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terça-feira, 24 de março de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (4º dia)

Por Arruda Bastos
Vão-se as barbas e ficam os dedos 

Hoje, no quarto dia de quarentena, logo depois de fazer minhas tarefas de todos os dias, no momento destinado à leitura deparei-me com textos que abordavam a maior facilidade da transmissão do Coronavírus em gotículas depositadas nos pêlos das barbas e na possibilidade das mais volumosas prejudicarem a boa vedação das máscaras de proteção.
A notícia, de inicio, pareceu que tinha nexo, entretanto, como estamos no mundo das fake news, procurei na internet, em sites confiáveis, a confirmação. Encontrei, inicialmente, a informação que algumas personalidades do esporte e da TV tinham raspado suas tradicionais barbas. Felipe Andreoli, apresentador do Globo Esporte, foi um dos primeiros.
Após Felipe Andreoli e Danilo Gentilli, o repórter Lucas Strabko e o jogador de da seleção de vôlei Wallace seguiram o exemplo. Com tanto incentivo, decidi tirar a minha também, mesmo sabendo do sacrifício, e depois de passar aproximadamente 45 anos de cultivo constante. De pretinha, de uns anos para cá passou a ficar como neve e até me ajudou a encenar Papai Noel para os meus netinhos anos atrás.
De acordo com estudo elaborado pelo Centro para o Controle e Prevenção de Doenças (CDC), nos Estados Unidos, não é aconselhável que homens mantenham a barba durante a pandemia de Coronavírus. Os pêlos, ao contrário do que muitos pensam, não ajudam a evitar a doença, mas sim aumentam o risco da transmissão.
Depois de toda essa pesquisa, fui comunicar minha decisão à Marcilia. Ela, de inicio, ficou incrédula, pois quase nunca tinha me visto sem bigode e barba, só por poucos anos. Quando expliquei os motivos, ela apoiou e contou, sorrindo, uma historia da sua infância quando o pai tirou o bigode sem avisar e ela e suas irmãs quase não pararam de rir com a diferença que ficou.
O difícil agora era encontrar um barbeador, pincel e creme de barbear, pois, como falei, não utilizava há quase meio século referidos apetrechos. Até hoje eu fazia a manutenção da minha barba com o Igor, na barbearia Vip. Depois de muito procurar, achei um sabonete líquido de boa procedência e um prestobarba. Como era um fato histórico, a minha veia de artista falou mais alto e solicitei fotos e vídeos do antes e depois.
Na gravação do vídeo inicial, justifiquei a decisão e comuniquei que faria barba e bigode. Entretanto, com o desenrolar do féretro da minha linda barba já bem no finzinho, fiquei na dúvida se parava por aí ao olhar para aquele bigode de tanta história, muitos beijos e estripulias. Respirei fundo e não tive coragem. Talvez, com o passar dos dias, eu cometa esse desatino.
Para aqueles que não são da área da saúde e decidirem manter a sua barba, tenham um cuidado todo especial, lavem bastante, com água e sabão, e depois mantenha bem sequinha e sempre aparada. Para os médicos e outros profissionais da saúde, digo que o seguro morreu de velho e é melhor não facilitar.
Fico agora aguardando os comentários do vídeo que vou postar conjuntamente com a crônica de hoje.
Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Este foi o dia nº 4. #FiquemEmCasa
Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES-CE).
quarentena quarto dia

POR ISAAC FURTADO: SILÊNCIO

            
           SILÊNCIO

Estou aprendendo com o silêncio.
A ouvi-lo, senti-lo no ar,
o seu som assustador e vazio.
Mas, antes do silêncio escutava sapos.
Muitos deles em sinfonia no parque.
Os grilos escondidos no seu ofício.
Os Três-potes estridentes.
Os reticentes Bem-ti-vis da tarde.
Mas, dentre todos esses penosos,
nenhum, nada é mais meloso
e sereno do que o Sabiá afinado,
com o seu doce e arrastado canto.

Mas, voltemos ao silêncio.
Ao ensurdecedor silêncio do medo.
Da calmaria no oceano sem vento.
Silêncio da noite sem lua, ou intento.
Sim, no escuro também há silêncio.
O silêncio perdido do desconhecido,
do passado imperfeito de ontem,
do futuro pretérito interrompido.
E da morte? Ah! Silêncio maior não há.
Um pranto mudo não merecido.
É tanto silêncio, que uma folha seca
caindo no chão soa como um grito.

