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quarta-feira, 1 de maio de 2013

POR: CELINA CÔRTE - SOLIDÃO

Dra. Celina Côrte Pinheiro - Médica e Presidente da SOBRAMES-CE
 
SOLIDÃO
Primeiro lugar no gênero Prosa, no concurso Edith Braga, promovido pela AJEB em 2012. Premiação feita por ocasião do lançamento do 7º volume da coletânea POLICROMIAS, da AJEB, em 23/04/2013.


        Vida solitária, inundada por lembranças do passado.  Depressão. Quem sabe devesse se casar novamente... Celeste, a esposa, morrera jovem. Em seu lugar, apenas um enorme vazio. Não haviam tido filhos e não fosse a velha empregada que permanecera na casa, Afrânio estaria completamente só. Nenhum vizinho ou amigo, sequer um animal de estimação...
           Naquela noite, foi impelido a se arrumar um pouco. Vestiu o terno mofado pelo tempo de guardado, escolheu uma entre as poucas gravatas, retirou o chapéu de massa da caixa e se encaminhou até o pequeno espelho do banheiro. Penteou-se, perfumou o rosto e o pescoço com colônia de aroma já despedido, ajeitou o chapéu na cabeça e saiu. A empregada estranhou que o patrão partisse sem jantar. “Deixa pra lá... Coisa de velho! Mais tarde, ele come...” – pensou. Era discreta. Não se intrometia na vida de patrão.
        Na rua, Afrânio olhou para o céu e viu a lua muito redonda, brilhante. Pensando bem, há tanto tempo não olhava para outra direção. Nem para dentro de si mesmo... Encantou-se com a esplendorosa lua parecendo solta no espaço. Sentiu-se seduzido pelo brilho e a liberdade. Tentou aproximar-se dela e caminhou em sua direção, desatento ao resto do mundo. Por mais que tentasse, a distância entre os dois parecia não mudar. Mas ele insistia, insistia... Subiu ruas, desceu ladeiras, atravessou montanhas e rios. Interrompeu sua busca apenas no dia seguinte quando a lua desapareceu. Mas já se apaixonara e ali permaneceu até a noite quando ela voltou para brincar com ele. Brincaram tanto que ele, cansado, virou estrela...

segunda-feira, 29 de abril de 2013

POR: VICENTE ALENCAR - SENTIR SAUDADE


Vicente Alencar - Jornalista e Diretor de Cultura e Divulgação da SOBRAMES-CE

SENTIR SAUDADE

Sentir saudade
é ficar longe estando perto.
Sentir saudade
é perceber o coração apertado
Sentir saudade
é ouvir sem companhia a hora do "angelus"
Sentir saudade
é ver o por do sol sozinho
Sentir saudade
é um estado de espírito.

POR: FRANCISCO ANTÔNIO TOMAZ RAMOS - ANGÚSTIA

Dr. Francisco Antônio Tomaz Ramos - Médico e Vice-presidente da SOBRAMES-CE
                       ANGÚSTIA
Vamos, meu pai, segure na minha mão
Converse, como fez comigo outrora,
Caminhe ao meu lado pela vida afora
Para minimizar esta solidão

Chame o sacerdote, meu prezado irmão:
Vamos escutar uma prece agora
porque preciso, nesta justa hora,
Tirar de minha mente tanta opressão.

Com o tempo, tudo na vida passa;
mas preciso de sua companhia
prá não pensar apenas em desgraça.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

POR: JOÃO DE DEUS PEREIRA DA SILVA - O ARREPENDIMENTO


Dr. João de Deus da Silva - Médico e Membro da SOBRAMES-CE
O ARREPENDIMENTO

Se eu nunca houvesse conhecido
não estaria tão triste, tão sozinho;
este poema não teria em mim despertado
o pranto, ou este não me teria delicado!

Eu sei, tu em mim ainda pensarias
se junto a ti me houvesse desculpado
sobre nossas rusgas d'amor. porque esquecer
que o dia termina ao anoitecer?

Quando a lua do céu ilumina os moribundos
ou quando as estrelas brilhantes estão presentes,
uma emoção, um sentimento tão belo quão profundo

Minh'alma nutre, meu pesar se deixa ir...
Mas a vida do poeta é assim, ou quase sempre,
sonho apenas, pois eu penso só em tí!

