Total de visualizações de página

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

POR : FLÁVIO LEITÃO - A VENTURA DE GAMALIELZINHO


Dr. Flávio Leitão - Médico e Membro da Sobrames-CE
A VENTURA DE GAMALIELZINHO

Os Martins do Monte tinham sua origem, como a maioria dos que habitavam aquele requintado bairro, no velho Portugal. E se isso, por um lado, dava-lhes certa superioridade e permitia-lhes uma posição sobranceira, por outro lado, deixava-os meio inibidos. Não se aventuravam muito a perquirir origens. Quem sabe tivessem sido seus ancestrais ‘degredados filhos de Eva’, que o Senhor Rei banira num ato de colérica majestade?
De qualquer modo, ou por pura sorte ou por real mérito, a família toda era respeitada, e não havia desvelada mãe que não tentasse o acasalamento de suas filhas com um dos inúmeros varões dos Martins do Monte. 
A matriarca tinha estranho nome que o pai, rico latifundiário, na paucidade dos seus conhecimentos, lhe dera: Rimada. Chamavam-na, na intimidade, carinhosamente, Da. Rima. Dourava-se, assim, o esdrúxulo nome. O apodo rimava com o lindo rosto, onde expressivos negros olhos separavam um gracioso e arrebitado nariz, a tez morena como se fora misteriosa moura, o todo de mulher que sabe impor sua vontade pela sabedoria e pela coragem: uma senhora! Habitavam um casarão totalmente rodeado por trabalhadas colunas romanas de puro mármore, que o avô trouxera diretamente da Itália e que sustentavam um largo alpendre, onde a meninada toda fazia suas estripulias, sem chegar a quebrar, com indesejável frequência, ricos biscuits.
Para maior pomposidade da casa dos Martins do Monte, o engenheiro a construíra elevando-a do chão, de modo a deixá-la mais alta que todas as outras residências da redondeza, encimada que estava sobre um porão. Destinava-se o mesmo à guarda da desusada parafernália da família e era admitido pelas crianças da região como mal-assombrado.
Dizia-se, em rodas noturnas, de pura charla da meninada, que furtivos vultos de escravos negros, os dorsos nus e reluzentes de suor, passavam esgueirando-se pelas entradas de luz do porão, guardadas por pequenas barras de ferro trabalhado. Não havia por ali menino que não se tivesse quedado diante daquelas entradas, os olhos hipnotizados, à procura de desvendar os mistérios que dela se contavam. Havia até quem jurasse ter ouvido pungidos ais dessas pobres criaturas, após estalidos como o de chicote ferindo rija carne.
Nunca se soube até hoje se verdade ou não! Também nenhum dos meninos se aventurara a adentrar tão soturno porão.
Julho era o mês de férias, e Da. Rima, com a costumeira paciência, fizera as malas da família e partira para a indefectível temporada no sítio da serra. Nada mais merecido prêmio que essa viagem para coroar a labuta diária do Dr. Manoel Augusto, que sofria de sol a sol, nos foros da cidade, em homéricas contendas jurídicas, conhecido que era como um dos melhores causídicos. Não que considerasse o lugar de morada pouco agradável. Longe disso, mas o ar puro da serra, o esmagador domínio do verde, o viço indescritível da punjante flora, tudo era motivo para aquisição de energia, de revigoramento do espírito. Certamente por mera maldade, dizia-se até que o Dr. ‘Manelaugusto’ ansiava por esse período, quando, longe das contendas jurídicas, esquecidos os débitos, adquiria maior vigor sexual. O fato é que voltava toda família numa esfuziante alegria, que ia definhando, lentamente, no correr dos meses, até que novas férias viessem.
A manhã seguinte era uma dessas manhãs frescas de julho. O velho casarão se deixa ver agora, banhado pelo sol de ouro que desenhava, no espaço, fachos tremulantes de luz. Filetes de luz escoavam por dentre as copas orvalhadas das seculares árvores, que, suavemente, emolduravam o pomar.
Face ao primitivismo da cidade, para completar o encanto de tão bucólica manhã, dançavam no ar vaporosas gotículas que emprestavam certo ar de misterioso fog londrino, impedindo que as coisas fossem vistas nas suas plenitudes, em virtude da grumosa atmosfera.
Somava-se a isso inusitado silêncio. É que ficaram no casarão apenas os dois irmãos, Tadeu e Gamaliel. Ficara também Teresa de Jesus, esbelta preta, de largas ancas, sorriso puro e branco como um chumaço de algodão, na beleza estonteante de seus dezoito anos. Senhora de uma macropigia  graciosa e elegante, balouçava sensual, nas passadas despretensiosas da menina mulher. Ficara, segundo ordens maternas, para providenciar o sustento dos dois queridos rebentos que tomavam aulas particulares na tentativa de diminuir a ignorância demonstrada nas notas finais. Deixara-os a mãe com o coração partido.
Apesar do esplendor daquela manhã, Gamaliel acordara com o coração angustiado. Faziam-lhe falta as reclamações constantes da mãe, as refregas relâmpago com os irmãos, dissolvidas sempre com a terrível advertência materna: – Deixa seu pai chegar!
