Causo de consultório – 8
Dr. Guedes da Silveira é engenheiro civil. Estudamos no
Ginásio Valdemar Alcântara (Quixadá) e no Colégio Castelo (Fortaleza).
Tornamo-nos amigos. Ele foi o construtor da minha casa nas fraldas das dunas,
poucos anos depois de formado. Para minha fortuna, prestei-lhe cuidados médicos
à família.
Aqui começa o causo. Era uma tarde de sexta-feira quando
Dr. Guedes me ligou informando que o filho Daniel estava chorando com dor no
ouvido. Recomendei o uso de analgésico por via oral, que à noite passaria em
casa para examinar o menino.
Ao chegar, por volta da vinte horas, o casal estava
jantando. Fui logo dizendo que não se preocupassem, continuassem o jantar, que
iria examinar a criança no quarto.
- Otite média aguda – eu disse. Precisa tomar antibiótico e pingar gotas no
ouvido. E saí para comprar os remédios.
- Deixe que eu vou comprar os remédios – protestou Guedes
da Silveira.
- Que nada! Terminem o jantar de vocês que retorno já –
respondi, procurando tranquilizá-los.
Ao retornar da farmácia, percebi que havia uma garrafa de
whisky sobre a mesa. Fiz de conta que
não vira aquela coisa, dirigi-me ao quarto do Daniel, e administrei a
medicação.
-
Sebastião, você aceita uma dose de whisky?
– ofereceu Dr. Guedes, em manifesto estado de gratidão.
-
Não podemos demorar – antecipou minha mulher. – Temos um compromisso, vamos a
um jantar beneficente.
-
Só uma dose – procurou convencer dona Dora, a mãe do pacientezinho.
O
dono da casa tornara-se abstêmio, é necessário enfatizar, e às duas horas da
madrugada já não suportava o sono e o cansaço.
-
Sebastião, aqui está a chave da casa. Quando vocês saírem, ponha a chave por
baixo da porta – suplicou o amigo.
-
Não é preciso Dr. Guedes, nós já vamos embora – respondeu minha mulher. E dirigindo-se
a mim, completou – que coisa feia! ...
Passei-lhe
as chaves do carro, sem reclamar da lei, e fomos para nossa casa.
Na
sexta-feira seguinte liguei para o amigo Guedes da Silveira, e perguntei como
estava passando o menino. Informou-me que o Daniel estava bonzinho, já não se
havia queixado de dor, nem apresentado febre.
-
Pois, à noite eu passarei em sua casa para fazer a revisão da consulta – disse
sem nenhuma intenção diferente da virtude médica.
-
Não, não, não é preciso! Daniel já está bom. Muito obrigado! – e desligou o
telefone, com bons modos.
Sebastião
Diógenes
18
de dezembro 2019.
Nenhum comentário:
Postar um comentário