FAIXA ETÁRIA
Conto premiado em terceiro lugar no XXV Congresso da Sobrames, ocorrido em Recife, no período de
8 a 11 de outubro de 2014.
Ele aprendeu e
adorava a expressão. Useiro e vezeiro, em qualquer oportunidade, utilizava-a
orgulhosamente, na certeza do sucesso, fosse diante de quem fosse. No restaurante
onde trabalhava, quando o cliente lhe perguntava se o pedido feito iria
demorar, ele estufava orgulhosamente o peito, balançava a mão de um lado para o outro e
respondia raciocinando: “Huumm... Pela hora do seu pedido, acredito que demore na faixa etária de meia hora...”. O sorriso de um ou outro cliente
mais erudito aumentava-lhe a confiança para continuar se utilizando da expressão “faixa etária” na certeza de sucesso. Os menos
aquinhoados no vernáculo se impressionavam com aquele palavreado elegante e comentavam
entre si sobre a inteligência daquele moço, tão simples, trabalhando como garçom. Deveria tentar outra profissão na área do Direito ou da Medicina...
Jesuíno ficava feliz com a ideia. Quem sabe!!!
O futuro parecia
lhe sorrir quando conheceu Marilena. O pai, dono de uma farmácia no vilarejo e, além disso, vernaculista e escritor,
poderia ser a alavanca de que necessitava para sair daquele futuro sem emoções como intermediário entre o cliente e o
cozinheiro. Se não fosse pelas gorjetas... Quem sabe a Medicina ou o Direito
poderiam se tornar realidade em sua vida. Até mesmo a Faculdade de Farmácia, com a garantia de um futuro
ainda mais concreto. A paixão foi mútua e ele, entusiasmado, convidou-a para um cinema e depois um
sorvete. Prometeu que antes de nove e meia da noite, ela estaria de volta à sua casa. Jesuíno não queria dar ao futuro sogro (já o via assim) nenhum motivo de
desagrado. A mocinha sorriu confiante e fez a pergunta fatídica:
– A que horas você passará em minha casa? – ela falava tão bem quanto o pai e herdara seus
dotes de escriba. Redação primorosa e elogiada no colégio.
O moço, caprichando na voz e na fala
para impressionar Marilena, respondeu: "Na faixa etária de umas seis..."
Nem teve tempo
para completar a frase. A moça se desenxabiu na hora. Desconversou e disse:
– Não, não! Lembrei-me agora... Um
compromisso inadiável. Fica para outra vez...
Ele ainda quis
dizer alguma coisa mais, contudo Marilena saiu apressada e já quase dobrava a esquina. O moço ficou cismando, cismando,
preocupado. Talvez ela tivesse achado muito cedo ou sua timidez a tivesse feito
recuar diante do convite... Quem sabe, na faixa etária de uma semana, seria o tempo
ideal para voltar a convidá-la.
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Parabéns pelo feito Celina! Prêmio mais do que merecido. Veio engrandecer a Sobrames-CE e todos os seus associados. Que venham mais como este. Um forte abraço, Fátima Azevêdo
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