 Nem o brilho da manhã o estimulava a debruçar-se sobre os livros. Olhava indiferente para o pomar, quando percebeu, de soslaio, a passagem fugidia de Maria Teresa para o velho porão.
Aguçou-lhe a curiosidade! O que levaria aquela serviçal da casa a entrar no lugar menos usado da residência?
Desceu célere a escadaria que desaguava ao lado da porta do porão. Entreabriu-a cuidadosamente, evitando o rangido que as cansadas e enferrujadas dobradiças certamente fariam. E a escuridão desfeita parcialmente, de espaço a espaço, pelas entradas de ar e de luz, mal permitia ver, num canto de grossas e pesadas paredes cobertas de mofo, o perfil desnudo de Maria Teresa, displicentemente desfazendo o penteado, numa pose que parecia ter sido roubada de Renoir, quando criou o seu Banhista Ajeitando o Cabelo.
É preciso esclarecer que Gamalielzinho fora iniciado no mundo das artes ainda muito criança, de modo que tinha a mania, considerada esnobe pelos amigos, de o que visse de belo comparar com obras de famosos impressionistas. Assim, não é de se admirar que a nudez de Maria Teresa o tivesse levado a uma discussão do aspecto puramente estético, trazendo-lhe à mente um sem número de famosos pintores clássicos.
Seria de Rubens, de Degas, de Delacroix ou de Cézanne que fora roubada aquela visão?
Lembrou-se do famoso quadro Toilet de Venus. Não, decididamente não! Maria Teresa não era opulenta como a Vênus do famoso Rubens nem branca. Muito pelo contrário, sua cor era mais atraente, porque o negro lhe evocava mistério, a vontade imensa de descobrir o desconhecido, mergulhar nele de olhos fechados e deixar que a escuridão transmitisse, por osmose, todos os seus segredos, os seus mistérios...
De repente, sem saber por que, uma gigantesca onda de voluptuosa concupiscência assomou-lhe o espírito, acelerando-lhe o ritmo cardíaco, aquecendo-lhe a alma toda, impulsionando-o em direção àquele maravilhoso quadro. Percebendo a intromissão, Maria Teresa correu como uma gazela assustada, diante da iminência de ataque de maldoso caçador.
Teriam decorridos minutos, horas, séculos? A verdade é que uma corrida desesperada pelo vasto porão travou-se. Percebeu, agora, Gamalielzinho que Maria Teresa, propositadamente, ora se deixava quase pegar ora se afastava lépida, com uma agilidade ferina, escondendo-se em desabalada carreira nos inúmeros cubículos que o porão possuía.
Pobre Gamaliel! Via dois rijos seios, agredindo a lei da gravidade, apontando insolentes para os céus dois negros mamilos emoldurados por larga auréola de plúmbea cor, largas ancas alternando-se em movimentos rítmicos na sensual corrida e... não poder senti-los junto a seu corpo de adolescente imberbe!
Num esforço supremo que só aos moribundos é dado mostrar no instante último da vida, Gamalielzinho vence a corrida e... finalmente exaustos, os poros excitados, deixaram-se abraçar como nunca tinha Gamaliel abraçado, juntando-se tanto um ao outro que já não eram mais dois, pois que se imiscuíram numa autofagia de doce encanto.
No andar superior, o irmão mais velho, ou porque quisesse mostrar falsa cultura ou porque fosse naturalmente fidalgo, ouvia, numa velha e bolorenta eletrola, uma rapsódia de Paganini. A impureza do som, extraído do cansado disco de cera cheirando a bafio e de combalidas caixas acústicas, o bater cadenciados dos címbalos, o explodir metálico dos pratos e o som estridente dos trompetes e cornetas serviram de marca-passo à cavalgada amorosa de Gamaliel e Maria Teresa.
Os corpos ora flutuavam harmonicamente, como se fossem regidos por invisível maestro, ora passavam a um ritmo tão ativo e rápido, qual o som do piano que agora se sobressaía, ímpar, na grandiloquência de sua beleza musical.
Vezes outras, o tom nasalado dos oboés fazia coro aos gemidos abafados de sua deusa de ébano. É verdade que ele não a queria ver como deusa. Humilde por natureza, Gamaliel achava que a um simples mortal como ele, quando muito, poder-se-ia permitir um relacionamento com uma princesa. Sim, era, sem dúvidas, a dona de tão divinamente esculpido corpo uma princesa africana que viera num desses famigerados navios negreiros.
Talvez o cansaço, talvez mesmo a inebriante sensação de pós-amor fossem responsáveis por sentimentos tão contraditórios que agora lhe açulavam a mente. De um lado, tinha figadal ódio aos que criaram os tais navios; por outro lado, agradecia a Deus, compungido (com os lábios ainda trêmulos de tanto terem sofregamente beijado), o rapto daqueles negros sem o qual não estaria ele vivendo aquele momento.
 Enfim, terminada a sôfrega peleja, cessada a eletrizante coreografia daquele idílico amor, arfantes ainda os desnudos e suarentos corpos expostos, num torpor decorrente do natural esforço e do próprio ambiente de vetustas paredes, tendo como travesseiro os macios pelos de sua princesa, Gamaliel adormeceu num desejo de um sono contínuo, perpetuado até as férias vindouras.

