 16 de junho de 2021

Por: Flávio Leitão - RADICALIZAÇÃO


                                                         Sobramista - Dr. Flávio Leitão


Radicalização

Por: Flávio Leitão 

 Nesses tempos de Pandemia, uma angústia enorme, minha alma asfixia.

 Já disse alhures, que tive a invejável sorte de conviver com um santo – um ex-seminarista, Filho de Maria, Irmão do Santíssimo e Ministro Extraordinário da Eucaristia – meu pai, o poeta e Professor José Valdivino de Carvalho e, concomitantemente, com um agnóstico, marxista, pertencente ao Partido Comunista Brasileiro dos 13 aos 82 anos, quando partiu para a eternidade – meu muito estimado irmão, Tarcísio Leitão, Advogado trabalhista e político.

Nessa longa e agradável convivência, nunca os vi em agressão recíproca. Divergiam rindo, cada um mostrando num sorriso franco, a largueza de seus corações, patenteando o crédito em suas convicções de maneira polida, educada, amorosa. Assim, a tolerância me é tão natural e necessária, como o enchimento de ar nos meus pulmões, e condição sine qua non, para uma existência harmoniosa.

Hoje, infelizmente, há além do abismo social que há séculos separa as pessoas deste majestoso país, o abismo político-ideológico que exacerba um maniqueísmo doentio e afasta bolsonaristas, dos antibolsonaristas.

Eu queria tanto diminuir essa divisão infrutífera, essa bipartição ideológica inútil, pelo menos, entre pessoas que têm uma mínima admiração à equanimidade. Afinal de contas, Aristóteles tinha razão: Virtus in medium est.

E para tanto, iniciaria fazendo um exercício de lógica, de racionalidade, de procura pela verdade, para quem sabe, sob a égide do Divino Espírito Santo, cuja festa celebramos há pouco, entendermos a irracionalidade de defender-se um cidadão que demonstra muito pouco de humano, antípoda do maior Mandamento de Jesus – o amai-vos uns aos outros!

Um ser que no auge do sofrimento do povo brasileiro, responde com desdém: e daí, não sou coveiro; que se dirige à sua colega de parlamento, afirmando indelicadamente: não lhe estupro porque você é feia; que à indagação de jornalista vocifera: cala a boca; que cinicamente se diz contra a corrupção, mas afirmou: eu sonego, eu sonego tudo o que puder; que insensivelmente diz ter tido 4 filhos homens e que num descuido nasceu-lhe uma filha, numa misoginia odienta e cruel! Que transparece ter algum drama psicológico com sua sexualidade face ao ódio que nutre pelos homossexuais; que afirma, destituído de qualquer sentimento paterno, que rejeitaria um filho caso descobrisse ser o mesmo, um homossexual; que estende seu ódio ao negro, afirmando de maneira grotesca que em visita a um quilombo, constatou que todos os negros são preguiçosos tanto que o mais leve pesava 7 arroubas (medida para pesar gado), não fazem nada! Que  galgando a posição máxima de mandatário da Nação Brasileira, assina, como seu primeiro ato, indecorosa lei, liberando a compra de armas, num país violento face à diferença social; que durante seus 28 anos, enquanto Deputado Federal, sequer, apresentou um único projeto; que diz num comício vamos metralhar dez mil petralhas aqui no Pará; que monstruosamente põe-se a favor da tortura, crime inaceitável para todos os países signatários dos Direitos Humanos; que trai sua promessa de candidato, aliando-se despudoradamente a políticos que ele mesmo julgava-os indignos de sua convivência; que dificultou a indispensável vacinação contra o maldito vírus da Covid-19, procedimento há 300 anos entendido, universalmente, como a melhor maneira de prevenir as pandemias; que utiliza a desgastada teoria macartiana do perigo do Comunismo, para desgastar as esquerdas, quando até a China se volta para o Capitalismo.

Por tudo isso, indago-me, como um cristão pode defendê-lo? Aceito, sem o menor laivo de rancor, desprezo ou ódio, afirmando minha amizade e respeito às centenas de bolsonaristas que me são caros, uma discussão franca, polida, desinteressada para aclaramento do que julgo um grave erro.

Tenho dentre preciosos amigos, e diletíssimos parentes, criaturas de alta sensibilidade, alguns poetas, outros, líderes religiosos que dogmaticamente aceitam Bolsonaro como a saída para o país. Não os desprezo, por isso, errare humanum est... (Sophronius Eusebius Hieronymus - 347-419) e espero conviver pacificamente com todos eles.

Assim, se o obscurantismo impedir os que têm no Presidente, um ditador de dogmas de fé, de enxergar o que eu enxergo, que sejamos suficientemente maduros para, pelo menos, sabermos defender nossas posições no plano das discussões, sem ódio, com a compaixão, tendo-se como arma, exclusivamente, a Palavra.

Apeguemo-nos à virtude teologal da esperança.

Concordo com Dostoiévski em Recordações da Casa dos Mortos: “o homem que não tiver um anseio ou uma esperança acaba no desespero, virando um monstro”...

Por isso, acredito que gregos e troianos saibam aceitar as posições contrárias, escolhendo o debate livre, tranquilo, verdadeiro, para aclaramento das ideias e que nas próximas eleições, saibamos eleger um humano que soerga este combalido gigante.

Convoco a intelectualidade cearense, os “homens de boa vontade” a aprofundarem-se no estudo desta anomalia política para que possamos, brevemente, juntarmo-nos numa grandiosa ciranda e de mãos dadas dançarmos a dança da paz, do amor ao próximo, da esperança, do engrandecimento deste país.

Post tenebras spero lucem! Como diziam os romanos...

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