Os primos e as armas
Sebastião
Diógenes
Alguns primos do Riacho do Sangue, onde fomos criados
juntos, usavam armas, e eu tinha inveja. Minha mãe não permitia aos filhos o
uso de armas, senão da espingarda, que para a caça não havia proibição legal. Fazia-lhe
parte da natureza protetora de mãe, coisa que a gente não compreendia. Dona
Sebastiana nos educava com austeridade, e suas palavras eram irrepreensíveis. Os
seis filhos homens obedeciam religiosamente. Não davam um pio! Já o nosso pai,
a pedagogia dele era diferente, nos educava com atitudes. Pois, jamais usara
arma na cintura.
Aqui não vai nenhum juízo de valor sobre o
porte de arma, que ora se discute. Tenho consciência, apenas, que para nós, os
filhos de dona Sebastiana, o repúdio às armas tem dado certo. Certamente, aí se
encontra a razão do encanto do filósofo do Ipu, que certa vez afirmou, com ares
de sabedoria, que “O Tião tinha tudo para não dar certo”.
Gostaria de ter encerrado este pequeno texto no segundo parágrafo.
Sei, porém, que o leitor, que me privilegia com a leitura, deseja saber sobre o
paradeiro dos primos que usavam armas. Em um misto estado sentimental de
alegria e tristeza, confesso-lhe que hoje tenho o dobro da idade dos saudosos
primos, quando morreram por obra das armas.
Assim,
à luz dos ensinamentos de minha mãe, que viveu 99 anos, agradeço pelos erros
que não cometi!
Sebastião Diógenes.
17-03-2019.