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terça-feira, 9 de agosto de 2016

POR: SEBASTIÃO DIÓGENES - ESTÓRIA COM FINAL FELIZ


Dr. Sebastião Diógenes - Tesoureiro da Sobrames-CE
                                        Estória com final feliz 
                    

                                       Para o amigo Dr. Luiz Porto                          

            Ela submeteu-se a mastectomia radical com esvaziamento axilar. O câncer estava avançado, e teve de fazer quimioterapia. Passou meses com o cateter na subclávia, aquele incômodo necessário! Felizmente não havia metástases à distância, e a enfermidade foi controlada.

            Ainda deprimida com a doença que lhe sacrificara a mama, ela sofreu outro golpe, esse abominável porque covarde e desumano. Havia seis meses da cirurgia e o marido a surpreendeu em sua nudez, enquanto se vestia. Dessa maneira, viu, pela vez primeira, na intimidade do lar, a mulher mutilada. Aproximou-se da mãe de seus filhos e sem nenhuma consideração desferiu, com a voz repulsiva dos hedonistas, a frase que selaria o destino de suas vidas.

             - Não gostei do que vi!

             - E eu do que ouvi! – respondeu a briosa senhora com altivez, que só Deus sabe como a paciente tanto fragilizada havia conseguido preservar o sentimento de nobreza.

            Foi o último diálogo entre o casal.

            Após meses de sofrimento, ela renasceu para a vida. A ferida do corpo fora reparada pela cirurgia plástica. Ainda tem gente que diz que o médico não tem parte com o Salvador! A da alma, a dolorosa chaga invisível, havia sido curada com o amor de Rôla, o namorado no tempo de adolescentes, cujo patronímico do rapaz fora a pedra de tropeço no caminho do altar.

            Ignorância do velho Zamor, pai da moça. Confidenciava aos amigos que não suportaria acolher ave com o significado ordinário do vulgo linguajar, em firmas de sua descendência. Foi essa rudeza de raciocínio que contrariou o matrimônio da filha com o jovem de respeitável genealogia.

            O tempo, contudo, faz as pessoas mudarem os conceitos, geralmente para melhor. Isso, por ventura, aconteceu com o velho Zamor. Com a sua bênção, a filha revivificada casou-se com Rôla em uma festiva cerimônia cristã. As bodas foram celebradas no conchego do sítio Cacimba da Onça, bem ali, perto da cidade Vozão.

            Enquanto desfrutava do vinho, o patriarca fazia graça ao microfone, e declarou que muito lhe contentaria ver mais um neto na família Zamor.

- Desta vez, minha gente, um Rôla, com licença da palavra! – completou o orador, cioso com a maneira de falar.

Todos riram da fraqueza do macróbio arrependido. Somente ele não se dava conta que a estação fecunda já havia passado.

Sebastião Diógenes

04 de agosto de 2016.

           

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