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segunda-feira, 25 de maio de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (60º dias)


Diário de uma quarentena (60º dias)
Devagar com o andor, que o santo é de barro
Por Arruda Bastos

No último dia 25 de maio de 2020, completei o meu sexagésimo dia de quarentena e as últimas notícias são de leve melhoria dos indicadores de casos novos e de procura de atendimento em hospitais das Operadoras de Plano de Saúde e em alguns equipamentos da saúde pública em nossa Fortaleza.

O governador Camilo Santana tem falado na possibilidade de, a partir de segunda-feira, dia 1° de junho, iniciar um gradativo programa da reabertura da economia no Ceará. O detalhe do plano de flexibilização deve ser divulgado nos próximos dias.

Com essas informações, lembrei-me do ditado popular que diz “devagar com o andor, que o santo é de barro”. O ditado, sem dúvida, cabe como uma luva no momento atual. Para lembrar, destaco: em muitas procissões, as imagens dos santos são carregadas em andores, que são tablados de madeira com duas barras e paralelas, que servem para apoiar nos ombros dos que carregam as imagens.

O ditado tem como moral que tudo na vida precisa ser feito com cuidado e calma, senão o santo pode escorregar, cair e quebrar, pois é feito de barro (louça ou cerâmica). Assim, a expressão "devagar com o andor, que o santo é de barro" passou a ser usada para significar "Calma! Não se apresse, pois a precipitação pode causar problemas." No caso da pandemia, esse cuidado é fundamental.

Continuando no mote de hoje, digo que no início da semana recebi do meu colega e grande amigo Manoel Fonseca uma minuta de uma carta aberta para ser encaminhada ao Governador Camilo Santana. O documento alertava para a necessidade da continuidade do isolamento social por mais algum tempo, pois os números ainda preocupam.

Depois de ler o texto, trocar algumas mensagens e ligar para o Fonseca, resolvi fazer, durante a noite, algumas pequenas mudanças no documento e depois publicar nas redes sociais da Associação Brasileira de Médicas e Médicos pela Democracia do Ceará. Com o alerta do colega, editamos o documento e divulgamos com mais intensidade. A parceria, mais uma vez, deu certo, apesar de parecer no início um pouco capenga.

Para resumir a crônica de hoje, vou copiar e colar a Carta aberta ao Governador com nossas reflexões. Espero que o texto sirva de alerta, pois, como falei anteriormente, “devagar com o andor, pois o santo é de barro”.

“Carta aberta ao Governador Camilo Santana

Sabemos das pressões do setor produtivo sobre nosso governador, Camilo Santana, para a retomada das atividades e término do isolamento social.
Compreendemos a apreensão dos trabalhadores, desempregados e dos que vivem de pequenos negócios, em conseguir recursos para suas famílias, principalmente porque o Governo Bolsonaro põe mil e uma dificuldades para liberar o auxílio emergencial de R$ 600,00 e o crédito para pequenas e médias empresas, aprovados pelo Congresso Nacional.

Entendemos que a epidemia em Fortaleza chegou ao ponto mais alto e parece começar a estabilizar, lentamente, o número de casos e óbitos, chegando-se a um platô. Mas o Ceará, com 35.595 confirmados até este domingo, é o terceiro Estado em letalidade (6,5%), superando a média do Brasil (6,2%), só sobrepujado por Rio de Janeiro, com letalidade de 10,52% e Pernambuco, com letalidade de 7,9%.

Fortaleza, que se apresenta como epicentro da epidemia no Ceará, tem uma letalidade da mesma magnitude de Pernambuco e a expansão de casos e óbitos está ainda acelerada nos bairros da periferia.

O Sistema de Saúde, público e privado, está operando próximo ao limite de sua capacidade de oferta de leitos de UTI e de respiradores mecânicos.

Será preciso manter o isolamento social rígido por mais tempo, até que a curva de crescimento da epidemia comece a cair, permitindo avaliar a oportunidade de abertura programada das atividades econômicas e redução do isolamento social, persistindo os cuidados de proteção, para evitar uma nova onda de casos e óbitos.

Esperamos, sinceramente, que o Sr. Governador análise com sabedoria este quadro preocupante.

