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terça-feira, 7 de maio de 2013

POR: VICENTE ALENCAR - FOLHA DE PAPEL

 
Vicente Alencar - Jornalista e Diretor de Cultura e Divulgação da SOBRAMES-CE
 
FOLHA DE PAPEL

A folha em branco
esperava apenas por mim, 
pelo meu estado de espírito.

Eu estaca tranquilo
e pensava em você.

Olhei as fotos
com muito amor.

Recordei todos os momentos
vividos a dois.

A folha em branco,
de repente, foi tocada.
Começava minha febril
atividade de escrever
para você.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

POR: SÉRGIO MACEDO - FALTAM METADES

 
Dr. Sérgio Macedo - Médico e Membro da SOBRAMES-CE

FALTAM METADES

Faltam metades
Nesse carrossel trôpego.
Metades doces,
O verso em branco,
De alguma página mal escrita.
De algum beijo mal remunerado.

Faltam metades nesses abraços meio soltos,
Nesses sorrisos meio sem graça, de faz de conta.
Nessas vidas meio sem rumo, prumo.

Faltam metades nessas camas
fartas em lençóis e plumas, 
pobres em almas e espanto.

Faltam metades nesses dramas que,
sem solução, se arrastam
como o fel no altiplano.

Faltam metades nessas desculpas mal armadas,
Nessas promessas nunca cumpridas.
Faltam metades nos nossos encontros
A que sempre fui,
Nos desejos que sempre tive,
Nas mágoas que sempre desejei despejar 
no abismo.

* Poesia publicada em POLICROMIAS.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

POR: RAYMUNDO SILVEIRA - A POSSUÍDA


Dr. Raymundo Silveira - Médico e Membro da SOBRAMES-CE
A POSSUÍDA (Conto)

 

“Não importa que não me acreditem, mas só digo a verdade – mesmo quando ela é inverossímil”.

Mário de Sá-Carneiro: A Confissão de Lúcio



 Era casada, a Possuída. Muito bem casada. E não sabia. Eu tampouco sabia que ela não sabia. Decerto a inconsciência da sua situação conjugal, levou-a a se envolver comigo. Paixão recíproca e avassaladora. De súbito, e sem qualquer motivo aparente, me ignorou como se jamais tivesse sequer me conhecido. Só ao comparar o seu comportamento atual com o anterior, e reler as cartas que me escreveu, descobri que estive apaixonado por uma pessoa que nunca existiu antes. Tratava-se de algo que também nem existe mais. Não passava de um clone avariado e desgarrado que se recuperou e reverteu à matriz.


Sentindo-me mais perplexo e curioso do que decepcionado e saudoso, decidi investigar tudo com máxima isenção emocional. Estudar uma doença desconhecida como um pesquisador, dela recém-curado. Fui aos livros. Primeiro, aos científicos. Não encontrando nada pertinente, recorri à literatura fantástica. Três obras me chamaram a atenção: “O Horla”, de Maupassant; “William Wilson”, de Poe; e “O Duplo”, de Dostoievski.


Concluí, em primeiro lugar, que a chamada “verdade” cartesiana não passa de mais uma ilusão; uma religião cuja deusa é uma duvidosa “razão”. Concluí também que a Possuída foi um ogro que devorou um naco apreciável dos meus sentimentos mais profundos, sem que eu e ela nos déssemos conta disso.


Ignoro a que se deve o ato falho que o inconsciente me impingiu ao nomeá-la “Possuída”. Pois em verdade foi ela quem me possuiu. Trago um computador de neurônios que é a minha perdição. Terrível e prodigiosa, a memória quase me destruiu.


Começou com um inocente louvor à sua beleza, ao qual ela reagiu com um sorriso maroto e convidativo. Foi o bastante para a represa arrebentar. Não esqueço um só detalhe. Das alucinantes carícias, à loucura de me vestir com o avesso das suas entranhas mais tenras, macias e aconchegantes, a ponto de imaginar que jamais me desnudaria. Das cavalgadas, ora em choutos, ora em galopes, sob o seu absoluto domínio, às estranhas e inéditas experiências a que me submetia. Como aquele furor de alternâncias entre dois abrigos vizinhos, embora me implorasse para chover no seu rosto. Das palavras divinamente sujas de fêmea inteligente e vadia, aos estremecimentos, quase sincopais, ao me deglutir e regurgitar em ritmo crescente, até me esvaziar literalmente de tudo.