E as crianças? Se estão em silêncio,
boa coisa não estão fazendo.
Do idoso, o silêncio do esquecimento.
O silêncio engasgado do pecador,
no momento da última confissão.
De uma segunda-feira igual ao domingo.
Do freio de um ônibus quase vazio.
Da quadra de futebol proibida.
Do cachorro latindo distante.
Das ruas quase desertas.
Há silêncio por todo canto,
por toda parte um espanto.

Mas, e se eu soubesse do amanhã?
Se eu iluminasse a noite escura?
Soprando as velas dos jangadeiros?
Ou, mesmo se nada eu fizesse,
ainda assim haveria um silêncio.
O silêncio da ignorância,
da pergunta sem resposta.
O silêncio velado do amor,
ou da tímida inocência.
Do abraço amputado
e do beijo estalado?
Nem se fala!

Que o silêncio se transforme em oração,
não o resultado de um castigo divino.
Num momento forçado para reflexão.
Ou num pedido desesperado de Gaia.
O silêncio de toda uma nação,
de um planeta ajoelhado
em comunhão, que implora uníssono:

Não saia!

Amanhã eu te conto
e quebro esse silêncio
que esmaga o meu peito.
Amanhã, ou mês que vem.


segunda-feira, 23 de março de 2020

Por Tiago Studart Sindeaux: SENTIDO

Dr.Tiago Studart Sindeaux - Membro da Sobrames-CE
Sentido

O amanhã desafinado 
Fez ao hoje seu pedido
Não será mais enrascado 
Escapar deste inimigo   

É deixar tudo fechado
Garantindo o mundo unido
"Fica em casa" consumado 
Quarentena se cumprindo

Se sentir bem apertado 
Não se veja desistindo
Tudo passa é o recado

Se tão duro é o destino
Senhor Deus seja Louvado 
Só em Ti fará sentido 

Tiago Studart Sindeaux
23/03/2020

POR SEBASTIÃO DIÓGENES: Coronavírus

Dr. Sebastião Diógenes: Membro da Sobrames-CE


                   Coronavírus
       Estamos no tempo da pandemia causada pelo coronavírus, virose respiratória originada na China. O Covid-19 gosta de fazer suas vítimas pelos pulmões, principalmente de idosos e de pessoas portadores de comorbidades. Estou classificado no primeiro grupo, o dos velhinhos, mais vulneráveis à patogenicidade do vírus. Trata-se de uma tragédia.
Faz uma semana que iniciamos a quarentena domiciliar, consoante às determinações do Ministério da Saúde. Encontramo-nos, eu e minha  mulher,  confinados em um apartamento de 200 metros quadrados, onde filhos e netos não põem os pés. Não é a quarentena original de quarenta dias. Ah, se fosse! É o isolamento cruel que terá a duração de três a quatro meses. Estamos conscientes do sacrifício. Confiamos na pesquisa científica e nos estudos epidemiológicos. E em Deus, é claro!
Quanto ao tempo ocioso, que jamais fora tão vasto, preencho-o com as leituras e releituras de clássicos. Reencontrei-me, nesta primeira semana, com Machado de Assis e Lima Barreto, ambos geniais. Estou conhecendo a “Servidão humana” de Somerset Maugham (presente do PHS Leão).  Quando a vista cansa com as letras miúdas, entram na parada do ócio os bons filmes do passado e do presente. Já assistimos ao memorável  “Doutor Jivago”. Na lista de espera encontram-se “E vento levou”, “Ben-Hur” e outros.
Para mim, uma boa maneira de ocupar o tempo tem sido o hábito de escrever. Qualquer coisa serve!  O diabo da pandemia, digo melhor, o isolamento por ela imposto, tem me despertado a memória com as recordações do meu passado nosológico. Sarampo foi a minha primeira experiência dolorosa de quarentena. Longe de casa, a segregação me marcou a alma de forma indelével.  O lado positivo daquele martírio na infância me rendeu, por esses dias, a produção de um texto. Publicá-lo-ei na Antologia da Sobrames 2020. Desculpem-me a mesóclise. É que o futuro do presente repugna a ênclise. Dessa forma, justificam os gramáticos.
Abraço a todos.
Sebastião Diógenes.
20-03-20


A conselheira do Jornal do Médico®, e vice-presidente da Sobrames-CE, Dra. Ana Margarida Arruda Rosemberg, esclarece sobre os cuidados contra o COVID-19.