Será que não seria uma temeridade, no início da tendência de estabilização de casos e óbitos, afrouxar as medidas de isolamento social?

Fazemos um apelo ao Governador Camilo Santana, para que resista, por um pouco mais de tempo, às pressões e esperamos que a sociedade mantenha seu espirito de solidariedade, compreensão e generosidade, no sentido de salvar mais vidas, particularmente da população de bairros da periferia, onde a epidemia está concentrada agora e em expansão ainda acelerada.

Sr. Governador Camilo Santana, amplie por mais tempo o isolamento social rígido e proteja mais vidas de nosso povo. Que o povo possa, então, se reencontrar, após a quarentena, mais livre, de forma mais segura e sempre com cuidado e proteção.

Nosso apoio e confiança, Sr. Governador Camilo Santana, e que V. Sia. se ilumine para tomar a decisão mais sábia e correta.

Fortaleza, 25 de maio de 2020

Manoel Fonseca é Médico Sanitarista, Especialista em Epidemiologia, Mestre em Saúde Pública, Ex-Secretário de Saúde de Fortaleza

Arruda Bastos é Médico Sanitarista, Oncologista, Gestor em Saúde, Prof. Universitário e Ex-Secretário de Saúde do Estado do Ceará

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Essa foi a do dia 60. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – SOBRAMES – CE.

sexta-feira, 22 de maio de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (57º dia)

Diário de uma quarentena (57º dia)
O Bonner que se cuide
Por Arruda Bastos

Chegamos a 22 de maio de 2020, meu quinquagésimo sétimo dia de quarentena. O governador prolongou o lockdown em Fortaleza até o final do mês. Os números de casos e de óbitos só crescem e a situação continua muito grave. Com isso, reformulei minha agenda para dar vazão às inúmeras tarefas que tenho que cumprir nos próximos dias.

Dentre todas as atribuições, minha especial fascinação é para aquelas que realizo de forma virtual, pela internet, com uso do meu notebook Dell Inspiron. Entre essas atividades estão principalmente as aulas, os meus programas no Facebook, os vídeos no YouTube e as lives no instagram.

A semana foi intensa, e já na segunda, transmiti o meu programa “Encontro Marcado” pelo Facebook com o amigo José Maria Philomeno. Na terça, participei da live do professor Samuel, meu camarada do Crato; na quarta, do programa “Dialogando”, com meu querido vereador Prof. Evaldo Lima, pelo Facebook e Instagram.

Depois, no outro dia, eu e o colega Manuel Fonseca recebemos no “Quinta com Saúde e Democracia”, transmitido pelo Facebook, o Secretário de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Inácio Arruda, e a psicóloga Renata Giaxa. O tema foi psicologia, ciência e covid-19. Todos os programas tiveram grande audiência e participação.

Pensei que na sexta-feira fosse descansar e não marquei nenhuma atividade extra além das três aulas virtuais da Unichristus, entretanto, meu querido primo e Prefeito de Baturité, Assis Arruda, convidou-me para participar de uma videoconferência com os prefeitos do Maciço a fim de discutir o posicionamento frente às dificuldades de viabilizar leitos para o enfrentamento da Covid na região.

Com todas essas atividades e com o meu programa de sábado, “Saúde em Dia”, com o radialista Sérgio Cunha, pelo Facebook, só mesmo com um bom suporte tecnológico para comportar tanta atividade. Somado à digitação das minhas crônicas do “Diário de uma Quarentena” e ao meu programa pela rádio Assunção, de segunda a sexta, meu computador no final de tudo vai ter mais horas de trabalho do que piloto internacional de Boeing tem de voo.

Para todas essas atividades, nos primeiros dias de quarentena, montei um estúdio no meu escritório. Digo que Marcilia, nos primeiros dias, não gostou muito, pois confesso que fiz uma bagunça danada. Foi um tal de troca troca de posição de livros, troféus, quadros, objetos de decoração e até um cabide de roupas que deveria usar diariamente tive que entulhar dentro do quarto.

Com o tempo, e depois dessa bagunça, ela não achava mais nada que procurava e chegou a se queixar de tanta mudança e até mesmo do excesso de programas. Acho que tudo só da boca para fora, pois não perde nenhum e até chega a me orientar quando constata alguma imperfeição. Sei que ela tem orgulho do trabalho que faço nesse momento importante, de fornecer informações verdadeiras para a nossa sociedade.