Algumas das suas falas menos obscenas durante os atos de amor, ainda geram calafrios:


“Então, vem… chupa ela bem gostoso…”; “… Delicioso…”; “começa passando a língua, depois morde devagarinho o g…”;  “…assim… me segura pelo quadril, e me chupa até eu gozar na tua boca…”; “enquanto você me chupa, vou subindo e descendo a boca nesse c. tesudo… agora enfio ele até a garganta…”; “agora passa ele pela b. e pelo c. pra sentir tudo o que te espera…  me f. com a língua, vem…”… devagar, porra nenhuma…. tô com gana de você… Mesmo doendo, sentei pra valer… vou remexer tanto, que vai doer mais em você do que em mim…”


É o ponto extremo aonde me atrevo chegar, sem me tornar fescenino, ou correr o risco de desmaiar… Mesmo sabendo que ela não sabe que isto e muito mais coisas aconteceram. Pois Ela não é “Ela”. É uma esposa fiel, como, aliás, sempre foi. Quem fazia e falava aquilo era a metade de uma mulher sem consciência da sua outra metade. Então, me sinto na singularíssima condição de um dissoluto que prevaricava com um fantasma… Para evitar palavras mais contundentes e absurdas, tais como: um estuprador seduzido pela própria vítima que, por sua vez, nunca existiu. Este redemoinho de loucuras me trouxe a mais firme convicção de que o ser humano é uma cratera sem fundo aberta por um meteoro de carne na epiderme do universo.


Capítulo do livro “Contos de Alcova”.


Raymundo Silveira é médico e escritor. É membro da SOBRAMES (Sociedade Brasileira de Médicos Escritores). Em 2010 ganhou o Prêmio Literário Para Autores Cearenses, com o livro de contos e crônicas: “Louca Uma Ova”. Em 2011 recebeu o Prêmio Nacional de Conto e Poesia “Correio das Artes 60 Anos”, promovido pelo governo da Paraíba, com o livro de contos “Lagartas-de-Vidro”. Foi um dos vencedores da Bolsa Funarte de Criação Literária – 2010, com o livro “Medicina Crônica”. E-mail: raysilveira@uol.com.br

POR: VICENTE ALENCAR - MINHA CIDADE

 
Vicente Alencar - Jornalista e Diretor de Cultura e Divulgação da SOBRAMES-CE
MINHA CIDADE

Minha Cidade é meu poema.
É ela que me faz sorrir
quando chega a tristeza
e me deixa louco
quando vejo
que está sendo maltratada.
Minha Fortaleza é meu amor
sem beijos e sem abraços,
mas de intensa magia...

quinta-feira, 2 de maio de 2013

POR: EDGARD STEFFEN - PERDIDO EM ROMA

 
Dr. Edgard Steffen - Médico Pediatra e Escritor

                             e-mail  edgard.steffen@gmail.com       

                            Perdido em Roma

Outro mote a designar grande perda de oportunidade reza "Ir a Roma e não ver o Papa"
Notícia publicada na edição de 23/03/2013 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 2 do caderno A - o conteúdo da edição impressa na internet é atualizado diariamente após as 12h.
Quem tem boca vai a Roma (Aforismo popular)


Este brocardo repetido ad nausean indica que você encontra qualquer endereço, se não tiver vergonha ou preguiça em perguntar. Na internet, versão tenta mudar o sentido. A frase correta seria: "Quem tem boca vaia Roma". Não creio seja verdadeira. Alguns césares como Calígula e Nero mereceriam vaias, mas o antigo Império Romano tem de ser visto, ao lado da Grécia Antiga, como base da Civilização Ocidental. O Cristianismo teria grandes dificuldades na expansão, não fossem a extensão territorial do Império, as estradas construídas para deslocamento das legiões e o beneplácito do Direito Romano.

Outro mote a designar grande perda de oportunidade reza "Ir a Roma e não ver o Papa". Neste mundo moderno, turístico, das viagens facilitadas, quem tem dólares (ou euros) vai a Roma. Ver o Papa já é outra conversa. Leve binóculo. A não ser que Francisco mude o procedimento padrão e desça à Praça de São Pedro, você somente poderá vê-lo muito de longe, na janela de onde saúda fiéis e turistas. Visitar o Vaticano vale a pena. Ao circular pelas igrejas e museus, de muito perto, você poderá ver o que de melhor o Renascimento produziu, tanto em pintura quanto em escultura.

