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sábado, 30 de maio de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (62º dia)

Diário de uma quarentena (62º dia)
Sentimental demais
Por Arruda Bastos

Nesse sábado, dia 30 de maio de 2020, acordei meio atordoado depois de uma noite conturbada, com muitos pesadelos. A causa de tanta apreensão é o sentimento de que a flexibilização divulgada pelo governo para segunda-feira é um erro e que não foi a melhor decisão, pois considero precipitada, como escrevi na crônica “Devagar com o andor, que o santo é de barro”.

Logo depois de abrir os olhos e me espreguiçar, escutei baixinho os acordes da música “Sentimental Demais” na voz inconfundível Altemar Dutra. O som do celular da minha querida Marcilia aguçou ainda mais meus sentidos fazendo eu escutar o que ela sussurrava: “O Brasil perdeu, vítima da Covid-19, um de seus grandes artistas: o cearense Evaldo Gouveia”.

Confesso que, como fã das suas composições, de início não acreditei. Os grandes clássicos do artista como “Sentimental Demais”, “Brigas”, “O Trovador”, “Que queres tu de mim” e tantos outros, embalaram momentos de grande sentimento na minha vida, principalmente quando muito jovem.

A triste notícia abalou meu coração e me fez procurar nas inspiradas letras das suas músicas a solução para a minha falta de ânimo nos últimos dias. A Covid também não tem dado trégua, afetando muitos amigos e levando a óbito um alvinegro de quatro costados, o que me abalou muito.

Depois do café, fui ao computador para escutar as músicas de maior sucesso de Evaldo Gouveia. Lembrei-me do seu principal parceiro, Jair Amorim, também falecido, e acessei sites dos saudosos cantores Altemar Dutra e Nelson Gonçalves, dois dos grandes intérpretes do protagonista de hoje.

Resolvi, então, depois de me emocionar escutando várias músicas, fazer essa homenagem e trazer para os mais jovens as composições que, agora, eternizam-se. Para os da terceira idade, é a oportunidade de recordar de alguns momentos inesquecíveis, de um passado distante e que não volta mais.
Vou iniciar com “Sentimental demais”: Sentimental eu sou, eu sou demais. Eu sei que sou assim, porque assim ela me faz. As músicas que eu vivo a cantar tem o sabor igual. Por isso é que se diz, como ele é sentimental. Romântico é sonhar. E eu sonho assim, cantando estas canções. Para quem ama igual a mim e quem achar alguém como eu achei, verá que é natural ficar como eu fiquei, cada vez mais sentimental.

Agora vamos cantar “Brigas”, outro grande sucesso: Veja só, que tolice nós dois brigarmos tanto assim. Se depois vamos nós a sorrir, ficar de bem no fim. Para que maltratarmos o amor. O amor não se maltrata, não. Para que, se essa gente o que quer é ver nossa separação. Brigo eu, você briga também, por coisas tão banais. E o amor em momentos assim, morre um pouquinho mais. E ao morrer, então, é que se vê, que quem morreu fui e foi você, pois sem amor, estamos sós, morremos nós.

“Alguém me disse” bate forte na lembrança de muita gente: Alguém me disse que tu andas novamente de novo amor nova paixão toda contente. Conheço bem tuas promessas, outras ouvi iguais a essas. Este teu jeito de enganar, conheço bem. Pouco me importa que te vejam tantas vezes e que tu mudes de paixão todos os meses; Se vais beijar, como eu bem sei fazer sonhar, como eu sonhei, mas sem ter nunca amor igual ao que eu lhe dei.

Finalizando e imaginando a voz de Altemar Dutra, “O trovador”: Sonhei que eu era um dia um trovador dos velhos tempos que não voltam mais. Cantava, assim, a toda hora as mais lindas modinhas de meu tempo de outrora. Sinhá mocinha de olhar fugaz se encantava com meus versos de rapaz. Qual seresteiro ou menestrel do amor a suspirar sob os balcões em flor na noite antiga do meu Rio. Pelas ruas do Rio eu passava a cantar novas trovas em provas de amor ao luar e via então de um lampião de gás, na janela a flor mais bela em tristes ais.

Para concluir, deixo o meu sentimento para a família e para os fãs do Evaldo Gouveia e, em seu nome, vai a minha solidariedade para os familiares e amigos das mais de 26 mil vítimas e as mais de 400 mil pessoas infectadas pelo Coronavírus em todo o Brasil. Que Deus proteja e conforte a todos.

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Essa foi a do dia 62. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – SOBRAMES – CE.

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