Dr. Sebastião Diógenes - Médico e Tesoureiro da SOBRAMES-CE |
CECÍLIA E BANDEIRA
Comprei duas antologias poéticas de qualidade excepcional:
uma de Cecília Meireles, outra de Manuel Bandeira. Ambas contêm os melhores
poemas escolhidos pelos próprios autores. Magníficos! São lançamentos recentes da Global editora.
Cada livro traz na capa lactescente plastificada a fotografia em preto e branco
desses imortais poetas. Cecília está de perfil, linda e sorrindo, tendo ao
fundo a bela paisagem de um lago contornado por morros, parece-me, a lagoa
Rodrigo de Freitas. Manuel Bandeira também está de perfil, dentuço e sisudo,
com os indefectíveis óculos de armação grossa e preta.
Pois bem,
enquanto estou lendo os livros, guardo-os deitados um sobre o outro - como que
abraçados - na sobra da prateleira da estante superlotada. Parece trocarem afagos,
os livros, com o pudor que os poemas de Cecília reclamam! Irão assumir a digna
posição vertical quando concluir a leitura, coisa de poucos dias. Enquanto isso não ocorre, preocupo-me com os
dois vivendo desse jeito, com liberdades. Por cautela e consideração à grande poetisa,
coloco-a (o volume) sobre o Bandeira, mesmo sabendo que tal providência não
conferiria garantias. Não sei o grau de
amizade que existiu entre eles durante a passagem terrena. Sei que não devo facilitar as coisas na minha
biblioteca, posso ser severamente repreendido por dona Cecília, a quem adoro,
quando nos encontrarmos. Bandeira, não, gênio do erotismo poético, iria achar engraçada essa prosopopeia. Todavia, tenho de
ter os meus cuidados, quero contar com a amizade dos dois, fortuna que carece
de pressa.
Sebastião Diógenes.