segunda-feira, 22 de abril de 2013

POR: RAYMUNDO SILVEIRA - A AULA


Dr. Raymundo Silveira - Médico e Membro da SOBRAMES-CE


                                             A AULA

— Você aí.
— Eu?
— Sim você mesmo que estava cochilando.
— Pois não. Desculpe-me, Professor.
— O que foi que acabei de dizer?
— O senhor falava sobre o idealismo absoluto de Kant e o idealismo fenomênico de Hegel.
— E o senhor não acha isto importante? Prefere se curvar sobre a mesa e fingir que estava dormindo?
— Peço desculpas, Professor, mas o senhor inverteu os postulados dos filósofos alemães. Por isto preferi disfarçar a fim de evitar escutar um equívoco ou vir a ter de cometer a insolência de corrigi-lo.
— O senhor fique de pé e explique para toda a classe qual foi o equívoco que eu cometi.
— Bem, já que o senhor mesmo me constrange a falar aquilo que eu queria evitar, na verdade, o idealismo fenomênico de Kant alcança logicamente o seu vértice metafísico. Em Hegel, ao contrário do que o senhor acabou de afirmar, há toda uma fidelidade aos aspectos históricos do romantismo. Hegel concebe a realidade como uma evolução no sentido do "vir a ser" a qual ele racionaliza elevando a sua proposição a um pretenso status dialético.
Se naquele instante caísse uma pena no chão da sala de aulas se escutaria um estrondo.
— É verdade. Eu me enganei. Quem pede desculpas sou eu. Qual é mesmo o seu nome?
— Manuel da Conceição da Silva Pereira, Professor.
— Manuel, muito obrigado. Mas vou lhe dar um conselho. Cuidado para não reprisar este episódio diante de outros professores. A maioria não é tão tolerante quanto eu. Certamente interpretaria as suas palavras como uma ousadia ou tentativa de humilhação.
— Peço desculpas mais uma vez, Professor, porém quando fui interpelado estava quase dormitando. Só falei porque o senhor assim o ordenou.
— Boa noite e até a próxima aula.
— Senhor Manuel da Conceição da Silva Pereira, já que o senhor é tão sabido, explique para mim e para os seus colegas em que consiste, essencialmente, o pensamento niilista de Schopenhauer e quais as suas próprias reflexões a respeito das idéias dele.
— Não sou tão sabido, Professor. Apenas gosto de ler e não posso evitar que aquilo que incorporo à minha memória e ao meu raciocínio seja apagado no meu cérebro como se fosse um programa de computador passível de ser deletado.
— Dispenso as suas ironias. Responda ao que lhe perguntei.
— Bem, o niilismo – ou pessimismo, como queiram – típico de Schopenhauer poderia ser resumido na seguinte premissa: quem deseja, sofre; quem vive deseja, logo a vida é dor.
— Para o senhor toda a filosofia de Schopenhauer está contida nesta simples sentença?
— Absolutamente não, Professor. Quis apenas ser conciso a fim de não estorvar o bom andamento da aula.
— O senhor não estorva, pelo contrário. Todos estamos ansiosos para ouvir tão sábio filósofo.
— Não sou sábio filósofo, professor, como disse...
— Chega! Fale mais sobre Schopenhauer. O que ele quis dizer quando interrogou: "Por que há simplesmente o ente e não antes o nada?"
— Este pensamento é de Martin Heidegger, Professor, não de Schopenhauer. E, pelo que eu saiba, não se trata exatamente de uma interrogação. Ele quis se referir...
— Basta, seu insolente! Às minhas aulas o senhor não assiste mais. Retire-se agora mesmo da sala de aulas.
— Retiro-me, sim, Professor. Mas não porque o senhor está ordenando, pois não há nenhum artigo no regimento desta escola que me obrigue a cumprir tal determinação. Retiro-me porque, infelizmente, sou obrigado a viver num país onde a educação é tratada com a mesma importância que é dada à coleta do lixo. Retiro-me porque me recuso a desaprender o que aprendi estudando com grande dificuldade enquanto o senhor talvez estivesse a caçar apenas um diploma para tentar ganhar dinheiro com facilidade. Retiro-me, enfim, para evitar que o senhor seja humilhado a cada vez que abre a boca para falar bobagens. Passar bem... “professor”...

domingo, 21 de abril de 2013

POR: VICENTE ALENCAR - SONHOS

Vicente Alencar - Jornalista e Membro da SOBRAMES-CE


SONHOS
 Dorme menina amada,
 sabedora que és,
 amante dos meus desejos.
 Te quero, te quero mais,
 a cada momento.

Dorme menina amada, 
pois teu repouso noturno
acalma minha alma
na certeza que sonhas sorrindo
tanto na noite quente e negra
como na aurora que surge com um novo dia,
mostrando minha atenção,
meu amor por ti,
a cada manhã que chega,
renovando a alegria de viver.

POR: WALTER MIRANDA - O TAMANHO DO AMOR

Dr. Walter Miranda - Médico e Membro da SOBRAMES-CE
O TAMANHO DO AMOR

Meu amor não tem medida
não tem peso
nem tamanho.
A ele não importa o tempo
a distância, a dimensão.
Substantivo,
não requer pronome
nem adjetivo
só se expressa pelo verbo
e na ação,
dialoga com o teu
que dizes ser melhor e maior
pela persistência
pela paciência
pelos perdões
eu digo que tanto faz
e quando dizes que me ama muito
só respondo: amo mais.