Sociedade Brasileira de Médicos Escritores
Prescrições – Fortaleza: SOBRAMES Regional do Ceará 1994

P.S: APODO = zombaria, mofa, motejo (Novo Dicionário Aurélio);

APODO = 1  dito irônico ou espirituoso; gracejo, chalaça
2  comparação jocosa ou ultrajante
3  denominação picaresca e, por vezes, afrontosa, atribuída a alguém em razão, p.ex., de alguma característica sua, física ou moral; alcunha, apodadura (Dicionário Houaiss)

REUNIÃO ORDINÁRIA DA SOBRAMES-CE 11/01/2016


Aconteceu ontem, dia 11/01/2016, mais uma reunião ordinária da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Sobrames-CE

PAUTA DA REUNIÃO ORDINÁRIA – 11/01/2016
   
1 - Abertura da sessão

2 - Discussões da ata enviada por e-mail (anexo)

3 - Faltas justificadas   Alana Maia - Evento na Cooped , Josemar Argollo - em viagem,  Natanael Charles – em viagem


4 - Comunicações:
    Valor da anuidade 2016
    Associados inadimplentes há três anos
    Processo eleitoral em março 2016
    Antologia 2015 – Livros ainda não pagos pelos autores / Livros ainda não recebidos
    Sugestão palestrante 6º Semeando Cultura
    Sugestão do dia 01/02/2016 para reunião, pois dia 08/02/2016, 2º segunda-feira é carnaval.

5 - Aniversariantes do mês
    04 - Francisco Sérgio Rangel  Pessoa
    05 - Francisco José Costa  Eleutério
    07 - Francisco  Saraiva da Silva Júnior
    17 - Paulo Alexandre Negreiros de Andrade
    20 - Sebastião Diógenes
    24 - João Luiz de Alencar Araripe Falcão
 
6 - Palavra facultada

7 - Leitura de textos

8 - Sorteio livros


segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

POR: ANA MARGARIDA ROSEMBERG - O LOUVRE DE PARIS E SUAS FILIAIS

LOUVRE-ABU DHABI

LOUVRE-LENS
LOUVRE-PARIS


O LOUVRE DE PARIS E SUAS FILIAIS 

                                                    Ana Margarida Arruda Rosemberg

                                                   Publicado no Jornal do Médico, edição 68/2015, pag 7.