Meus filhos também são grandes incentivadores e sempre comentam, participam e divulgam os programas. Como prova disso, no dia de ontem recebi alguns equipamentos encaminhados pela minha filha Lilia. Ao desembrulhar, fiquei muito feliz, pois eram voltados para melhorar minha performance de comunicador via internet.

Vou terminando por aqui, vez que logo cedo vou montar os mimos que recebi. Primeiro o suporte para notebook com cooler embutido de cinco níveis e o teclado e mouse sem fio, e depois, instalar o microfone e fone de ouvido. Com todo esse novo arsenal, posso agora até me preparar para as ofertas de contrato na Globo. O Bonner que se cuide.

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Essa foi a do dia 57. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – SOBRAMES – CE.

quarta-feira, 20 de maio de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (56° dia)

Diário de uma quarentena (56° dia)
Sansão, Dalila e Marcilia
Por Arruda Bastos

Hoje, 20 de maio de 2020, no meu quinquagésimo sexto dia de quarentena, logo ao acordar, observei ao olhar no espelho que minha cabeleira estava parecida com a do Doc Brown personagem interpretado pelo ator Christopher Lloyd que no filme da trilogia de ficção científica “De volta para o Futuro”   era o inventor do DeLorean DMC-12 que viajava no tempo.

Não sei o motivo da lembrança do personagem mas acredito ter sido pelo aspecto desarrumado e assanhado como acordei. O fato é que como o espelho Marcilia também notou minha aparência de cientista louco e como não tenho condição de marcar com o meu cabeleireiro Juracy ela mesmo resolveu fazer essa caridade.

Marcilia durante muitos anos cortou o meu cabelo e se a memória não me falta desde que ficamos noivos ela sempre zelosa do visual do seu amado não deixava crescer muito. Depois que conheci o salão do Juracy e com as muitas atribuições da minha amada passei a cortar fora de casa.

Com o trato no cabelo completei a minha sina pois no início do isolamento tirei a barba que mantinha por mais de quarenta anos e agora fiz um verdadeiro desmonte na cabeleira. Até meu projeto de rabo de cavalo foi para o brejo. Só escapou mesmo o bigode que como escrevi na crônica “Vão-se as barbas e ficam os dedos” não tem quem me faça tirar.

Depois do corte do cabelo passei a espirar e a sentir uma certa moleza. Como qualquer alteração a gente pensa logo em covid-19 fiquei ressabiado e para tirar a dúvida resolvi tomar um alegra pois é comum sentir rinite alérgica. O certo é que depois de algumas horas o sintoma melhorou ficando ainda um pouco de desanimo.

Das minhas atividades normais pulei o cooper pelo apartamento e resolvi antecipar minha leitura na rede da varanda. Passei o dia sem muita energia a ponto de dispensar outras atividades da minha rotina. Cheguei até a dormir a tarde coisa que normalmente não faço. Fiquei ativo só mesmo na prova para meus alunos da unichristus já por volta das 18 horas e no programa Dialogando que fiz a convite do meu amigo vereador professor Evaldo Lima.

Depois da live comentando com Marcilia da minha indisposição ela lembrou brincando da história de Sansão e Dalila. Resolvi então fazer uma pesquisa para recordar alguns detalhes dos personagens bíblicos. Encontrei que Sansão significava "homem do sol", que ele era um nazareno dotado de extraordinária força e um dos juízes bíblicos cuja história está descrita no Livro dos Juízes (13-16) e no Novo Testamento (Hebreus 11,32).

Conta-se também que Deus chamou Sansão para libertar o povo de Israel que vivia dominado pelo Filisteus. Eles tinham um medo enorme da força do nazareno e tentavam sem sucesso frequentemente prende-lo. Os governantes filisteus, sabendo da paixão de Sansão pela finisteia Dalila, aliciaram a jovem, com 1100 moedas de prata, a descobrir a origem da força invencível de Sansão.