A cidade-estado é um enclave murado dentro de Roma. Com seus 0,44 km e aproximadamente 832 habitantes, é o menor país do mundo tanto em área quanto em população. Fora do enclave, pertencem ao estado eclesiástico o Palácio de Castel Gandolfo e três basílicas (São João de Latrão, Santa Maria Maior e São Paulo Extramuros). Pelo Tratado de Latrão (11/02/1929), o ditador fascista Benito Mussolini reconheceu o Vaticano como estado soberano, independente, neutro, inviolável e sob a autoridade do Papa.

Obelisco egípcio, construído há mais de 4.000 anos, marca o centro da Piazza San Pietro. Calígula trouxe o troféu, do Egito, para marcar o centro do Circus Maximus. Ao pé desse marco, o apóstolo Pedro teria sido crucificado de cabeça para baixo. O Papa Sisto V (1586) mandou colocar o obelisco no centro da Praça. Modificou-o: no globo metálico dourado foram depositados fragmentos do lenho original; no ápice, cruz metálica.

No interior da Basílica de São Pedro a maior do mundo você poderá apreciar a Pietà, esculpida em mármore de Carrara, por Michelangelo. São duas figuras: a Virgem e o Filho. Desde que um louco tentou destruí-la a marteladas, a escultura está protegida por uma caixa de cristal à prova de balas. Se você prestar atenção, perceberá que o genial escultor modificou as proporções das figuras para dar beleza à obra. A Mater Dolorosa está sentada; é muito maior e corpulenta que o Crucificado ao seu colo.

Se reduzíssemos aos tamanhos naturais, Jesus mediria 1,80 m enquanto Maria teria mais de dois metros de estatura. A genialidade do escultor inferiu a tendência a se ter piedade da figura menor. A Madonna face bela apesar do sofrimento parece mais nova que o Filho. Criticado, o escultor teria replicado: "A Mãe de Deus nunca envelhece!". Na Capela Sistina, você terá de entortar o pescoço para apreciar outra obra prima de Michelangelo. Na abóbada, cenas bíblicas pintadas pelo genial artista (que trabalhou deitado).

Na única ocasião em que pude visitar a Europa (1975) quis ver o Moisés de Michelangelo. Andei quilômetros a pé graças a meu precário entendimento da língua italiana. De informação em informação, zanzei muito antes de chegar ao objetivo. Cheguei até a entrar na basílica de Santa Maria Majore. Prova que pela boca se vai a Roma, mas, para não se perder, precisa falar e entender o italiano.

- Fontes: Wickipedia, Admirável Mundo Médico ( A.J.C. Bezerra), César e Cristo (W.Durant).

POR: GERALDO BEZERRA - UMA ESPOSA DESCONFIADA

Dr. Geraldo Bezerra - Médico e Membro da SOBRAMES-CE
                      
                        UMA ESPOSA DESCONFIADA


     O atual muito bem sucedido anestesista um dia já foi um recém-formado, recém-casado, recém-contratado pela Casa de Saúde de determinada pequena cidade cearense. Sua respeitável esposa, hoje doutora em leis, exemplar mãe de família, um dia já foi uma ciumenta jovem recém-casada, sem grandes preocupações ou quifazeres.

     Foi o bastante: sabendo do marido jovem, inteligente, possuidor de razoáveis atrativos físicos e bastante simpático e, ainda mais, médico, numa cidade minúscula no interior do Ceará, aquela jovem senhora danou-se a tirar precipitadas conclusões: “E você vai é namorar, e isto não vai dar certo, e eu estou é sendo besta, e aquelas vagabundas...” etc e muito mais.

     Com o saco muito cheio, mas ainda com uns saldos de paciência, teve o doutor uma idéia:

     - Minha querida, pois vamos passar uma semana lá comigo.

     - E eu vou mesmo, que é para aquelas sirigaitas ficarem sabendo que  você tem dona. E vamos logo!

     O ônibus chegou à cidadezinha umas quatro horas da tarde daquela segunda-feira trazendo uma nova passageira. Desceu meio assustada com a desimportância da cidade, mas seguiu direto para o hospital onde o marido a aguar-dava, ele que viera antes. Enquanto caminhava, (des)apreciando tudo que via, um redemoinho varreu logo ao seu redor, condecorando-a com generosas porções de terra em formato de poeira vermelha. Limpou os olhos e seguiu sob  curiosos olhares que a incomodavam mais que o vento e a poeira. Chegou ao que se convencionara chamar de hospital e encontrou seu marido ocupado em 

consultar vasta multidão, mas não viu ainda as belas mulheres que certamente o atacariam mais tarde (mas iam ver!). O marido a recebeu contente, gentil, mas no íntimo antegozando as inúmeras decepções que sofreria sua bem-amada.

