Dra. Márcia Alcântara |
As dores "rombas" de setembro
Publicado no jornal "O POVO on line" em 27/09/2015
A lembrança de que ele já foi um dos maiores líderes políticos do nosso País nos causa mais estragos
Cabe logo conhecer-se o significado de dor
(Wikipédia): para o lado médico, a dor é uma sensação penosa,
desagradável, produzida pelos estímulos internos ou externos de
terminações nervosas sensíveis a esses fatores. Podem ser de vários
tipos: intensas, agudas, crônicas; em vários componentes do nosso corpo,
como a dor de cabeça. Por outro lado, existe a dor da alma, causada por
sentimentos de perdas, danos, desgraças, mágoas, decepções,
desaparecimento de sonhos idealizados e muito mais.
A
dor que chamei de “romba” é aquela dor disforme que causa extremo
mal-estar como se um rombo, de fato, tivesse sido feito na nossa alma:
nossa essência se desfigura, os sonhos se esvaem e fica esse “enorme
buraco” detonador de rumos que propusemos, um dia, para as nossas vidas.
Foram três as principais dores “rombas” que se abateram sobre os
brasileiros nesse setembro de 2016, abalando a estrutura emocional da
imensa maioria deles.
A essência de cada um de nós foi
trespassada primeiramente pelo show midiático promovido pelo grupo de
procuradores da “Lava Jato”, operação que se desenrola para a
moralização do Poder Público, apoiada pela maioria da população
brasileira e que, segundo os resultados das investigações, esse poder
está contaminado pela propinocracia e, portanto, está mergulhado até o
pescoço em corrupção. A dor romba foi disparada na hora em que foi dito
em rede nacional e internacional, que o ex-presidente Lula era o
“comandante máximo” do petrolão, “artífice da propinocracia”, “maestro
da orquestra criminosa”.
Revendo: Lula representou para os
brasileiros a esperança de uma vida melhor, num Brasil que até então
tinha sua política dedicada às classes sociais elevadas. Seu primeiro
governo foi de resultados. O povo o admirou, confiou e viveu dias
melhores, ganhou dos brasileiros o apoio e louvor irrestritos,
reelegeu-se. No governo de sua sucessora, tudo ia bem até o
desmoronamento de tal estrutura política. A demonstração didática dos
procuradores atingiu Lula e o povo sofreu a intensa dor da desilusão,
mas só nos convenceu de que Lula faltou com a ética e prevaricou,
estabelecendo uma relação promíscua com empreiteiras quando desejou ter
um tríplex em Guarujá.
A dor romba se formou e ficou. A
segunda foi a contestação melancólica do ex-presidente que, cheio de
emoção, tentou nos convencer de que é inocente e está a catar picuinhas
para se ver livre das acusações e de ser preso como seus pares. A
lembrança de que ele já foi um dos maiores líderes políticos do nosso
País nos causa mais estragos.
Finalmente o “Velho Chico”
tragou, num turbilhão de correnteza, o grande ator global que deixou
esposa, filhos, um legado de arte novelística e seus fãs atingidos por
mais uma dor romba nesse setembro de dores. As reflexões são necessárias
agora.
Márcia Alcântara Holanda
pulmocentermar@gmail.com
Médica pneumologista; membro da Academia Cearense de Medicina
Médica pneumologista; membro da Academia Cearense de Medicina
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