Dalila conseguiu descobrir o segredo. Este disse-lhe que, se os seus cabelos fossem cortados, a sua força abandoná-lo-ia e ficaria fraco como uma criança. Então quando ele adormeceu teve os seus cabelos cortados. Acordado pela chegada dos Filisteus, Sansão acreditava ainda ter força, mas foi rapidamente dominado pelos soldados, que lhe perfuraram os olhos e o prenderam com algemas de bronze.

A força de Sansão não estava nos cabelos. O fato de Sansão revelar o segredo a Dalila foi o momento para Deus o abandonar. Sansão desperdiçou a sua última chance de realizar um ministério digno do seu chamado. Por isso, Deus retirou a sua bênção, e ele se tornou um homem comum.

Não vou me comparar com Sansão mais com essa lembrança e como seguro morreu de velho eu só volto a cortar o meu cabelo quando tudo passar, o salão do Juracy for reaberto e depois que minhas madeixas crescerem bastante.

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Essa foi a do dia 56. #FiqueEmCasa
Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – SOBRAMES – CE.

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (55º dia)


Diário de uma quarentena (55º dia)
Ensinando o Pai Nosso a vigário
Por Arruda Bastos

Nesse meu quinquagésimo quinto dia de quarentena, depois de muitos dias escutando e rezando, sempre às 15 horas, com Marcilia, pelo instagram, o terço da misericórdia com a Ticiana de Paula da comunidade um Novo Caminho, resolvi como, diz o ditado, ensinar Pai Nosso a vigário e escrever minha crônica de hoje falando da importância da oração e da fé.

No meu isolamento, além das atividades de todos os dias, não pode faltar a mensagem do bispo Fernando às 06 horas da manhã pelo rádio, a missa do Shalom às 07 horas e 15 minutos, a missa do padre Geovane à noite na TV Diário, a missa do Padre Marcelo nos domingos e os terços rezados durante o cooper pelo apartamento de todos os dias.

Sou de uma família católica e cresci dentro das suas normas tradicionais. Minhas irmãs, meus irmãos e eu sempre estudamos em colégios de congregações religiosas. As primeiras sextas-feiras do mês eram sagradas com a confissão na igreja dos Remédios e, a missa nos domingos bem cedinho na Capela do Colégio Juvenal de Carvalho, nunca esqueci.

Digo que a minha formação religiosa tem ajudado muito nesse momento de tamanha dificuldade. A fé em Deus é um importante substrato para acreditarmos na solução de tudo e como diz a música “Vai dar tudo certo”: Se a gente colocar a nossa fé em ação / E confiarmos e orarmos a Deus / Deus ouve e responde, e dá tudo certo.

Para colaborar com aqueles que não são afeitos aos terços, vou ensinar o passo a passo do terço da misericórdia. Experimente. Sei que você e sua família vão gostar. De início, faça o sinal da Santa Cruz: em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém! Depois reze um Pai Nosso, uma Ave Maria e o Credo.

Nas contas do Pai Nosso, reze: Eterno Pai, eu Vos ofereço o Corpo e Sangue, a Alma e Divindade de Vosso diletíssimo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, em expiação dos nossos pecados e do mundo inteiro.

Nas contas das Ave Marias, reze: Pela Sua dolorosa Paixão, tende misericórdia de nós e do mundo inteiro. (10 vezes).

Ao final do terço, reze: Deus Santo, Deus Forte, Deus Imortal, tende piedade de nós e do mundo inteiro. (03 vezes)

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Essa foi a do dia 55. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – SOBRAMES – CE.

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Por: Fátima Azevêdo - PARA UMA QUERIDA E GRANDE AMIGA - Thereza Lúcia Prata de Almeida