O museu do Louvre em Paris, antigo palácio dos reis da França, é uma imensa estrutura em forma da letra “U” e está dividido em três alas: A ala Sully, a leste, que abriga a “Cour Carrée” e a parte mais antiga do palácio; a Ala Richelieu, ao norte, que faz fronteira com a Rue de Rivoli e a Ala Denon, ao sul, que faz fronteira com o Rio Sena.
Em 1988, foi inaugurada a famosa pirâmide de vidro que dá acesso ao museu.  Localizada no pátio central, a referida pirâmide foi uma proposta do presidente François Mitterrand e teve a finalidade de expandir o Louvre. O projeto, que tornou a pirâmide de vidro uma realidade, foi do arquiteto chinês I. M. Pei.
O acervo do Louvre é composto por mais de 380 mil obras de arte. São 35 mil em exibição permanente e distribuídas em oito departamentos, cujas coleções são identificadas por uma cor e todas as salas são numeradas. As coleções do Louvre são: Antiguidades orientais, Antiguidades egípcias, Antiguidades greco-romanas e etruscas, Oriente Mediterrâneo no Império Romano, Arte islâmica, Objetos de arte, Artes gráficas, Esculturas, Pinturas, História do Louvre, Artes da África, Ásia, Oceania e das Américas e Louvre Medieval.
A primeira filial do Louvre (Louvre-Lens) foi inaugurada, em dezembro de 2012, no norte da França (Nord-Pas-de-Calais) na cidade de Lens. O museu de vidro e luz custou mais de 150 milhões de euros e sua arquitetura, obra dos arquitetos japoneses Ryue Nishizawa e Kazuyo Sejima, tem design contemporâneo. É uma arquitetura de abstração. A estrutura de alumínio do museu, com suas paredes totalmente de vidro, absorve o céu do norte da França fazendo com que o museu se torne quase invisível e desapareça no horizonte misturado às nuvens. Este ar de etéreo do Louvre-Lens é uma âncora para seis mil anos de arte.
O museu está situado em um espaço de 200 hectares de uma antiga mina e fica próximo à estação de trem da cidade de Lens, que conta com o expresso TGV. A viagem Paris-Lens leva pouco mais de 1 hora. O imenso parque do museu está em completa sintonia com os 120 metros de comprimento da galeria do tempo (Galerie du temps), onde 250 obras do Louvre são apresentadas em ordem cronológica. Na galeria, as obras de arte explodem, sem fronteiras, ao olhar dos visitantes. Além do clássico quadro de Delacroix “A Liberdade Guiando o Povo”, os visitantes podem apreciar obras primas como: “ A Virgem e o Menino de Sant’Anna” (1513), de Leonardo Da Vinci, “Retrato de Baltasar Castiglione” (1515), de Rafael, e “Retrato de Monsieur Bertin” (1832), de Igres.
As Obras estão expostas em três períodos que vão desde o nascimento da escrita, 3.500 a.C., até meados do século XIX.  São 70 obras da Antiguidade, 45 da Idade Média e 90 da modernidade.  Todas as civilizações estão contempladas. A segunda filial do Louvre será em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos. Sua inauguração estava prevista para 2012-2013, mas foi adiada para 2016. O Louvre-Abu Dhabi, projeto do arquiteto francês Jean Nouvel, fará parte de um gigantesco bairro cultural na ilha de Saadivat junto a outros três museus e um centro de entretenimentos. Obras de arte de artista como: Leonardo Da Vinci, Van Gogh, Claude Monet, Henri Matisse e Andy Washol estarão entre as 300 peças para a inauguração do museu. Entre as obras que farão a viagem da França ao Golfo Pérsico estão: "La Belle Ferronnière", de Leonardo da Vinci, e uma estátua colossal do rei Ramsés II.
                                                       Fortaleza, 23/11/2015

                                            

domingo, 3 de janeiro de 2016

POR: FRANCISCO PESSOA - ANO NOVO NO SERTÃO



Dr. Francisco Pessoa - Médico e Membro da Sobrames-CE
ANO NOVO NO SERTÃO

EM DOIS MIL E DEZESSEIS
FAÇAMOS MAIS UMA PRECE
PRA VER SE DEUS NÃO SE ESQUECE
DE MANDAR CHUVA OUTRA VEZ
O MUGIR DA NOSSA RÊS
JÁ DEIXOU DE SER CANORO
TODA VEZ QUE OUÇO EU CHORO
EU QUERO É OUVIR O CARÃO
ACAUÃ, NÃO QUERO NÃO
MAIS UMA PRECE, EU IMPLORO!

Obs: Carão pássaro bom agouro; Acauã ave de mau agouro
  
PESSOA -  01/01/2016

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

POR: MARTINHO RODRIGUES - SONETO DE NATAL

Dr. Martinho Rodrigues - Médico e Membro da Sobrames-CE


SONETO DE NATAL

Ouviu-se após o mágico instante,

um cântico de paz e de harmonia,


anunciando ao mundo que nascia


Cristo! - o Salvador. Em consoante,


as aves entoaram um prestante

e jubiloso canto de alegria


em regozijo ao Céu, e a estrela guia


apontava o caminho ao caminhante.


