Causo de consultório – 5
Ele tinha sete anos de idade, e era muito
esperto. Veio à consulta com a mãe, como
ocorre com a maioria das crianças de Fortaleza. O pai estava de plantão no
hospital, e não pôde acompanhá-los. O menino mexia em tudo no consultório, a
mãe contrariava-se. Em determinado momento, ele pegou a caixa de lenços que
estava sobre o equipo e passou a retirá-los e jogar no chão.
-
Não estrague os lenços do Dr. Sebastião, filho!
-
Tem nada não, mãe! É de amostra grátis – argumentou o pequeno paciente ao
observar o nome do laboratório na caixa de lenços.
A mãe ficou muito envergonhada,
repreendeu-o com ar de severidade, e procurou educá-lo naquele momento de
urgência, coisa que não o fizera em sete anos. O pior viria no final da
consulta. Quando lhe entreguei a receita médica, olhou-a com interesse, fixou o
olhar no carimbo e com muita admiração dirigiu-se à mãe:
-
Eta do médico velho, mãe!
- O
que é isso meu filho, Dr. Sebastião ainda é novo. Ele só tem os cabelos
brancos.
-
Não é novo não, mamãe! Olhe o CRM dele!
- E
qual é número do CRM do seu pai? - quis conhecer a lógica do menino sabido.
- É
mais de quinze mil. Não é, mãe?!
- E
qual é a especialidade do seu pai? - perguntei curioso.
-
Hum...diz tu, mãe! - esboçou um riso encabulado, baixou a cabeça e não
pronunciou a palavra.
-
Proctologista - disse a mãe com naturalidade, afagando a cabeça dourada do
filho, como que o conformando de algum desgosto.
Sebastião
Diógenes.
11-12-2015.
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