PARA UMA QUERIDA E GRANDE AMIGA - Thereza Lúcia Prata de Almeida

Minha querida amiga Celma, meus mais profundos e sinceros sentimentos pela partida de sua irmã Thereza.
Hoje à tarde, dia 17 de maio de 2020, fui tomada de uma tristeza avassaladora e ainda não consegui parar de chorar desde que recebi a notícia que a minha, a nossa querida Tê não poderia mais voltar pra nós. Muito, muito triste. Não tenho palavras. A Tê foi a pessoa mais doce, meiga e delicada que eu conheci em toda a minha vida. Lamento imensamente que a vida corrida de todos nós tenha nos limitado os encontros. Não fosse nossos encontros nos corredores da Faculdade de Medicina da UFC, nosso local de trabalho, ambas docentes e minhas consultas esporádicas com ela, eu a teria encontrado menos ainda. Não me conformo que amigos se encontrem tão pouco nessa dimensão. Não me conformo ter que chorar as perdas e a perda do tempo perdido por não termos nos encontrado como gostaríamos. Vivíamos prometendo nos encontrar. Vivíamos ensaiando nos visitar. Vivíamos combinando um café que nunca virou realidade. Não consigo me conformar por não ter sido mais insistente, mais chata com meus pedidos de encontros com vocês duas. Não me conformo. Deveria ter insistido mais. A última vez que vi a Tê foi qdo peguei uma dermatomicose no dedo, após fazer jardinagem. Fiz fotos da lesão, enviei pra ela, prontamente ela deu o diagnóstico, era uma dermatologista excepcional, mas pediu que eu fosse ao ambulatório para me examinar e fazer a microscopia. Deu positivo e me tratou. Depois perguntou: Fá, era assim que me tratava carinhosamente, eu posso usar suas fotos do dedo, para dar aula, pois estão mostrando a lesão dermatológica com perfeição. E eu respondi: claro que pode, Tê e pode dizer aos nossos alunos, que o dedo é meu. As duas rimos e nos despedimos com um grande e apertado abraço. Prometemos uma à outra, marcar o tal café. Foi essa a última vez que vi minha querida e inesquecível amiga. Tê você ficou me devendo o café. 😢😢😢❤️


Fátima Azevêdo
Médica Geneticista
Prof da FAMED-UFC


domingo, 17 de maio de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (54º dia)


Diário de uma quarentena (54º dia)
O presente que salvou meu dia
Por Arruda Bastos

Hoje, acordei com disposição de fazer uma crônica falando novamente das minhas atividades diárias, uma volta ao passado, pois, no início do isolamento, cheguei a escrever por várias vezes orientando a melhor forma de manter uma agenda diária com muitas atividades.

O check list desse domingo, 17 de maio de 2020, começou cedo com minha caminhada pelo apartamento e rápido banho de sol na varanda. O café da manhã foi antecipado porque logo às 08 horas eu teria uma aula virtual do Mestrado em Ensino na Saúde da Unichristus, que duraria até o meio dia.

Com essas atividades pela manhã, já sabia que no turno da tarde a coisa ia pegar, vez que as outras atividades não poderiam ficar para segunda feira. Depois do almoço, passei a cumprir a parte que me cabe nas tarefas domésticas de todos os dias.

A minha quarentena é muito rígida e aqui em casa, desde 18 de março, não entra ninguém. Eu só saí uma vez para tomar a vacina da gripe, como escrevi na crônica “Uma odisseia na terra dos vírus gigantes”. Estou só com minha amada Marcilia e dividimos todas as obrigações diárias.

Voltando para minhas tarefas, depois de ajudar a lavar os pratos, ler um pouco e preparar uma prova para meus alunos da Medicina, chegou a hora de pegar no pesado com minha obrigação de passar um pano no apartamento, pois limpeza é fundamental nesses dias de pandemia.

Quando já me preparava física e psicologicamente para a academia diária da faxina, Marcilia chegou com um presente bem grande e embalado em papel chamativo. Fiquei surpreso, visto que meu aniversário é em janeiro, o dela em fevereiro e não me lembrava de ter encomendado nada e nem feito compra na internet.

Antes de abrir o pacote, fiquei tentando adivinhar do que se tratava. O que seria aquilo, o que caberia em uma caixa de aproximadamente um metro por quarenta centímetros. Seria alguma peça para ajudar nas minhas lives? Quem sabe uma iluminação ou uma mesa de som?

Para solucionar o dilema, perguntei quem tinha encaminhado e ela falou que foi nossa filha Lilia. Aí foi que fiquei sem saber mesmo o que era, embora minha caçula seja o nosso contato para compras, mercantil e tudo mais que pode ser adquirido de forma virtual.