     Terminado o expediente, convidou-a ao banho no apartamentozinho que ocupava no andar superior. Ela detestou o serviço de jogar água no corpo com aquela lata de óleo de cozinha. Terminado o desconfortável banho, desceram para o jantar. A carne de bode estava meio dura e salgada, a farofa e o macarrão muito oleosos e o arroz não vira sal. A Coca-cola teria salvo o momento, se estivesse gelada. Fome maior que a vaidade, depois de saber que não existia restaurante ou pizzaria na cidade, andou comendo seus pedaços de bode conformadamente.

     Subiram ao apartamento já na hora em que o rádio chiava a Ave-Maria. Para jovens recém-casados, tudo é festa, menos uma nuvem de muriçocas que entrem sem bater e todas com seus motores ligados e seus ferrões em riste. Entre tapas e gritos de protesto ia se defendendo das agressivas e barulhentas voadoras, ajudada por possante ventilador, mas, para completar seu infortúnio e aumentar seu desespero, o diabo daquele ventilador era movido a energia elétrica e esta resolveu faltar e faltou. A tudo isto o maridão assistia passivo e mal disfarçando o zombeteiro sorriso. Desesperada, sentou-se na janela, a ver se recebia qualquer migalha de vento, que por sinal se fazia ausência. Melhorou um pouco com a chegada do vento Aracati, mas só conseguiu dormir já bem tarde, quando voltou a funcionar o ventilador, com o retorno da energia.

     Não esperou o sol nascer. Mal quebrou a barra, antes dos primeiros trinados com que a passarinhada costuma saudar o dia que chega ao sertão, aprontou-se e acordou o marido só para dizer-lhe estas palavras:

     - Se tu não tens sentimento, nem acanhamento de trabalhar numa merda desta, é problema teu, mas eu que não fico mais aqui!

     E ele, muito gozador:

          - Mas, minha filha, não vai passar ao menos uns dois ou três dias neste lugar tão bom, segundo suas opiniões?!

     Virou uma arara...

quarta-feira, 1 de maio de 2013

POR: CELINA CÔRTE - SOLIDÃO

Dra. Celina Côrte Pinheiro - Médica e Presidente da SOBRAMES-CE
 
SOLIDÃO
Primeiro lugar no gênero Prosa, no concurso Edith Braga, promovido pela AJEB em 2012. Premiação feita por ocasião do lançamento do 7º volume da coletânea POLICROMIAS, da AJEB, em 23/04/2013.


        Vida solitária, inundada por lembranças do passado.  Depressão. Quem sabe devesse se casar novamente... Celeste, a esposa, morrera jovem. Em seu lugar, apenas um enorme vazio. Não haviam tido filhos e não fosse a velha empregada que permanecera na casa, Afrânio estaria completamente só. Nenhum vizinho ou amigo, sequer um animal de estimação...
           Naquela noite, foi impelido a se arrumar um pouco. Vestiu o terno mofado pelo tempo de guardado, escolheu uma entre as poucas gravatas, retirou o chapéu de massa da caixa e se encaminhou até o pequeno espelho do banheiro. Penteou-se, perfumou o rosto e o pescoço com colônia de aroma já despedido, ajeitou o chapéu na cabeça e saiu. A empregada estranhou que o patrão partisse sem jantar. “Deixa pra lá... Coisa de velho! Mais tarde, ele come...” – pensou. Era discreta. Não se intrometia na vida de patrão.
        Na rua, Afrânio olhou para o céu e viu a lua muito redonda, brilhante. Pensando bem, há tanto tempo não olhava para outra direção. Nem para dentro de si mesmo... Encantou-se com a esplendorosa lua parecendo solta no espaço. Sentiu-se seduzido pelo brilho e a liberdade. Tentou aproximar-se dela e caminhou em sua direção, desatento ao resto do mundo. Por mais que tentasse, a distância entre os dois parecia não mudar. Mas ele insistia, insistia... Subiu ruas, desceu ladeiras, atravessou montanhas e rios. Interrompeu sua busca apenas no dia seguinte quando a lua desapareceu. Mas já se apaixonara e ali permaneceu até a noite quando ela voltou para brincar com ele. Brincaram tanto que ele, cansado, virou estrela...