💻 *Assista e Compartilhe* https://youtu.be/TWlPp9fVxM

*Previna-se, esse cuidado é de todos!*


Campanha do Jornal do Médico®️ contra o coronavírus, traz o vídeo do ex-secretário de saúde, professor universitário e presidente da Sobrames Ceará, Dr. Arruda Bastos, esclarecendo sobre a pandemia 

💻 *Assista e Compartilhe* 

🙅🏼‍♂🦠❌ *coronavirus*

*Previna-se, esse cuidado é de todos!*

Diário de uma quarentena (3º dia)


Por Arruda Bastos
Depois da tempestade vem a bonança

Não é mesmo fácil levar esses dias de quarentena. Qualquer espirro ou tosse já é uma preocupação. As notícias também não ajudam muito e a preocupação só aumenta dia a dia. Mesmo assim, temos que levantar a poeira e dar a volta por cima e levar a cabo nossas tarefas diárias, pois, assim, conservamos um pouco de saúde física e mental.
Aqui em casa, a preocupação é dobrada. São seis médicos, contando comigo, duas filhas, um filho e dois genros. Uma parte deles envolvida diretamente na guerra conta o Coronavírus. Eu, por outro lado, e por pertencer ao grupo de risco, estou de quarentena, tentando fazer a minha parte que é continuar a orientar o maior número de pessoas.
Minha filha caçula e seu esposo, ambos advogados, também estão de quarentena em home office. Minha nora, tratando de entreter minha netinha mais nova, também está na paz do seu lar. Seu marido, meu filho mais velho, tem dado sua contribuição como médico contra a pandemia. Ainda, tenho uma filha grávida que também se ocupa de distrair meu netinho, que agora começou a falar, fazendo o seu papel de isolamento social. Seu marido, também médico, tem se doado muito nessa luta. Há ainda meus dois netos um pouco mais velhos, de 7 e 5 anos, com minha outra filha, que faz de tudo para entretê-los enquanto o marido, meu genro, vai corajosamente para o plantão.
Digo que tenho duas preocupações: uma com a Covid-19 e a outra com o cuidado com o psicológico nesse momento de tamanha dificuldade. Temos que ser fortes para enfrentar juntos tudo que ainda há por vir. Não podemos nos deixar abater pela tristeza e desesperança. Desde pequeno, tenho na memória um chavão antigo que minha saudosa mãe dizia “depois da tempestade vem a bonança”.
Como sei que muitos nesse momento não estão interessados em ler textos que não dizem respeito ao Coronavírus, resolvi no dia de hoje gravar um vídeo de orientação de como passar pelo isolamento social mantendo o corpo e a mente em atividade. A produção e o astro principal, como não poderia deixar de ser, foi este escritor. Para minha surpresa, Marcilia se revelou uma exímia diretora e camerawoman.
No que avancei também, e aconselho a todos, foi na definição de um horário para as chamadas de vídeo para grupos de familiares ou amigos. O resultado é muito bom quando olhamos nos rostos das pessoas que amamos e não só ficamos nas letras frias das mensagens e na voz sem calor dos olhos e lábios a falar. Experimente você também!
Continuo recebendo muitas mensagens pelas redes sociais sugerindo novas atividades. Hoje, com minha performance de Hollywood, não vai ser possível avançar. Nos próximos dias, prometo que vou incrementar e realizar a excursão proposta para fazer pelo apartamento a oficina de organizar as roupas dos armários e gavetas.
Gostaria de ter ficado na linha de frente, como sempre estive na minha vida, mas, infelizmente, como faço parte do grupo de risco com 65 anos e algumas comorbidades, não foi possível. Estou contribuindo na retaguarda e na medida das minhas possibilidades. Se for convocado, não tenha dúvida que entrarei na guerra. Enquanto isso, nossos jovens guerreiros estão na trincheira por nós, e nós estamos em casa por eles.
Fico agora aguardando os comentários do vídeo que vou postar conjuntamente com a crônica de hoje.
Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Este foi o dia nº 3. 

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES-CE).