O jeito mesmo era abrir de uma vez o presente para resolver a ansiedade que já tomava conta do meu ser. Olhei pela fresta do papel e descobri que se tratava de um “Mop Spray”. Digo que, como a maioria de vocês, continuei sem saber o que era aquilo.
Para ajudar, rasguei mais um pouco do papel e vi que era um objeto 3 em 1, com reservatório e que borrifa, limpa e seca, de uso ideal para porcelanato, cerâmicas em geral. As fotos na caixa, para quem não é do ramo, não ajudaram muito.

A solução foi abrir a caixa para retirar a geringonça que ela continha. Foi só assim que descobri se tratar de um objeto com gatilho pulverizador, spray frontal, tudo em microfibra e um recipiente de 460 ml para água ou qualquer produto de limpeza.

Devido a minha ignorância, só depois de montar foi que descobri que se tratava de uma moderna “Vassoura Mop Spray com reservatório”, que nada mais é do que uma moderna forma de limpar a casa e uma verdadeira carta de alforria do rodo, balde e pano. Melhor presente não poderia existir e, embora não esteja recebendo nada por isso, indico para todos vocês.

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Essa foi a do dia 54. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – SOBRAMES – CE.

sábado, 16 de maio de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (53º dia)

Diário de uma quarentena (53º dia)
De médico e louco todo mundo tem um pouco
Por Arruda Bastos

Hoje, sábado, dia 16 de maio de 2020, parei um pouco e percebi que estou chegando aos meus dois meses de quarentena. Infelizmente os números da pandemia continuam subindo apesar de todos os esforços para o cumprimento do lockdown. Nas últimas 24 horas, os casos dispararam e os serviços de saúde estão chegando à exaustão.

Digo que a insistência do presidente de liberar geral o medicamento cloroquina, mesmo com os recentes trabalhos demonstrando sua ineficácia, foi o mote para inspirar minha crônica de hoje, pois lembrei de um ditado popular que diz: de médico e louco todo mundo tem um pouco.

Como os ditos populares normalmente transmitem conhecimentos sobre a vida, que passam de geração em geração na forma de conselhos e advertências, resolvi puxar ainda mais pela memória e escrever sobre eles, que tratam tratando deles que são do cotidiano, do folclore, e até de amor.

Depois do almoço, agora com a colaboração da minha querida Marcilia, comecei a lembrar-me de vários provérbios e ditos populares. Os primeiros que recordei são do meu tempo de infância: “quem tem boca vai a Roma”, “saco vazio não se põe em pé” e “o comer e o coçar a questão é começar”.

Marcilia, lembrando-se do seu tempo de criança, citou: “quando um não quer, dois não brigam”; “um é pouco, dois é bom e três é demais”; “em terra de cego, quem tem um olho é rei; “água mole e pedra dura, tanto bate até que fura” e “quando a esmola é grande o santo desconfia”.

Ainda com Marcilia, listamos outras fiz uma relação que consta: “um exemplo vale mais que mil palavras”; “para um bom entendedor, meia palavra basta”; “de grão em grão, a galinha enche o papo”; “cada macaco no seu galho”; “casa de ferreiro, espeto de pau” e “Deus ajuda quem cedo madruga”.

A sequência da próxima lista é totalmente aleatória e qualquer semelhança com a vida ou fatos reais é mera coincidência: “mente vazia, oficina do diabo”; “o que os olhos não veem, o coração não sente”; “cavalo dado não se olha os dentes”; “ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão”; “o seguro morreu de velho” e “quem canta seus males espanta”.

Quando já estava encerrando, Marcilia lembrou-se de outras: “uma andorinha só não faz verão”; “mentira tem perna curta”; “mais vale um pássaro na mão do que dois voando”; “não adianta chorar o leite derramado”; “águas passadas não movem moinho” e “devagar se chega ao longe”.

A origem desses e de muitos outros ditos populares e provérbios estão presentes no dia a dia dos brasileiros. A permanência dessas expressões, principalmente na linguagem coloquial, revela como uma tradição oral é fundamental para nós, não só como uma forma de se expressar, mas também como matéria de criação, inclusive na literatura.

Para concluir, é melhor eu ficar por aqui, já que pois hoje Marcilia está muito afiada e é capaz de lembrar de muitos outros ditos populares e provérbios e não posso continuar, pois meu tempo já esgotou e tenho que correr para mais uma live.

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Essa foi a do dia 53. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – SOBRAMES – CE.