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quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

POR SEBASTIÃO DIÓGENES: Causo de consultório – 8

                                                                                                            


                                                           Causo de consultório – 8

            Dr. Guedes da Silveira é engenheiro civil. Estudamos no Ginásio Valdemar Alcântara (Quixadá) e no Colégio Castelo (Fortaleza). Tornamo-nos amigos. Ele foi o construtor da minha casa nas fraldas das dunas, poucos anos depois de formado. Para minha fortuna, prestei-lhe cuidados médicos à família.
            Aqui começa o causo. Era uma tarde de sexta-feira quando Dr. Guedes me ligou informando que o filho Daniel estava chorando com dor no ouvido. Recomendei o uso de analgésico por via oral, que à noite passaria em casa para examinar o menino.
            Ao chegar, por volta da vinte horas, o casal estava jantando. Fui logo dizendo que não se preocupassem, continuassem o jantar, que iria examinar a criança no quarto.
            - Otite média aguda – eu disse.  Precisa tomar antibiótico e pingar gotas no ouvido. E saí para comprar os remédios.
            - Deixe que eu vou comprar os remédios – protestou Guedes da Silveira.
            - Que nada! Terminem o jantar de vocês que retorno já – respondi, procurando tranquilizá-los.
            Ao retornar da farmácia, percebi que havia uma garrafa de whisky sobre a mesa. Fiz de conta que não vira aquela coisa, dirigi-me ao quarto do Daniel, e administrei a medicação.
- Sebastião, você aceita uma dose de whisky? – ofereceu Dr. Guedes, em manifesto estado de gratidão.
- Não podemos demorar – antecipou minha mulher. – Temos um compromisso, vamos a um jantar beneficente.
- Só uma dose – procurou convencer dona Dora, a mãe do pacientezinho.
O dono da casa tornara-se abstêmio, é necessário enfatizar, e às duas horas da madrugada já não suportava o sono e o cansaço.
- Sebastião, aqui está a chave da casa. Quando vocês saírem, ponha a chave por baixo da porta – suplicou o amigo.
- Não é preciso Dr. Guedes, nós já vamos embora – respondeu minha mulher. E dirigindo-se a mim, completou – que coisa feia! ...
Passei-lhe as chaves do carro, sem reclamar da lei, e fomos para nossa casa.
Na sexta-feira seguinte liguei para o amigo Guedes da Silveira, e perguntei como estava passando o menino. Informou-me que o Daniel estava bonzinho, já não se havia queixado de dor, nem apresentado febre.
- Pois, à noite eu passarei em sua casa para fazer a revisão da consulta – disse sem nenhuma intenção diferente da virtude médica.
- Não, não, não é preciso! Daniel já está bom. Muito obrigado! – e desligou o telefone, com bons modos.
Sebastião Diógenes
18 de dezembro 2019.


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