Em simples manjedoura, como a mais

humilde criatura, nasce o Rei


dos reis, sem ter outro lugar. Aliás,


passaram dois mil anos, é Natal,

não sei se Cristo achou abrigo... Sei


que o mundo é cada vez mais desigual.


do livro Em Tempo de Poesia

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

POR: CELINA CÔRTE PINHEIRO - GUERRILHA URBANA

Dra. Celina Côrte - Médica e Presidente da Sobrames-CE


GUERRILHA URBANA - artigo publicado no jornal O Povo em 15/12/2015 - Opinião -

Celina Côrte Pinheiro 
Há cerca de duas décadas, o uso das bicicletas passou a ser revigorado nas cidades brasileiras como mais uma possibilidade de exercício. A princípio, grupos organizados circulavam em horários de menor movimento nas ruas e rodovias. Mais recente é o estímulo à prática do ciclismo com vista não apenas ao lazer, mas também à melhoria da mobilidade urbana com preservação ambiental.
Na cidade de Fortaleza, também incluída neste processo de deslocamento com redução de poluentes, construíram-se as ciclofaixas e ciclovias, algumas improvisadas em ruas já estreitas para o tráfego habitual. Distribuídas em vários pontos da Cidade, buscam proteger os adeptos do esporte; contudo, por si só não bastam. Educar é preciso, embora bem mais difícil do que se adequar às tendências da modernidade.
Motoristas e motociclistas devem ter em mente a vulnerabilidade dos ciclistas, respeitando as ciclofaixas e trafegando com menor velocidade, fator inegável na redução de riscos. Por sua vez, os ciclistas devem se acercar de medidas protetivas pessoais. Capacetes, tênis, luzes, campainhas, espelhos retrovisores, luvas e coletes reflexivos são equipamentos mínimos para proteção dos ciclistas e visualização dos mesmos por terceiros. Há atropelamentos decorrentes da quase invisibilidade do ciclista, sobretudo em ruas mal iluminadas.
É simplório demais considerar que os itens de segurança devam ser desprezados para que não ocorra a redução do número de adeptos do ciclismo. A segurança e a educação devem estar atreladas à nova tendência, visando à redução do número de atropelamentos, com ou sem óbito. Quando há vítimas, a repercussão pessoal, social e financeira é bem maior do que se pode aquilatar. 
Caso não ocorra conscientização dos riscos, respeito à vida e mudança de comportamento de todos os envolvidos nesta guerrilha urbana em que não há vencedores, a violência no trânsito tenderá a um incontrolável crescimento. O temor aos acidentes, este, sim, reduzirá o número de praticantes do ciclismo. Medidas adequadas e urgentes devem ser tomadas para coibir o aumento do número de vítimas do trânsito e reduzir a gravidade dos acidentes. A violência no trânsito já se constitui um sério problema de saúde pública e devemos nos esforçar para não torná-la ainda mais grave por omissão em um trânsito caótico, desrespeitoso e agressivo. E os pedestres, como ficarão nesta insana disputa por espaço e poder?


POR: SEBASTIÃO DIÓGENES - CAUSO DE CONSULTÓRIO - 5

Dr. Sebastião Diógenes - Médico e Tesoureiro da Sobrames-CE


Causo de consultório – 5


            Ele tinha sete anos de idade, e era muito esperto.  Veio à consulta com a mãe, como ocorre com a maioria das crianças de Fortaleza. O pai estava de plantão no hospital, e não pôde acompanhá-los. O menino mexia em tudo no consultório, a mãe contrariava-se. Em determinado momento, ele pegou a caixa de lenços que estava sobre o equipo e passou a retirá-los e jogar no chão.

- Não estrague os lenços do Dr. Sebastião, filho!

- Tem nada não, mãe! É de amostra grátis – argumentou o pequeno paciente ao observar o nome do laboratório na caixa de lenços.

         A mãe ficou muito envergonhada, repreendeu-o com ar de severidade, e procurou educá-lo naquele momento de urgência, coisa que não o fizera em sete anos. O pior viria no final da consulta. Quando lhe entreguei a receita médica, olhou-a com interesse, fixou o olhar no carimbo e com muita admiração dirigiu-se à mãe:

- Eta do médico velho, mãe!

- O que é isso meu filho, Dr. Sebastião ainda é novo. Ele só tem os cabelos brancos.

- Não é novo não, mamãe! Olhe o CRM dele!

- E qual é número do CRM do seu pai? - quis conhecer a lógica do menino sabido.

- É mais de quinze mil. Não é, mãe?!

- E qual é a especialidade do seu pai? - perguntei curioso.

- Hum...diz tu, mãe! - esboçou um riso encabulado, baixou a cabeça e não pronunciou a palavra.

- Proctologista - disse a mãe com naturalidade, afagando a cabeça dourada do filho, como que o conformando de algum desgosto.

Sebastião Diógenes.

11-12-2015.